Leonardo Teles de Matos Santos
Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe
Integrante do Dominium: Estudos sobre Sociedades Senhoriais (CNPq/UFS)
E-mail: leonardo.teles.9849@gmail.com
ATENÇÃO mendigos, desocupados, pivetes, meretrizes, loucos, profetas, esfomeados e povo da rua: tirem dos lixos deste imenso País, restos de luxo… Façam suas fantasias e venham participar deste grandioso BAL MASQUÉ. Esse foi o convite feito pelo Grêmio Recreativo de Escola de Samba (G.R.E.S.) Beija-Flor de Nilópolis em sua segunda alegoria de mesmo nome, no antológico desfile de 1989. O referido convite é um dos diversos entoados pelas Escolas de Samba ao longo desses 40 anos de existência do Sambódromo do Rio de Janeiro, demonstrando que o espaço e a festa são do povo e a eles pertencem.
A avenida de 700 metros de comprimento foi palco de diversos enredos e representações que corroboravam com os discursos das elites dominantes e de uma historiografia branca, masculina e eurocêntrica. O samba, como já afirmava o enredo crítico e bem-humorado do G.R.E.S. São Clemente de 1990, sambou!
Mas nas últimas duas décadas vimos a efervescência de enredos mais críticos, que visam questionar o status quo da elite brasileira e de um projeto de Estado elitista, aporofóbico, racista, machista, misógino e xenófobo ao trazer o protagonismo de personalidades, coletivos e cosmogonias negras, indígenas e de outras minorias sociais, outrora apagadas, discriminadas e relegadas ao título de meras lendas do folclore nacional.
É importante salientar que os G.R.E.S. não estão alheios ao que acontece no país, ou seja, as discussões políticas, sociais, de gênero, das relações étnico-raciais, entre outras; ressoam e irão ressoar nos desfiles, sejam eles em resposta a algum tema específico, uma amplificação a alguma discussão ou até mesmo trazer ao grande público uma nova pauta para discussão social.
Como instituições, os G.R.E.S. devem representar a diversidade de suas respectivas comunidades, mas infelizmente estamos distantes disso, pois dos 12 presidentes(as) das Escolas do Grupo Especial, 3 são negros e 2 são mulheres, fato mais díspare acontece com os carnavalescos(as) que dos 15, apenas 4 são negros e há apenas 1 mulher.
Por fim, espero que as repercussões desse carnaval de 2024 possam trazer novas mudanças para os cargos de liderança dos G.R.E.S., com novas discussões sociais como as que serão trazidas com as homenagens à Alcione, Rás Gonguila e ao Almirante Negro, João Cândido. Tomemos como inspiração João Cândido e lutemos por um carnaval com mais cara de povo do que de madame, que as estruturas sejam mudadas e o país seja mais justo.