Uma dúvida saneada.

Eu tinha uma dúvida. Uma dificuldade talvez, mas saneei-a!

Vinha daquela tosca história: deve-se falar tu, pronome pessoal, destinado à pessoa com quem falamos, ou devemos fazê-la, não por tu, mas por você?

Você é um pronome comum de tratamento, como Vossa Excelência, Vossa Reverência, Vossa Eminência, Vossa Magnificência, outros em parco uso nas Repúblicas como Vossa Alteza e Vossa Majestade, e outros de menor destaque ainda como Vossa Senhoria etc.

Alguns bem que gostariam para si um genuflexo por humilde apelo de Vossa Onipotência.

De Você, sei-o originário de Vossa Mercê, mercê significando graça, conceção, um tratamento destinado às pessoas que não mereciam ser abordadas pelo pronome tu.

O porquê disso não sei.

Dom Quixote e Sancho Pança na minha biblioteca.

Sei apenas que muitos que deveriam tutear reciprocamente, uns aos outros, o faziam respeitosamente, sobretudo em “El ingenioso hidalgo Don Quijote de la Mancha” do genial Miguel de Cervantes Saavedra, sempre usando o admirável Vossa Mercê.

Pelo pouco que sei, Vossa Mercê virou Vossemecê, Vosmicê, Voncê, chegando-nos ao Você de uso atual, uns preferindo dizer ocê, e até mesmo, por alguma preguiça e/ou desleixo. Coisa de degradação, sei la; evolução do idioma.

Eu mesmo, que sou uma figura antiga, já quase extinta, por apagada, fui em criança tratado por alguns velhinhos com um Vosmicê, mais que respeitoso, e que não vem ao caso.

Também não vem ao caso dizer que no Galego é assim, ou assado, e no Castelhano derivou Usted, em tantas outras formas em que há tratamentos de igual para igual, e outros de superior para inferior.

O que não se pode e não se deve, pelo menos eu penso assim, é tutear o tu com o você, intercambiando-os impunemente, porque quando chega no caso objeto ou oblíquo, o tu clama por ti e teu, e o você, que nada mais é que o Vossa Mercê encapsulado, reclama por si e seu, e nunca, jamais, por vossa ou vosso, como fazem muitas excelências em seus debates parlamentares.

A minha gastura é porque me incomoda dizer a alguém “Deus lhe abençoe!”, justo alguém que eu tuteio por Você. O certo seria “Deus o abençoe!”, mesmo que soe estranho ao uso comum.

Já o “Deus te abençoe!”, só estará correto se o tutear for com o tu e jamais com o você.

 

A dúvida vale à pena externar: Se eu desejo mandar alguém à puta que o pariu, fica melhor dizer: “Vae à puta que te pariu!”, ou “Vá à puta que o pariu!”?

A quem me trata por tu e você, não é melhor acertar-lhe fulcralmente as fuças com as duas versões, ambas corretas?

Ah!, saudade de Olavo de Carvalho!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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