Era meu desejo, a título de Reflexão à Quaresma, fazer um pouco de silêncio, calar por abstinência, tudo aquilo que o Cristo fez um dia, afastando-se ao deserto, para ali rezar, meditar, exercer um jejum sacrificial, de gozos e sabores, e refletir consigo próprio, perante a missão que ousaria cumprir, enquanto homem e a restar jamais: compreendido.
A Quaresma de Jesus fora uma prévia de missão, oportunidade para ser desafiado pelo tentador, sempre presente, a instigar o desânimo, a desistência da luta, a fuga sempre possível, enquanto zona confortável.
Sem ser Jesus, nem O querer imitar, programei-me refletir nesses quarenta dias de jejum, tentando me afastar dos barulhos diários e dos sabores ordinários, distanciar-me de tudo aquilo que em perfume ou cheirume, enreda o noticiário, procurando aproximar-me de Deus, ou de Sua palavra, exarada perante a Paixão do Cristo, sempre renovada pela Igreja, a merecer dos homens a concórdia, o impossível amor recomendado, e a sempre tolerância possível, por alcançável.
Confesso, não por fracasso ou fuga, que o amor pregado por Cristo é missão inexequível, pelo menos para mim, cujos erros me são tão próprios, que deles não sinto tanta vontade de pedir perdão aos homens, afinal minha soberbia, e não outra vilania, é o meu vício, minha estultice predileta, esta de querer invocar o perdão Divino, no além como deve ser, por alforria amplíssima, incomensurável, quando o arrependimento se apresentar verdadeiro, sem medo, nem fraudes, porque o espero assim e desejo, todo ausente de quejandas fraquezas e covardias.
Chamem a isso: bobas tolices!
Mas quem não as tem?
E eu as tenho, enquanto um teísta em continua busca de Fé.
Esta Fé dos tolos, como a do Cristo, que perdoou um ladrão ao seu lado, e a todos que ao seu derredor praguejavam rugidos furiosos, contra quem ninguém o sabe, mas o faz sempre assim, por vã torcida, ou num ganho qualquer repartido, nas cartas dos baralhos ou de dados, por similar gargalhos, o pio sempre lançando à sorte, no jogo de azar ou da vida, repartindo por despojo e por destino, um andrajo qualquer sem nojo, de trapos farrapos, nunca, desúteis, jamais.
Porque perante o frio e ao desamparo, todo abrigo é solidário, valendo o pio, e quem o lança…
A vida não é assim, quando falta farinha e o pirão é pouco?
“Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem!”
Não foi assim que sobrou o éco reverberado?
E neste reverbero, não continuamos todos, sempre nos erros iguais de disputas ao azar?
Assim a Quaresma chegara, enquanto convocação à reflexão.
Era para sair um pouco do comum ordinário e perquirir sobre o âmago de cada ser, enquanto chamado por inspiração do jejum e do deserto.
Porque o homem é o mesmo em medos, sonhos e misérias.
Quem sanearia tal miséria senão o próprio homem, tentando conhecer-se a si mesmo?
Querendo assim, e pensando nesse mote, iniciei esta serie de textos, já que sou um colunista de quinta, ou de quinta-feira, usando o tempo da Quaresma para refletir, em desafio próprio, sobre o Jesus Cristo Marginal do Padre John P. Meier.
A proposta, todavia, se revelou assaz difícil…
E no meio do caminho, como a pedra de Sísifo, fraquejei, voltei atrás, e a Quaresma se foi, só para dizer que não nasci para pregador, exegeta ou teólogo, de forma que me perdi no monólogo daquele que tentou, e a viagem acabou sem o destino alcançar.
E como o inexorável tempo já nos trouxe à Semana Santa, logo virá a Páscoa, que deve ser uma comum passagem para cada um de nós, em vida nova.
Digo assim, porque a vida continua, tenhamos Fé e Esperança, como Teologais Virtudes, ou nos mergulhemos nas fatais vicissitudes das descrenças perdidas, das indiferenças consentidas e das “desandanças” mal assumidas.
Enfim: porque nessa “desassunção” por escape de caminhada, todos temos as nossas dúvidas…
Que a Páscoa nos liberte em Vida Nova!
Feliz Páscoa a todos! Dando chocolate aos netos.
E só aos netos, porque está muito caro!
Na próxima Quinta eu mudo de tema!