O Rato e a Música do Quinto

 Na advocacia e na vida pública, não existe a certeza da certeza. O que hoje parece incontestável, amanhã pode ser questionado. É justamente por isso que as regras democráticas devem ser claras, previsíveis e respeitadas—para que ninguém tente moldá-las conforme seus interesses momentâneos.

A recente convocação da Justiça Federal para discutir a mudança no processo eleitoral do Quinto Constitucional do TJSE coloca em xeque uma alteração feita pela OAB-SE sem debate amplo e sem respeitar o princípio da anualidade eleitoral. O advogado Aurélio Belém do Espírito Santo, com coragem e firmeza, questionou esse movimento e exigiu explicações, lembrando que a transparência e a legitimidade das instituições são inegociáveis.

Dito isso, seguimos para uma fábula — um conto fictício, onde qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência. Mas, como toda boa história, ela traz reflexões que podem ecoar além da fantasia. Afinal, no jogo do poder, muitas vezes é o menor dos animais que ousa desafiar os gigantes. PASSEMOS À FÁBULA:

Na densa Floresta da Ordem, onde as leis eram como galhos entrelaçados e os caminhos para o poder tortuosos como rios em época de cheia, um grande embate se formava. A clareira central, palco das maiores disputas, estava agora tomada por rumores e inquietações.

O temido Caçador CAM caminhava de um lado para o outro, preocupado. Ele sabia que a audiência da grande TJF, dia 14, sexta-feira póxima, poderia mudar o rumo da floresta. O problema era grave: as regras do jogo haviam sido mudadas de última hora, sem respeito ao tempo e às tradições. Agora, havia uma possibilidade real de que todo o processo fosse anulado, colocando em risco seu projeto, o do Leãozinho, e, principalmente, o do Pavão, que há tempos vinha se preparando para o grande voo rumo à nobre Desembargadoria da Floresta.

O Pavão, sempre vistoso e elegante, balançava suas penas coloridas com inquietação. “— Caçador CAM, meu amigo…” — grasnou o Pavão. “— Isso pode nos custar tudo. Venho trilhando esse caminho desde a queda do LM, e agora podem nos tirar isso das garras!”.

O Caçador, experiente, observou o céu carregado. “— A tempestade vem, Pavão. Mas Leãozinho já está em ação, correndo de um lado para o outro no Conselho da Floresta, tentando manter a fortaleza de pé”. E, de fato, Daniel Alves rugia em reuniões secretas, buscando conter os danos e manter seu domínio.

Enquanto os poderosos da floresta tremiam, um pequeno ser se destacava. ABES, o Rato, mostrou sua astúcia de forma brilhante. Com saltos rápidos e mente afiada, conseguiu uma grande vitória, desferindo um golpe certeiro contra o domínio dos grandes.

Na clareira, o Elefante Evânio Moura conversava com Juvenal, o Rinoceronte, comentando a jogada brilhante do Rato. “— Juvenal, confesso que fiquei impressionado!”. — disse o Elefante, balançando suas grandes orelhas. “— Muitos tentaram, ex-presidentes rugiram, mas nenhum conseguiu a vitória que o Rato obteve. Isso exige perspicácia, estratégia e inteligência afiadas como presas.”.

Juvenal bufou e bateu o casco na terra. “— O Rato provou que o jogo é mais do que força bruta. Ele soube ler os ventos e atacou na hora certa”. E, na copa das árvores, Clara Machado, a Coruja, e Carla Caroline, a Cutia, batiam as asas e as patas, comemorando o feito. A Cabra, Tatiana Silvestre, sempre observadora, aplaudia. Inácio Krauss, a Preguiça, mesmo sem pressa, acenava em aprovação ao pequeno roedor que desafiara os grandes. “— Impressionante, impressionante…”. — resmungava a Preguiça. “— O Rato ABES mostrou que a estratégia supera a força e o poder estabelecido”.

Já Getúlio Sobral, o Macaco, não perdeu a chance de tirar sarro do Leãozinho. Saltando de galho em galho, zombava com um sorriso maroto. “— E agora, Leãozinho? Qual é a música? Qual é a música, Pablo?” — gritava, gargalhando, enquanto o Leãozinho, irritado, tentava manter a postura de rei.

