Movimento Revolucionário 26 de Julho: os caminhos à libertação cubana

Lara Lima Resende

Mestranda em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (PPGH/UFSC)

Orientador: Dr. Sidnei J. Munhoz

E-mail: lararesendeufs@gmail.com

“Che” Guevara à esquerda e Fidel Castro à direita. https://averdade.org.br/2015/10/che-guevara-vive-2/.

 

O movimento revolucionário cubano advém de um processo de longa duração marcado no período quando ainda era uma colônia espanhola à inserção intervencionista norte-americana na ilha. O século XX, porém, marcou os princípios da sua liberdade com a ascensão do Movimento Revolucionário de 26 de Julho (M-26 ou M26-7), este atuou, não somente como o início da luta armada de Fidel Castro (1926-2016) e “Che” Guevara (1928-1967), seu companheiro de luta, mas também foi determinante para as gradativas guerrilhas que culminaram tendo, ao final, o êxito a Revolução Cubana, em 1959.  

Historicamente, desde o século XVI, a Espanha controlou Cuba tendo como finalidade a exportação de produtos primários (gado, couro, açúcar e, mais tarde, café) dos quais se vinculavam ao mercado internacional capitalista da época. Neste âmbito, mesmo com as crises econômicas devido aos processos revolucionários da América Latina (1810-1875), iniciou-se o processo de inserção das máquinas para desenvolver a produção dessas matérias-primas, mas também o aumento da produção e competição com o mercado internacional. É neste cenário que os fazendeiros, principalmente do Norte, defenderam a anexação de Cuba aos Estados Unidos com o objetivo de aumentar sua produção. Em resposta, iniciou-se, em 1868, um movimento de conquista pela pátria, mediante à consciência revolucionária, chefiado por Carlos Manuel Céspedes (1819-1874), principalmente contra a anexação anglo-saxão na região. 

Ao final desta hostilidade, em 1878, foi assinada a Paz del Zanjón, e, dois anos depois, foi abolida a escravidão, sendo esta a maior motivação dessa guerra. Porém, as forças latifundiárias eram dependentes dessa mão-de-obra escravista e, gradativamente, começaram a apoiar os movimentos reformistas, fosse espanhol ou norte-americano. Em contrapartida, os movimentos reacionários adentraram em Cuba com ideias socialistas e anarco-sindicalistas. Alinhado a isso, a crise do açúcar se acentuou, principalmente quando os latifundiários começaram a estabelecer acordos diretamente com os Estados Unidos. Em resultado disso, houve o empobrecimento do país e, assim, um novo segmento revolucionário do país orientado por José Martí (1853-1895) cujo pensamento era em reação ao liberalismo imperialista, principalmente espanhol, e a defesa do seu fim na ordem sociopolítica.

A revolta iniciou em 1895 e, a solução do governo dos Estados Unidos, à época presidido por William MicKinley (1897-1901), foi intervir na situação cubana a fim de conter os revolucionários, retirar o poderio espanhol e exercer o controle em defesa aos seus interesses para evitar quaisquer ameaças no seu governo e na ordem internacional. Sendo assim, com o ataque às colônias espanholas (Cuba, Porto Rico e Filipinas), a Espanha entregou Cuba aos Estados Unidos e, assim, iniciou-se a ocupação norte-americana em aliança com a burguesia colonialista e a promulgação da Emenda Platt (1901) que promoveu a intervenção de Washington nos assuntos nacionais e internacionais de Cuba, além da concessão de bases navais e de um acordo de reciprocidade marcando um período neocolonial como regime de dominação. 

O decorrer do governo cubano no século XX, nesse sentido, baseou-se em investimentos imperialistas norte-americanos na ilha, principalmente na produção de açúcar, como também na nomeação dos seus presidentes, tudo em prol dos seus interesses e evitar qualquer ação das forças reacionárias atuantes na ilha. O fim da Segunda Guerra Mundial (1945) provocou uma releitura político-ideológica na dinâmica imperialista dos Estados Unidos para manter seu domínio na ilha, principalmente, com o início da Guerra Fria (1946) ao qual houve um apoio político-econômico-militar na América Latina como meio de assegurar sua intervenção em meio à legitimação de poder.  

Em análise específica, Cuba estava sob o governo de Fulgêncio Batista (1952-1959) marcado por ações ditatoriais formado por uma equipe proveniente dos partidos conservador e tradicional. A crise econômica, a dissolução do Parlamento e o poder jurídico-civil silenciados provocaram imediato repúdio popular e, nesse ínterim, emergiu o movimento revolucionário, liderado por Fidel Castro, que efetuaram assaltos aos quartéis de Santiago de Cuba, em 26 de julho de 1953. O “Movimento 26 de Julho”, como ficou reconhecido, mesmo não tendo êxito, gerou os princípios da onda revolucionária na ilha. A ação dos jovens foi o que não havia tido resultados desde o século XIX, a sua dinamização e expansão na sociedade contra os crimes, agressões, perseguições e prisões aos políticos e militantes.

       A data frisou o início um dos maiores momentos da história revolucionária cubana, reluz em como Castro foi incisivo na concepção de que havia a extrema necessidade de resolver o problema, sendo este dos “magnatas” que, ao invés de governarem pela nação, apenas objetivavam seus lucros. Seus vieses iam ao encontro de promover uma ascensão dos operários, camponeses e a classe, em geral, pela justiça das quais não lhe eram acessíveis ou surrupiadas, o acesso aos recursos mínimos oferecidos pelo Estado.

Em princípios de 1958, o governo cubano criou uma manobra política baseada em convocar eleições para forjar a saída de Batista e criar um ambiente de “paz”. Concomitantemente, o exército revolucionário se expandiu e ganhou proporções nos interiores, como também em escala nacional. O ditador fugiu com seus principais cúmplices na madrugada de 1º de janeiro de 1959. Desse modo, foi convocado um governo provisório e os comandantes-chefes da luta armada ordenaram que Guevara e Camilo Cienfuegos (1932-1959) marchassem até Havana rumo a sua vitória sobre a qual não daria meios para que os norte-americanos a intervissem, mas sim a atuação das massas perante o seu estímulo e desenvolvimento transformador. Nascia, então, os princípios do poder popular libertador em Cuba. 

 

Para saber mais: 

BEZERRA, Gustavo Henrique Marques. Da Revolução ao Reatamento: a Política Externa Brasileira e a Questão Cubana (1959-1986). Brasília: FUNAG, 2012, p. 13-134.

CASANOVA, Pablo González; CARBALHO, José Luis Veja; et al. América Latina: história do meio século. Tradução de Marcos Bagno. – Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1990.

SCHOULTZ, Lars. Estados Unidos: poder e submissão, uma história da política norte-americana em relação à América Latina. Bauru, SP, EDUSC, 2000.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais