Ao vencedor…
Qualquer tolo repete, por ser muito boba, a genial citação de Machado de Assis; “Ao vencedor as batatas”, lançada frente a um imenso cultivado de batatas, que bem podia alimentar os dois exércitos enfurecidos, que tudo não viam somente o apodrecer do amido, com tanto esforço inútil despendido, só por “um nada”, em vão troféu.
E nesse vil combater, assaz inútil ao leu, ao vencedor sempre caberá tudo, enquanto ao perdedor sobrará o nada, entremeado com a ironia, a chacota e a felonia do cobarde, sobretudo daquele que não se aguenta, nem se sustenta, no esforço albarde de bem subir à rinha, para ali se valorar no bom campear.
Agora, que as eleições se foram, e com elas espera-se dê já lavados em tanto suor, na luta bem transpirado, e muitas palavras mal jogadas, por balas trocadas, “tudo por brincadeira bisonha”, com as chamadas “caneladas eleitorais”, ofensas de muitas cicatrizes, afinal tais combates existem só para o exercício daquilo que mais carregamos de pior como animais carnívoros; o homem combatendo o seu igual; matando-o algumas vezes, sem precisar devorá-lo, por fruição simples de própria cadeia alimentar, mas para conquistar um louro ouropel e conferir no final, o adversário estendido na sarjeta e estirado no limo, se possível ao escabelo rendido, para receber, por termo, o imenso batatal machadiano.
Um imenso batatal que alguém plantou, e outros ali só o querem recolher, usufruir, empanturrar-se, porque a vida sempre constata assim; uns poucos semeiam os tubérculos, poucos os solos águam, na aridez e na secura, muitos poucos aceram os brotos das cizânias comuns daninhas, e muitos, “por galera”, só se veem comendo sem colher, deixando por rastro de grande espalho, e por monumental cenário historial, as cascas inservíveis, como ironia e vilania da contumaz fábula que se repete sem mudanças.
Não voga assim quando o livro da vida bem descreve o existir? “Vaidade das vaidades, o que foi é o que será, e não há nada de novo debaixo do Sol”.
Ou ainda, por diferente e constante, que sempre igual se renova, enquanto sábia sentença de Heráclito de Éfeso; “Ninguém se banha nas mesmas águas”.
E de modo igual, nada irreal em praticidade e pragmatismo, afinal um terno abraço pode tudo incluir sem excluir, porque: “Águas passadas não movem moinhos!”
Uma sabedoria tamanha, que até Fernando Pessoa, ousando definir os poetas como seres fingidores apenas, disse-o, sem simular e sem contrafazer, por mau esteta e dispoeta: “O que foi não é nada e lembrar é não ver.
Porque sem ser um fingidor, por asceta e por bom poeta, tudo aqui lhe valeria ainda bem repetir, qual bom mangual fustigador, longe e muito distante do sempre imenso batatal ardentemente disputado, e daquela verve latina, “memento mori!”, recomendada aos heróis em seus desfiles de vitória, aplaudidos, todo e sempre pelo vulgo e pelo vago, porque ela sempre reza, qual “galera”; bestificada!
“A glória pesa como um fardo rico,
A fama como a febre,
O amor cansa, porque é a serio e busca,
A ciência nunca encontra,
E a vida passa e dói porque o conhece…
O jogo do xadrez,
Prende a alma toda, mas, perdido, pouco
Pesa, pois não é nada.
A parte tudo isso, vale repetir de Cecília Meireles, enquanto canto sibilante de eterna esperança: “O vento é o mesmo, mas a resposta é diferente em cada folha”.
Todavia, tudo isso vale bem pouco, nesta hora, onde o impreciso e o sempre incerto querem cantar o melô tolo, apenas: “quem perdeu, perdeu, quem ganhou, ganhou”, todos sempre esquecendo que “A vitória tem mil pais, mas a derrota é órfã”, frase atribuída a John Kennedy, o Presidente Americano que nunca se vira assassinado em pleno desfile em carro aberto, em plena Democracia glosando o Império da Lei, em Dallas no Estado do Texas, nos Estados Unidos da América.
