Banhos iônicos.

Creio nos banhos iônicos.

Eles me fazem bem.

No meu viver me afeiçoei a tomar banho nos oceanos da vida.

E a vida me tem permitido, vadear por muitos mares, rios e lagos…

Dos Oceanos, conheço aquele do meu nascer e viver; o Atlântico.

Considero-me um homem praiano, nascendo, vivendo e morando nas enseadas de Aracaju, junto a costa de Atalaia, mirando as ondas do mar.

Na minha paisagem ao amanhecer, e até no anoitecer, contemplo as ondas do mar, quase encobertas pela vegetação que margeia a “Praia Formosa”.

Digo “Praia Formosa”, porque era assim que se chamava aquela que depois tomou por nome, “Praia 13 de Julho”, em homenagem à “Revolta Tenentista”, que aconteceu nos idos de 1924 em Sergipe.

A praia, vale o registro, ficou imortalizada porque os revoltosos, Capitão Eurípedes Esteves de Lima, Tenentes Augusto Maynard Gomes, João Soarino de Melo e Manoel Messias de Mendonça, depois de rebelarem o 28º Batalhão de Caçadores, sublevando Sargentos, Cabos e Praças, assumiram o comando do Estado, derrubando o Presidente Graccho Cardoso, antes vencendo à bala a resistência da Policia Militar Estadual.

E depois, como o movimento restou vitorioso por algumas dezenas de dias, prepararam-se os revoltosos para a resistência estratégica, prevendo uma eventual invasão das Forças do Governo Central que poderiam surgir via costeira, sendo a então “Praia Formosa”, cenário de resistência bélica, até meados de Agosto, quando as forças do Governo Federal, comandadas pelo General Marçal Nonato, vindas da 6ª Região Militar, sediadas na Bahia, impuseram a ordem, prendendo os revoltosos e repondo o governo deposto.

Hoje, tudo isso é matéria de Historiadores.

Dos relatos de meu pai, Manoel Cabral Machado, em seu livro, “Brava Gente Sergipana e Outros Bravos”, traçando o perfil do Revolucionário Augusto Maynard Gomes, homem que se destacaria mais que os demais, afinal os “IdeaisTenentistas” se fizeram vitoriosos na “Revolução de 1930”, mudando a praia de nome e  heroicizando a data.

Desta revolta de 1924, alguns fatos são narrados, a título mesmo de pilhéria, afinal houve uma resistência interiorana, de um assim chamado, “Batalhão Hercílio Brito”, mobilizado na cidade de Propriá.

Tal batalhão fora uma força improvisada em ordem e armamento.

Seus críticos, dizia-se então, tratar-se de uma força de “cangaceiros”, muito comuns mobilizados na beira do Rio São Francisco.

O fato é que esse grupo partindo de Propriá, chegava pela estrada de rodagem, montados à cavalo, já que os carros-fobicas eram raríssimos nesta época.

Contam, a título de chiste, que foram postos para correr só com um balaço de canhão, o único, desferido pelo Sargento do 28º BC, José vieira de Matos, da cidade de Capela, que os pôs de volta espavoridos pelos apicuns de Marcação, entre Rosário do Catete e a Vila do Carmo.

“Si nos es vero es ben ou trovato”,  cada um dê o seu trato do fato como aconteceu.

Hoje tudo isso está perdido na bruma do tempo que tudo esquece.

Como o país gosta de crises, estamos a viver novos tempos, e tempos de novo, perigosos, com muita gente em fúria, quebrando tudo que lhes não é do agrado, na mesma verve, idêntica revolta contra os políticos, essa gente que nunca aprende a servir à democracia e ao Estado Democrático de Direito.

Mas eu não quero falar de Direitos, porque o meu direito, para uns, é o direito errado, a merecer marteladas de bigorna.

Quero falar de velhice, por que não? De banhos iônicos para nos eximir dos olhos grossos.

E neles, nos olhos grossos, eu creio; não para temê-los, mas porque eles existem, como as bruxas, queiramos ou não, na nossa passagem!

E olhem que eu busco passar “Despercebido, mas não indiferente”, título de meu único livro publicado, eu, que tenho muitos textos perdidos ou expostos, neles me definindo como um Teísta em busca contínua de Fé!

