Por Marcos Cardoso*
Silvio Santos não foi o comunicador do século. Foi o que revelou o projeto O Brasileiro do Século, lançado pela revista IstoÉ em 1999 para marcar a virada do milênio e a ansiosamente aguardada chegada do século 21. Foi uma série de 11 edições especiais da revista que destacam brasileiros notáveis em diversas áreas, uma delas dedicada ao comunicador do século.
A humanidade vivia um momento de uma expectativa que resultou em inflamados debates, dos mais sérios aos mais bizarros, e no Brasil proporcionou projetos como esse. Um dos quais, “Brasil, 500 anos”, da Editora Abril, lançou fascículos sobre a história do país contada através dos fatos e personagens mais marcantes.
Já no ano 2000, o Almanaque Abril saiu com o livro “Quem é quem na história do Brasil”, com as 500 biografias mais importantes nos cinco séculos desde a chegada de Cabral. E a Editora Abril teve a pachorra de não incluir um único sergipano dentre os 500 ilustres biografados.
Mas voltando ao Brasileiro do Século, a IstoÉ conseguiu realizar um projeto bastante democrático de escolha dos nomes mais destacados nas 11 categorias: esporte, música, artes cênicas, literatura, arquitetura e artes plásticas, religião, educação, ciência e tecnologia, comunicação, economistas e juristas, empreendedor, líderes e estadistas e, por fim, como num compêndio das edições anteriores, o Brasileiro do Século.
Para cada edição, a revista designou um jurado de 30 especialistas da área que escolheram aleatoriamente as 30 personalidades mais importantes naquela categoria. Os 30 escolhidos pelos jurados foram submetidos aos leitores da revista, que selecionaram os 20 julgados mais importantes, que apareceram na edição específica pela ordem de preferência.
Foi assim que o Comunicador do Século acabou sendo, por escolha do leitor, Roberto Marinho, à frente de Assis Chateaubriand, Silvio Santos e outros. O jurado de especialistas tinha votado, pela ordem, em Chacrinha, Samuel Wainer, Mino Carta etc. Até o nome do sergipano Joel Silveira constava na lista originalmente apresentada pelos jurados. Essa foi a oitava edição do projeto.
A primeira edição foi do Esportista do Século e trazia Ayrton Senna na capa. Uma escolha difícil, quase em empate com Pelé, que tinha sido o mais votado pelo jurado especializado. Senna tinha morrido poucos anos antes e seu trágico acidente ainda causava comoção, certamente por isso um passional leitor tenha votado mais no ídolo do automobilismo. Garrincha foi o terceiro mais votado.
O Músico do Século foi Chico Buarque, à frente de Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Villa-Lobos, Luiz Gonzaga, Elis Regina, Noel Rosa, Gilberto Gil, Pixinguinha, Roberto Carlos, Ari Barroso, Dorival Caymmi e outros, nessa ordem.
A Atriz do Século foi Fernanda Montenegro, que, na categoria artes cênicas, ficou à frente de Paulo Autran, Grande Otelo, Marília Pera, Nelson Rodrigues etc.
Um sábio leitor escolheu Machado de Assis como o Escritor do Século. O bruxo do Cosme Velho ficou à frente de Carlos Drummond de Andrade, Monteiro Lobato, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e Cecília Meireles, pela ordem.
Oscar Niemeyer foi eleito o Arquiteto do Século, superando por pouco Cândido Portinari na categoria arquitetura e artes plásticas. A Religiosa do Século foi Irmã Dulce, mais votada que Dom Helder Câmara, Chico Xavier, Dom Paulo Evaristo Arns, Frei Damião e Padre Cícero.
Já o Cientista do Século foi Oswaldo Cruz, que na categoria educação, ciência e tecnologia superou Carlos Chagas, Vital Brazil, Paulo Freire e Santos Dumont. O Jurista do Século foi Rui Barbosa, que na categoria economistas e juristas superou Celso Furtado, Mário Henrique Simonsen, Clóvis Beviláqua, Maria da Conceição Tavares e Sobral Pinto.
Francesco Matarazzo foi escolhido o Empreendedor do Século, à frente de Amador Aguiar, José Ermírio de Moraes, Abílio Diniz e Antonio Ermírio de Moraes.
A edição especial número 11 traz Juscelino Kubitschek como o Estadista do Século, à frente de Getúlio Vargas, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Luiz Carlos Prestes, Betinho (Herbert de Souza), Marechal Cândido Rondon e Barão do Rio Branco. Nessa categoria líderes e estadistas também constam João Goulart, Fernando Henrique Cardoso, que era o então presidente, Miguel Arraes, Leonel Brizola e Luiz Inácio Lula da Silva, que ainda não tinha chegado à presidência.
Por fim, a edição que fecha o projeto da IstoÉ apresenta Juscelino Kubitschek como o Brasileiro do Século, seguido de Irmã Dulce, Ayrton Senna, Oswaldo Cruz e Chico Buarque.
Em tempo: como diretor de Redação do Jornal da Cidade, este que vos escreve participou do jurado que ajudou a escolher o Comunicador do Século, ao lado de nomes consagrados do jornalismo brasileiro, como Ricardo Kotscho, Dora Kramer, Ricardo Noblat, Ricardo Boechat, José Marques de Melo, Carlos Chagas, Heródoto Barbeiro, Caco Barcelos, Ali Kamel, Boris Casoy, dentre outros.
*Marcos Cardoso é jornalista. Autor, dentre outros livros, de “Sempre aos Domingos – Antologia de textos jornalísticos” (Editora UFS, 2008), do romance “O Anofelino Solerte” (Edise, 2018) e de “Impressões da Ditadura” (Editora UFS, 2024).