Coisas da Democracia, esta que segundo tolices outras, de Winston Churchill, repetidas sagaz e acriticamente bisadas:“A Democracia é a pior forma de governo, excluído todas as outras que foram tentadas.”
Oportunidade para serem recomendadas todas as prevenções, inclusive a de desfilar pouco, ao público, desabrigado em carro blindado…
E se possível, ao vencedor se precaver para nunca e jamais, se fazer tão vulnerável em carro aberto, como aconteceu com o Arquiduque Francisco Ferdinando do Império Austro-húngaro, em 1914; com o Rei Huguenote, Henrique IVdos franceses, que tentou pacificar protestantes e católicos, por quem tudo valia em apelo à tolerância , inclusive por sua verve, então herética: “Paris vaut bien une messe” (Paris bem vale uma missa), inervação que o fez morrer, a golpes de facão pelo sicário Ravaillac em 1610, um radical que queria mudar a História a fio de cutelo.
E a outros, sem libelo, como foi o caso do rei português Dom Carlos I, em 1908, morto com o filho seu infante, a bordo de um coche tosco, fragílimo!, que pode ser visto ainda em total vulnerabilidade num museu de carruagens em Lisboa…
E por que não falar de Abraham Lincoln, este grande campeador, que vencedor de uma grande guerra separatista da grande Nação do Norte, tombou baleado no crânio em pleno Teatro Ford em Washington, em 1865, só para falar que a alma humana cria as suas próprias conspirações?
Ou seja, ao vencedor cabe tudo, muito mais do que as cascas das batatas machadianas e as feridas desferidas porBrutus e Cassius, amigos até a véspera de Julius César, o maior tribuno romano de todos os temps, apunhalado sem defesa nos “idos eternos de março”.
Mas no nosso esmigalhar de batatas, como arremate atual, eleitoral, e sem mesmo as querer amassar para um suculento purê geral, a grande imprensa, se eximindo de perdas suas consagradas, tem falseado a manchete da notícia, para dizer que o grande perdedor desta eleição, não por malicia, foi o Ex-Presidente Bolsonaro, justo ele, o seu mais odiado inimigo desde sempre e por décadas desde as vésperas, porque ousou sair pelo país inteiro, tentando levantar os seus caídos, acusados também de estarem descaídos nos mesmos encantos.
Desencantos que me fazem lembrar do mais que decaído, Ex-Presidente João Batista Figueiredo, aquele que preferia o cheiro equino ao dos humanos, e que jurara “fazer desse país uma grande Democracia”: e que nesse desiderato saíra país afora fazendo comício pelos seus Governadores, naquela que foi a 1ª eleição direta para governadores, e bem se viu que os eleitos, “todos do Nordeste para variar desde aquela época”, logo lhe virariam as costas, em sôfrega necessidade de sobrevivência, surgindo a partir daí a famosa Frente Liberal, com Tancredo Neves, virando Santo, hoje ausente dos altares, e José Sarney, sem outros esgares, assumindo o cetro, com a Constituinte que iria sepultar todo o “entulho autoritário”, único responsável pelas nossas eternas mazelas.
Hoje tudo restou morto e dos mortos já diziam os latinos: “mors omnia solvit”, a morte dissolve tudo. E ninguém diz mas acontece; também a ninguém elege, por muito tempo!
