O cinema inglês na II Guerra Mundial

 

Liliane Costa Andrade

Doutoranda em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/UFRJ)

Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente da Universidade Federal de Sergipe (GET/UFS/CNPq)

Orientador: Prof. Dr. Dilton C. S. Maynard (DHI/ProfHistória/UFS – PPGHC/UFRJ)

E-mail: liliane@getempo.org

 

Cena de abertura do filme “49th Parallel”. Fonte: 49TH PARALLEL. Direção e Produção de Michael Powell. Inglaterra: Ortus Films e Ministério da Informação da Grã Bretanha, 1941. 1 DVD (123 min.), son, preto e branco.

 

O início da II Guerra Mundial (1939-1945) foi particularmente complexo para a Inglaterra e isso reverberou em sua indústria cinematográfica. Além da escassez de matéria-prima e de mão-de obra, que precisou ser destinada aos combates, as salas de cinema do país foram fechadas provisoriamente no início do conflito devido ao elevado risco de bombardeio. A situação era agravada, ainda, pela hegemonia exercida pelo cinema estadunidense, que desde o fim da I Guerra Mundial (1914-1918) já exercia um domínio sobre o mercado cinematográfico. Mas, apesar das dificuldades, os ingleses sabiam que, diante do nível de complexidade da II Guerra, abrir mão de um recurso tão poderoso quanto o filme não era uma opção viável.

Conscientes do nível de relevância que os meios de comunicação em massa possuíam naquele contexto, no início do conflito, o governo britânico criou o Ministry of Information (Ministério da Informação), também conhecido pela sigla MOI. Entre as principais atribuições do órgão, estavam: divulgar as notícias oficiais, elevar o moral da população, promover campanhas publicitárias para outros setores do governo e disseminar propaganda tanto no país como no exterior. Diante de tais propósitos, a estrutura organizacional do MOI era composta por algumas divisões, entre elas, a divisão especializada na produção cinematográfica.

Responsável pelo incentivo e pela administração dos filmes de propaganda, a divisão de cinema foi inicialmente dirigida por Sir Joseph Ball, seguido por Sir Kenneth Clark e, finalmente, por Jack Beddinggton. A falta de estabilidade no cargo refletia as dificuldades internas enfrentadas pela divisão. Somente no mandato de Clark, por exemplo, é que foram estabelecidos os temas que deveriam delinear as produções fílmicas: “Pelo que a Grã-Bretanha está lutando”; “Como a Grã-Bretanha luta”; “A necessidade de sacrifícios para que a luta seja vencida”.

Outro problema que precisou ser contornado foi a falta de consenso entre os próprios produtores acerca do tipo de filme que melhor alcançaria os objetivos da propaganda. Enquanto os defensores dos longas-metragens comerciais argumentavam que a propaganda deveria ser descomplicada e que esse tipo de filme apresentava-se como uma forma de entretenimento popular, os defensores do documentário enfatizavam o papel educacional dessas produções.

Divergências à parte, o MOI acabou precisando lidar com os dois tipos de películas a fim de atingir seus objetivos propagandísticos. E foi nesse contexto que surgiram, por exemplo, as produções antinazistas.  Assim como já vinha sendo feito em Hollywood desde 1939, esses filmes buscavam não apenas explorar um tema muito em voga no período, mas também criticar a ação das instituições e dos membros do Terceiro Reich. Um dos mais famosos filmes antinazistas ingleses foi 49th Parallel, lançado em 1941 e dirigido por Michael Powell, que recebeu apoio financeiro da divisão de filmes do MOI para a sua confecção.

O exemplo de 49th Parallel evidencia a preocupação e o empenho do governo inglês em fomentar a propaganda em meio à II Guerra. Mesmo tendo que lidar com inúmeras dificuldades estruturais e operacionais, os ingleses sabiam que, para aquele conflito, o cinema era uma arma preciosa.

 

Para saber mais, ver:

CHAPMAN, James. The British at War: cinema, state and propaganda, 1939-1945. London/New York: I.B. Tauris Publishers, 2000.

 

O texto integra atividades do projeto “Memórias da Segunda Guerra Mundial no Nordeste Brasileiro: cotidiano e transformação social”, apoiado pelo CNPq através do Edital Universal Nº 10/2023.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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