Reajuste das bolsas CAPES e CNPq: fôlego para a ciência sergipana

Prof. Dr. Lucindo José Quintans Júnior

 Farmacêutico e Docente do Departamento de Fisiologia (DFS), do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCS) e Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF) da Universidade Federal de Sergipe (UFS)

E-mail: lucindojr@gmail.com ou lucindo@academico.ufs.br

Imagem disponível em: https://br.freepik.com

 

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)  anunciaram recentemente o esperado reajuste de valores das bolsas de estudo e pesquisa, que estavam congeladas há cerca de uma década, algumas muito mais que isso. A medida tende a criar um cenário virtuoso para Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) de Sergipe. Além de uma merecida valorização, destacam-se quatro aspectos que serão afetados direta e positivamente com o reajuste realizado pelas duas agências governamentais.

O primeiro deles é a atração de estudantes talentosos. Bolsas com maiores valores certamente contribuem como uma forma de renda que atua para suprir as necessidades básicas dos discentes. Isso acarreta o aumento do interesse e atração dos jovens pesquisadores para participar em programas de pós-graduação (PPGs) ou em grupos de pesquisas. De outra forma, sem esse apoio, eles poderiam ter que escolher outros caminhos como, por exemplo, trabalhar em empregos informais para complementar a renda. Ao invés disso, com bolsas maiores, se dedicarão integral e exclusivamente à sua pesquisa. O segundo aspecto diz respeito à redução da evasão, sobretudo em cursos de pós-graduação como mestrado, doutorado e mesmo em estágios de pós-doutorado. Mas também há muito é reconhecido o impacto benéfico de bolsas de iniciação científica entre alunos da graduação e mesmo do nível médio brasileiro. 

Além disso, num terceiro ponto a ser observado, espera-se também uma melhoria na qualidade dos resultados já que, menos preocupados com questões financeiras, esses investigadores poderão se concentrar melhor em suas pesquisas. Por fim, o reajuste despertará o interesse de pesquisadores e docentes de alto nível, que podem escolher trabalhar em PPGs em Sergipe, contribuindo, assim, para elevar o nível da pesquisa e do ensino regional, melhorando nossos indicadores, contribuindo efetivamente para o desenvolvimento local e atentos a produzir resultados com maior impacto social. 

Em resumo, os reajustes anunciados devem melhorar significativamente a qualidade da pesquisa, do ensino, da inovação e da transferência de tecnologia, além de aumentar a competitividade da nossa ciência seja ao nível nacional, seja ao nível internacional. Contudo, é preciso lembrar, as bolsas fazem parte de um complexo sistema de CT&I que necessita de investimento robusto para aquisição de equipamentos, insumos, montagem de estruturas de pesquisa e de desenvolvimento tecnológico, etc. O mesmo sistema carece de uma política de médio e longo prazo assertiva e dialogada com a sociedade, desburocratização para o setor, de maior diálogo com setores da economia que demandam produtos e processos e pessoal qualificado, pois as bolsas atuam apenas neste último pilar.

Com seus 58 PPGs, a UFS é responsável por cerca de 87% de todas as matrículas de mestrandos e doutorando do estado e contribui com cerca de 90% de todo conhecimento científico gerado (como atesta a plataforma SciVal), sendo impactada positivamente pelo reajuste. Num olhar mais amplo, significa dizer que, graças ao aumento, cerca de R$ 850 mil entrarão adicionalmente na economia sergipana todo mês. Por outro lado, o ecossistema científico e tecnológico da universidade — composto por condomínios de laboratórios, laboratórios gerais, equipamentos de última geração, grupos de pesquisa, centros de pesquisa, cátedra, etc. — tem sofrido duramente nos últimos 7 anos, devido ao parco investimento e gradativa desconstrução da área realizada, com maior ênfase, por repetidos governos federais que promoveram um desmonte sem precedentes da ciência brasileira. 

É preciso destacar que o governo Bolsonaro foi catastrófico para o setor, colocando o país numa situação de vulnerabilidade para o desenvolvimento tecnológico. Aliado a isso, em Sergipe, a Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (FAPITEC/SE) tem reduzido, continuamente, o investimento em CT&I, voltando seus escassos editais a chamadas muito particulares (e de pouca amplitude), que muitas vezes não dialogam com a melhoria da infraestrutura de pesquisa e com seus indicadores. Editais históricos e considerados mais estruturantes deixaram de fazer de parte do portfólio da FAPITEC/SE, o que tem gerado desinvestimento, desestímulo dos pesquisadores e de grupos de pesquisa, reduzindo nossa capacidade de enfrentamento dos desafios impostos à sociedade. 

O reajuste das bolsas e a garantia da ministra Luciana Santos, nova responsável pela pasta da Ciência, Tecnologia e Inovação, de que não haverá contingenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), a retomada dos investimentos e do diálogo do Ministério da Educação (MEC) com estados e municípios e a expectativa de retorno dos editais estruturantes para pesquisa no âmbito nacional e no estadual desenham um quadro otimista na comunidade científica diante das adversidades dos últimos tempos.

Em Sergipe, também é grande a expectativa diante da promessa do novo governo estadual de uma agenda positiva e especialmente mais ativa para CT&I, com fortalecimento de atores importantes, como a FAPITEC/SE. A comunidade científica local aguarda ansiosa a aprovação pela Assembleia Legislativa de Sergipe (ALESE) do novo marco legal da inovação para o estado. Tais medidas, se concretizadas, mandarão a mensagem de que Sergipe não vai desistir de estar na vanguarda da ciência, tecnologia e inovação, uma das áreas mais estruturantes para o desenvolvimento do país.  No âmbito da UFS, estamos prontos, dispostos e preparados para colaborar e ajudar no desenvolvimento regional. Nossa Universidade tem todas as condições de colaborar na qualificação de recursos humanos. Nesse aspecto, é inegável que o reajuste de bolsas chega em boa hora. Ele representa fôlego para ciência sergipana e contribuirá para que os pesquisadores da UFS sigam sendo protagonistas da geração de novo conhecimento social, tecnológico e no desenvolvimento de Sergipe!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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