Enquanto isso, Ronivon, o Maestro da Audiência da Floresta, conhecido por sua sabedoria e equilíbrio, preparava-se para ditar as notas da música da OAB. Sua presença era temida e respeitada, pois ele conhecia bem os bastidores e sabia que qualquer deslize na melodia poderia arruinar toda a ópera.

Do alto de uma árvore, o Tucano, sempre atento, observava a cena com olhos desconfiados. Ele sabia que a demora na resolução desse problema só prejudicaria a floresta. Quanto mais o tempo passava, mais instável ficava a situação. “— Isso pode demorar demais… e sabemos que quanto mais tempo leva, mais frágil fica o processo!”. — grasnou o Tucano, com um tom preocupado.

Mais afastado, o Lobo Fabiano Feitosa apenas observava a movimentação na clareira. Sereno, calculista, analisava a cena com paciência, esperando o momento certo para agir. E, no meio do caos, o Leopardo, Edem Agusto, sempre atento, lançou um aviso: “— Essa situação vai se complicar. O vento que sopra agora pode virar uma tempestade incontrolável”.

O Conselho da Floresta, onde os Sábios Conselheiros costumavam se reunir para debater o destino da Ordem e a eleição do Quinto, estava em chamas – não literalmente, mas politicamente. As regras do Leãozinho pairavam sobre a clareira como uma sombra, e o clima era pesado.

Por anos, muitos ali se curvaram às vontades dos presidentes da Ordem, ora por conveniência, ora por medo de represálias. Agora, estavam novamente sob a pressão do Leãozinho, do CAM e do Pavão, seguindo-os quase por instinto. Entretanto, o golpe estratégico do Rato ABES acendeu um alerta. Se um rato pôde derrubar a fortaleza, era sinal de que ela já estava cheia de rachaduras.

No meio do Conselho, um relincho forte ecoou pela clareira. Era o Cavalo Árabe, Breno Messias, um dos poucos que sempre prezaram pela liberdade do Conselho e pela independência da advocacia. Ele bateu as patas no chão e ergueu a cabeça com imponência antes de falar: “— Acordem, conselheiros! — sua voz ecoou firme. “— Abram os olhos! Se continuarmos do jeito que estamos, não seremos mais do que marionetes da cúpula da Ordem!”.

Alguns animais trocaram olhares desconfortáveis. Outros abaixaram as cabeças, pensativos. “— O Conselho é soberano! Não podemos continuar nos submetendo aos caprichos de meia dúzia de poderosos que só pensam em manter o próprio domínio. Somos nós que representamos a advocacia, somos nós que devemos prestar contas à classe e não a uma cúpula que quer nos manobrar!”.

O Tucano, que ouvia atentamente, grasnou: “— E o que propõe, Breno?”. O Cavalo Árabe virou-se para todos e, com um olhar firme, declarou: “— Proponho que mostremos à sociedade e à advocacia que este Conselho tem voz própria! Que não nos curvaremos às vontades de outrem! Devemos restabelecer a ordem natural das coisas e resgatar a confiança dos advogados”.

Houve um burburinho entre os conselheiros. Alguns assentiram lentamente, enquanto outros ainda ponderavam. Mas uma coisa era certa: o Conselho começava a despertar. Enquanto isso, o Leãozinho rugia de longe, sentindo pela primeira vez que o domínio absoluto sobre a Floresta da Ordem estava ameaçado.

Enquanto os animais discutiam, os desembargadores da Floresta observavam em silêncio. Eles sabiam que, no fundo, a solução para tudo estava à vista o tempo todo. A disputa pelo poder havia se tornado tão complexa, tão enredada em politicagem, que ninguém percebia o óbvio: a escolha da lista sêxtupla pelos próprios advogados era o caminho mais simples e justo. Mas na Floresta da Ordem, o simples, por vezes, passava despercebido pelos olhos cegos da ambição.

E assim, enquanto os Bestes do Planalto do Tribunal de Justiça se preocupavam com a condução infantil, amadora e sumária do processo, a grande pergunta ecoava: “— E agora, Leãozinho, qual é a música?”.  Enquanto a resposta não vinha, o Maestro da Floresta, ajeitava sua batuta. Pois a orquestra da OAB-SE precisava de uma nova melodia — uma que fizesse justiça à floresta e aos que nela habitavam.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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