Fernanda Victoria Góes Marques
Graduada em História (DHI-UFS)
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
E-mail: nandavictoria44@gmail.com
Adolf Hitler começou a ganhar destaque político ainda no final da década de 1920, saindo de um soldado frustrado pela derrota para um dos principais nomes do Partido Nazista, conquistando apoio não só pelos ideais contidos em sua biografia, escrita durante os seus dias na prisão após uma tentativa de golpe de estado, como também na resolução dos principais problemas do país como o desemprego que vinha se arrastando desde a quebra da bolsa de valores de Nova York em 1929 e o investimento em obras públicas.
Durante a mesma época, uma figura curiosa também ganhava ascensão do outro lado do mundo, mas não se tratava de líder político ou de um ser humano, e sim de um camundongo. Mickey Mouse, criado pelo animador e diretor Walt Disney, apareceu pela primeira vez em um curta de 1928 e logo se um tornou um sucesso no mundo todo. Mas qual poderia ser a ligação entre os dois? Simples: Hitler era um fã declarado do representante da marca Disney, e chegou a ganhar de Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda, uma coleção de 12 filmes no Natal de 1937.
Segundo o pesquisador Ben Urwand, toda essa paixão por produções fílmicas fez com que ele percebesse que a imagem possuía um grande poder de persuasão se usadas para alcançar seus objetivos, e foi com isso em mente que surgiu a ideia de encomendar O triunfo da vontade, que consiste na filmagem de um discurso feito diante de seus apoiadores. Isso faria com que alemães de todo o país tivessem acesso ao que o seu Führer teria a dizer, e esse foi o primeiro de alguns projetos produzidos nessa época.
Como uma tentativa de expandir seu domínio, o ditador passou a olhar junto com o Conselho de Censura para as produções hollywoodianas, buscando elementos considerados impróprios ou ofensivos ao povo alemão, se utilizando de um sistema de cotas criado durante a década de 1920 para fazer exigências comerciais à Hollywood, alegando que os estúdios que produzissem filmes que tivessem conteúdo antialemão seriam banidos. Um representante se instalou em Los Angeles com a finalidade de fiscalizar de perto as produções cinematográficas que seriam realizadas, conseguindo até mesmo que alguns roteiros fossem descartados. Aos poucos passaram a exigir que judeus fossem proibidos de atuar, dirigir ou até mesmo fazer parte da equipe dos filmes, o que logo se tornou situação absurda visto que os grandes estúdios como Universal Pictures e Warner Brothers eram liderados por judeus ou descendentes de judeus.
Foi a própria Warner, inclusive, que teria “chutado o balde” e lançado o primeiro filme antinazista intitulado Confissões de um espião nazista em 1939, com um enredo que denunciava uma rede de espionagem alemã. Logo, o cinema passou a ser usado não apenas como uma forma de entretenimento, mas também como um meio de propaganda que iria contribuir no combate ao inimigo.
Para saber mais:
URWAND, Bem. O pacto entre Hollywood e o Nazismo: como o cinema americano colaborou com a Alemanha de Hitler. São Paulo: Editora LeYa. 2019.
RIBEIRO JÚNIOR, João. O que é nazismo. São Paulo: Editora Brasiliense, 2005. Coleção Primeiros Passos: 180.