O sustentável é o hype, mas ninguém quer sustentar

Há alguns anos, o hype do momento, ou seja, o que está dando o que falar, é a crise climática e formas de desenvolvimento sustentável que podem ser adotadas por empresas e instituições para se tornar “amigo do meio ambiente”. Essa expressão já é errada em sua composição. Do meio ambiente não podemos ser amigos, nós somos parte dele. Esse é o primeiro ponto.

 

E como parte integrante do meio ambiente, da natureza, do ecossistema, como quiserem chamar, é estranho e curioso pensar que estamos destruindo a nós mesmos o tempo todo e nos achamos seres conscientes a ponto de reconhecer o problema, mas achar que colocar um selo de sustentabilidade em seu produto ou plantar uma árvore no dia 21 de setembro com a turma da escola do seu filho é a grande solução para acabar com a crise climática, com o calor extremo, com as grandes enchentes.

 

Mas, vamos falar de Sergipe porque o mundo é grande, o Brasil também e todo mundo já sabe que a Amazônia está em chamas por conta da grilagem e dos desmatamentos para criação de gado e plantação de soja e eucalipto. Inclusive, para quem ainda não sabe, no inicio de 2023 saiu uma pesquisa com dados do IBGE, que no Brasil tem mais gado que gente (prova disso é a eleição de 2018, brincadeirinha, não podia perder a piada), e as regiões onde se concentram o maior número do rebanho são as regiões Centro-Oeste e Norte, regiões que mais estão sofrendo com as queimadas.

 

Em se tratando de Sergipe, agora vai, temos algumas questões muito sérias, a exemplo da especulação imobiliária crescente nas regiões extrativistas, fazendo com que os territórios da mangaba, fruta deliciosa e símbolo do estado, esteja em vias de extinção, para dar espaço aos grandes condomínios. Além disso, despertou-se, de repente, um grande amor pelo camarão, o que é curioso, já que a construção de grandes viveiros tem trazido graves danos a muitas comunidades.

 

Recentemente, no mês da consciência negra, no mês em que Brejão dos Negros finalmente recebeu o reconhecimento oficial pelo Estado Brasileiro como território quilombola, devidamente demarcado, suas lideranças recebem ameaças de morte e ameaças de retirar a demarcação e o reconhecimento das terras. Também recentemente,  a Reserva Extrativista das Catadoras e Catadores das Mangabeiras recebeu o Termo de Autorização de Uso (TAU) do terreno cedido pela Superintendência do Patrimônio da União (SPU), e isso incomodou bastante aos que gostariam de construir mais condomínios.

 

O foco é expandir, é construir, cimentar, concretar. Tira árvore, desmata, polui mangue, aterra, mas bota umas lixeiras coloridas de reciclagem que está tudo certo, bota umas placas solares, um parque eólico e a amizade com o meio ambiente continua. Ano que vem tem eleições novamente, prestem bastante atenção em quem é “amigo do meio ambiente” e em quem de fato é integrado a ele. Não se enganem por falsas promessas de cargos e casas, pois quando a gente fere a natureza, ela revida, e aí, não tem rico ou pobre que se salve de sua fúria e de sua justiça.

 

Pensem nisso. Percebam quem se cala diante de ameaças aos povos ribeirinhos, quilombolas, indígenas. Percebam quem está lucrando, quem está sorrindo aos quatro cantos. Estejam atentas aos sinais e estejam prontas para mudar seus hábitos e entender que, o seu voto, pode também influenciar na luta pela preservação da vida.

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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