Por ser assim, ninguém mais se lembra do Dr. Ulisses Guimarães, nem de tantos “Senhores Diretas”, maus estetas e falsos patetas surgidos, porque depois veio Fernando Collor, impichado, Itamar Franco e seu topete erguido sem votos, Fernando Henrique com o Real, o dinheiro virando seu selo real para continuidade presidencial, criando a reeleição, tudo aquilo que nenhum General-Presidente-Ditador ousara tanto, depois vindo Lula, um Trabalhador-Sindicalista-Metalúrgico, demiurgo e demiúrgico, que ficaria dois mandatos, legando Dilma Rousseff, um mandato e meio, para uma guerrilheira e sua sucessora; depois vindo Michel Temer no resto meio mandat que ficou; e depois vindo o execrado Jair Messias Bolsonaro, o único que pôs o Brasil no trilhos, reduzindo impostos, dando Honra à Bandeira, concluindo a Transposição do Rio São Francisco, resgatando a alegria de um povo em se ufanar com o Nosso Hino, antes aviltado como simples joelho-de-porco, por nó-suíno, malfadado)
Bolsonaro, que virou por fim, epitetado, com o genuíno mote a referir como homofóbico, anti-vacinas, genocida terraplanista, que ninguém sabe o que é, nem precisa, desde que bem acredite ser ele um vilão muito pior, que um ladrão contumaz; alguém que possui o pior do maior descaramento, aquele de “não gostar de se esfregar com travesti”, um terrível mal gosto por pior desgosto, que levou Lula a um terceiro mandato presidencial, este que não foi mais vitorioso nas eleições próximas municipais, porque não pode sair às ruas onde estavam as hordas “escrotas”, por bolsonaristas.
Com tudo apurado e documentado restou um desgosto tamanho, não reconhecido com reprovação maior, afinal se houve algum grande perdedor nessa eleição, não foi o “Capitão de Pijama” Jair Messias Bolsonaro, mas a Grande Imprensa Sulista e todos aqueles que aqui a ecoam acriticamente.
Aqui, por exemplo, todos rugiram contra a candidata Emília, tentando enodoar sua trajetória vitoriosa na tribuna do Rádio e da Teve, onde todo mundo há muito a ouvia e bem a via, mas quiseram enlameá-la, até como defensora pública, só porque viram-lhe companhias ruins.
E o que é uma companhia ruim? Pode ser uma rima pobre em causa pior que ruim?
Em tanto candidato posto n’arena, seria a “baixinha”, Emília, única candidata ruim, só porque tinha um distante apoio do Mito Bolsonaro?
E todos os que lavraram os seus equívocos ruins, naufragaram em tantos candidatos terçando espadins micuins, alguns na sua torcida beletrista, ousando frustrar-se piores na defesa inútil da sempre abstrusa abstenção eleitoral no 2º Turno, que se fez mais eloquente, a configurar a obtusidade insuspeita de sua obvia inutilidade, enquanto tentativa de mal formar a pública opinião; que restou desnorteada e desmiolada, com tantos zonzados nas cordas, muito esmurrados!
Agora, no “quem ganhou, ganhou; quem perdeu, perdeu!, ousam cantar o seu melô, desfiando mágoas que só deveriam ser suas, afinal o povo continua a bem rejeitá-los, aqui e lá fora, enquanto o Mito prossegue um mito verdadeiro, com o flanco bem aberto, desprotegido e vulnerável, aos golpes fora das urnas, que lhe serão tentados e tramados ainda, por tantas penas e/ou teclados envenenados, junto às cascas das batatas, inservíveis, espalhadas, como prêmio, seu melhor refresco e refestelo.
Quanto a mim, que da luta não participei, embora tenha votado e bem escolhido, desejo os meus parabéns para a ganhou, a Defensora Emília, por sua campanha digna, e para quem perdeu, Luiz de Edivaldo, que no meu sentir e refletir, sobrou bom e leal: competidor!
Por que não dizer a seu grupo que a luta era difícil, e o eleitorado vem cansado, requerendo novas teses e novos nomes?!
O resto é curtir o despojo do longo cultivado machadiano de batatas, sem as deixar, ao descampado, apodrecer, porque aquele que não venceu, pelo menos, bem lutou e combateu.
Se não findar assim, o resto é conversa de quem não foi vencedor, e quer no final envenenar quem lhe ousa comer do seu moquem…
Ao vencedor…, boa gesta! E vamos em frente!