O custo do cuidado, é sempre menor do que o custo do conserto.
Quando viajo de Sergipe a Salvador, pela bucólica Linha Verde, sempre paro num posto de combustíveis que fica na beira da estrada, à esquerda de quem vai, no município de Massarandupió, na Bahia.
Na verdade, não é apenas um posto é um point turístico que fica nos dois terços da viagem entre Aracaju e Salvador. É imperdível um pit stop no pastelão, é assim que conheço. Lá há um bom restaurante, uma excelente lanchonete e, um generoso espaço para compras de tudo, com uma diversidade de produtos caseiros, agrícolas, caseiros e industrializado da região: feijão verde, milho, macaxeira, inhame, batata, coco. Doces de todas as espécies, mingaus, acarajé, rapadura e muito artesanato: bonecas, carrinho, panos, toalhas, tapetes, sapatos, chinelos e sandálias feitas de couro cru, produzidas ali mesmo, nas redondezas e expostos em grandes bandejas de cipó.
Estava eu observando aquelas novidades e parei em frente ao balaio dos calçados, ao meu lado um rapazola, com uma latinha de cerveja na mão, virei seu expectador, ele parece que gostou e pegou um caneco de alumínio e disse: – Legal para tomar uma cervejinha. Tudo bem, imaginei, realmente um caneco de alumínio. Logo a frente ele catou uma almofada e verbalizou a mesma expressão: – Deve ser muito boa para tomar uma geladinha, num final de tarde. Comecei a gostar da história do moço, mesmo sem entender direito como ele ia usar uma almofada para tomar uma cervejinha ao entardecer. Eu ia argumentar, quando ele pegou um sapato de couro cru, flexionou para lá, dobrou para cá e, exclamou: – Deve ser muito bom para tomar uma geladinha no final de semana. Aí, não deixei nem ele terminar, estávamos ao lado de um balaio de bonecas e, antes que ele pegasse uma, eu disse: – Amigo, me desculpe, mas como? Como é que você vai tomar uma geladinha num sapato de couro cru? – Não! Respondeu ele. E, bem calmamente, me explicou: – Não, meu rei, é o seguinte: Abre-se uma cervejinha bem geladinha, coloca-se este sapatinho no pé e, aí, toma-se a geladinha. Nossa! Imaginei, que ginástica! Obrigado, Amigo, me despedi e fui lanchar.
Porém, não é bem isso o que gostaria de evidenciar. Também, nada contra o gentil adolescente que, na verdade, sequer deveria estar usando bebida alcoólica. Mas, mesmo assim, foi muito educado ao me esclarecer tão enredada situação.
O que quero mesmo é evidenciar o quanto representa, no nosso cotidiano, o uso do diminutivo e a sua força sedutora. Sempre o usamos, às vezes até sem pressentirmos, quando queremos, sub-repticiamente, elevar o valor de algo ou alguém. Por exemplo: quando verdadeiramente gostamos de uma pessoa, manifestamos o nosso enternecer com palavras carinhosas como: amorzinho, queridinha, filhinha, mãinha, painho, amiguinho etc.
Porém, utilizamos também, quando queremos menosprezar, esnobar ou ridicularizar alguém ou alguma situação: quem fez esta besteira? Foi o rapazinho aí. Quem é aquelazinha ali? Ela é uma mimada, filhinha de papai. Além, é claro, das alcunhas jocosas: patricinha e mauricinho, entre muitas outras.
O efeito sedutor do diminutivo não demorou a ser percebido pelo comércio como forma de vender produtos das mais variadas espécies. Contudo, na sua grande maioria, os produtos tidos como incorretos, são os que mais se apropriam deste viés publicitário para, subliminarmente, aparentarem coisa boa. Entre eles os que mais se destacam são os relacionados às bebidas alcoólicas, cigarro, drogas, alucinógenos e similares.
Os marqueteiros conseguem, com muita facilidade, demonstrar, diminutivamente esses produtos, dando-lhes um falso sentido de inofensivo, carinhoso e atraente, realizando, assim, uma inversão transformadora, operando o abrandamento dos seus efeitos nocivos, transformam o ruim no bom, o insalubre no saudável, o mau no virtuoso.
Percebam, não é difícil entender, veja, se alguém já lhe convidou para dar uma saída, fazer um rolê, tomar uma caipira, tomar um chopão, uma cervejona, ou um uíscão? Ou, ainda, dar uma saída, passar num bar, escutar uma música, tomar uma gelada, dar uma dançada? É claro que não!
Os convites são ou serão sempre assim, fiquem espertos: Fulano, vamos dar uma saidinha, passar num barzinho, tomar uma cervejinha dar um tequinho, escutar uma musiquinha, arranjar umas gatinhas, dar uma dançadinha… E, por aí vai, de diminutivo em diminutivo, chega-se ao longe, ou, quase sempre, ao NADA.
Cuidado, o alerta é sobretudo para os jovens, não esqueçam nunca, o futuro está sempre a um passo. Como vocês querem chegar lá? Não há milagre, a vida é de cada um de vocês e, somente vocês vão vivê-la, os mais velhos vão ficando pelo caminho e, não poderão viver um minuto, sequer, por vocês. Pergunta-se, de novo, como é que você quer chegar lá? Cuidado! De inho em inho, você pode perder o caminho e, não chegar nunca aonde deseja. Pense nisso. SUCESSO.