Tudo porque, ser-me-ia assaz difícil, não possuir a , ou permeá-la na indiferença dos acomodados…

Nesse contexto, vale repetir as mesmas palavras ditas por mim nos vencidos anos de 2005, quando eu não pensava ainda em ser o que sou, e que, quase-ancião me tornei, sempre igual; nos mesmos gostos, na mesma prece, acarinhando a mesma mulher, a minha Tereza, e aos filhos e netos, que juntos criamos, e que estamos a conviver, sem indiferença, ainda!

“Porque a indiferença é a ausência do fogo e da luz.

É não ser quente.

É não ser frio.

É o amornar-se no supremo enjôo; o vômito de Deus.

E o vômito de Deus nunca passaria despercebido por definição.

Porque o que enoja um deus, qualquer deus, jamais poderia passar despercebido pelo homem, seu criador ou criatura, por princípio.

Algo de qualquer fé, e até da plena descrença, sem divergências dúvidas.

Porque se na indiferença está o grande vício do homem, sua maior virtude deveria ser o aprender a prosseguir despercebido para sempre”.

Mas, eu preciso voltar aos olhos gordos, e aos banhos iônicos por necessário gozo e descarrego de próprias baterias.

Fui hoje com minha Tereza, andar na Praia de Aruana logo cedo, e ali lembrei de tomar um breve banho marinho.

Houve tempo em que me banhei em diversos mares, repito; o Atlântico, sempre comum, por vizinhança e proximidade, o Pacífico, por distância, e até no Índico, mais exótico, por ali também cheguei.

Dos Mares, molhei os pés no frio Báltico,  contemplando promontórios, do Skagen, na Dinamarca, no outro lado emKattegatt, na Suécia, antes contornando o oeste da Noruega, esquecido que faltei de ir a Islândia, ver-lhe os gêisers, que me restaram remotos, afinal preferi ver a terra onde nasceu Isak Dinesen, minha “comtesse”, contadora de histórias preferida, ou Karen Blixen, de “La ferme africaine” ou “Out of Afrika”, terra também do ABBA, para alegria de minha Tereza, e depois à heroica Finlândia de Jean Sibelius, onde posamos no seu monumento cheio de tubos metálicos, cada um com suas frequências e harmônicos.

Pus os pés onde se banhava Katarina 2ª , mulher notável imperial, Imperatriz de Todas as Rússias, em Saint Petersburgo, cidade belíssima, cenário de Dostoievsky, com suas pontes elevatórias sobre o Neva.

Fui também no outro lado do fim da Rússia, ao Sul. Não na Ucrânia, em Sebastopol, como gostaria ter ali chegado no Mar Negro.

Só cheguei até o Mar de Mármara, a Istambul, vadeando o Bósforo, o Dardanelos e o Helesponto dos Gregos.

Faltei, que terrível, faltei conhecer Galipoli, cenário heroico dos turcos de Atatürk, derrotando ingleses, australianos, neozelandeses, canadenses e indianos, forças ANZAC, e a Winston Churchill, tema de um texto meu nesse blog. Quem o desejar, pode encontrá-lo clicando em

Gallípoli; Cem anos de um grande desastre. – Infonet

Fui lá tão próximo de Galipoli, mas faltei…

Preferi nadar no Mar Egeu, ver Kuçadasi, Creta, Santorini, ver a casa onde morou no fim da vida a Mãe de Jesus, Maria, e São João, o seu filho adotado aos pés da Cruz no Calvário.

Perdi-me entre as ruinas gregas, quase matando de susto minha Tereza.

Depois fomos à Acrópole, nós dois sozinhos, subindo pelas mesmas pedras, por onde se gastaram tantos pés de homens e mulheres, como Sócrates, Platão e até Zorba, o grego, de Nikos Kazantzákis, por que não?

E por que continuar, se tudo isso é coisa de velho?

Por continuar vivendo, ora essa!

Mas, para findar sem falar da Índia, que visitei longamente em périplo pelo Decão, e de Europas e Américas, que me são mais comuns, por rotineiras, encerro deixando os banhos de outros mares, citando Paul Léautaud (1872-1956), escritor e dramaturgo francês, nascido em Paris a 18 de janeiro de 1872, cento e cinquenta e um anos passados, destacado na edição de hoje do Le Figaro, lido por mim, em o fazendo, diariamente! Que posso fazer, se gosto também de ler?

Assim, vale à pena repetir a pergunta e a resposta de Léautaud, tomando para mim o texto no original, como ali está no jornal:

Qu’est-ce que vous faites ?

 – Je m’amuse à vieillir. C’est une occupation de tous les instants.

– O que é que você faz?

– Eu me divirto em envelhecer. É uma ocupação de todos os instantes.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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