Há 40 anos eram estabelecidas as eleições diretas

Marcos Cardoso*

A democracia brasileira conquistada a duras penas é um sistema recente, em vias de consolidação e talvez por isso ainda tão ameaçada. Há somente 40 anos, no dia 8 de maio de 1985, o Congresso Nacional aprovou a emenda constitucional que estabeleceu as eleições diretas para presidente da República e para prefeitos das capitais. As eleições para governador já tinham sido reestabelecidas em 1982, no estertor da ditadura.

Foi no começo do governo do maranhense José Sarney, que sucedeu a Tancredo Neves, o presidente que morreria sem ser empossado. O mineiro foi eleito no Colégio Eleitoral no dia 15 de janeiro, foi internado no dia 14 de março, véspera de sua posse, morrendo no dia 21 de abril. Já no dia 15 de março de 1985, Sarney tornou-se o primeiro presidente civil do Brasil após 21 anos de regime militar.

Naquele mesmo ano, em 15 de novembro, foram realizadas as eleições em 201 municípios, incluindo 23 capitais. Na ditadura, os prefeitos das capitais e de municípios considerados áreas de interesse nacional eram biônicos, indicação dos governadores eleitos indiretamente. A contagem dos votos apontou uma vitória maciça do PMDB, com 127 prefeituras, sendo 19 capitais, incluindo Aracaju.

Jackson Barreto, eleito em 1985

O então deputado federal Jackson Barreto confirmou ali a sua trajetória de fenômeno eleitoral sendo eleito com folga, com mais de 70% dos votos, derrotando Gilton Garcia (PDS), candidato do governador João Alves Filho e que ficou na terceira colocação, e a revelação Marcelo Déda (PT), que ficou em segundo.

Aquele mandato de prefeito, que já seria curto, de apenas três anos, para Jackson ficou ainda menor por conta da intervenção que sofreu do governo de Antônio Carlos Valadares (PFL) em abril de 1988, acusado de malversação do dinheiro público. Foi substituído pelo vice-prefeito Viana de Assis (PMDB), que concluiu o mandato. No mesmo ano, Jackson elegeu Wellington Paixão (PSB) prefeito de Aracaju.

No pleito seguinte, de 1992, o mesmo Jackson foi mais uma vez eleito prefeito, ficando no cargo até 1994, quando se afastou para disputar o governo do Estado, sendo derrotado por Albano Franco (PSDB). Foi substituído pelo vice-prefeito Almeida Lima (PDT).

Na eleição de 1998, Jackson voltou a eleger o seu candidato, João Augusto Gama (PMDB), que governou até 2000, quando Marcelo Déda foi eleito prefeito de Aracaju (2001-2006). Depois sucederam-se Edvaldo Nogueira, então no PCdoB (2006-2012), João Alves Filho, do DEM (2013-2016), Edvaldo Nogueira, ainda no PCdoB e depois PDT (2017-2024) e agora Emília Correa (PL), eleita na última eleição, de 2024.

Eleições presidenciais

No centenário da Proclamação da República, dia 15 de novembro de 1989, foi realizado o primeiro turno das eleições presidenciais. Com o fim da ditadura militar, a primeira vez que o Brasil escolheu um presidente após a promulgação da Constituição Federal de 1988.

Após a frustração pela campanha das Diretas em 1984 e pela eleição indireta de 1985, finalmente o brasileiro pode votar para presidente da República. Elegeu Fernando Collor (PRN), que derrotou Lula (PT), Leonel Brizola (PDT) e Mário Covas (PSDB) e foi defenestrado do cargo no final de 1992, o mandato de cinco anos restando para ser concluído pelo vice Itamar Franco (sem partido).

Collor, Lula, Brizola e Covas, 1989

Depois foram eleitos Fernando Henrique Cardoso, do PSDB (1995-2002), Lula (2003-2010), Dilma Rousseff, também do PT (2011-2016), que sofreu impeachment e teve o mandato concluído pelo vice golpista Michel Temer, do PMDB (2016-2018), seguindo-se Jair Messias Bolsonaro, do PSL e depois PL (2019-2022) e, mais uma vez, Lula eleito em 2022.

Desde o retorno da normalidade eleitoral, Aracaju teve nove prefeitos, contando com aqueles que concluíram os mandatos dos eleitos, sendo que Jackson Barreto foi eleito prefeito duas vezes não consecutivas, Déda teve dois mandatos sucessivos e Edvaldo teve quatro mandatos em duas ocasiões distintas.

Também foram nove os presidentes da República, contando com Tancredo Neves e com aqueles que substituíram os eleitos, sendo que FHC e Dilma tiveram dois mandatos sucessivos e Lula está no terceiro mandato.

Já os governadores de Sergipe foram sete desde a eleição de 1982, sendo que João Alves foi eleito em três vezes distintas e Albano Franco e Déda foram eleitos para dois mandatos consecutivos.

Goste-se ou não dos resultados, a democracia ainda é o melhor dos regimes. São apenas 40 anos, mas já é o maior período de democracia plena no Brasil.

*Marcos Cardoso é jornalista e escritor. Autor, dentre outros livros, de “Sempre aos Domingos – Antologia de textos jornalísticos”  (Editora UFS, 2008), do romance “O Anofelino Solerte” (Edise, 2018) e de “Impressões da Ditadura” (Editora UFS, 2024).

marcoscardosojornalista@gmail.com

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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