Qualis rex, talis grex.

Dos meus estudos ginasianos de Latim, resiste ainda na minha biblioteca, a coleção Ludus (Primus, Secundus, Tertius)com o Quartor já perdido, todos de autoria do Padre Milton Valente, S.J., compilação texto utilizada no Colégio Jackson de Figueiredo, dirigido pelo casal de Professores Benedito e Judite Oliveira, e sob os cuidados dos dedicados Professores, Jugurta Franco e Gileno de Jesus.

Às folhas 106 do Ludus Secundus, por “Léctio vicésima quarta”, ou lição vigésima quarta, está o texto “Coriolánus”, onde vem resumida a saga de Gaius Marcius ou Caius Martius Coriolánus.

 

Caius Martius Coriolánus foi o célebre combatente romano que motivado por fúria pessoal contra os seus concidadãos, que o rejeitaram, enquanto valoroso herói pátrio e conquistador de Corioli, cidade dos Volscos, a estes inimigos se uniu contra Roma, em nova refrega, se constituindo no definitivo traidor a ensejar, segundo Harold Bloomem sua obra “Shakespeare: a invenção do humano”, no maior drama político, mais que Júlio Cesar e Henrique V, composições mais destacadas no cânone shakespeareano.

O tema me vem a mente, porque o proceder de Eduardo Bolsonaro, vindo justo de um “bananinha”, menosprezado sobremodo, e tendo inusitado sucesso com o tarifaço nunca concebido, nem pensado tanto, enquanto perfídia contra a doce pátria e mãe gentil, bem pode ser inspirado em Caius Márcio Coriolano, o valoroso combatente da nascente república romano que, descartado também por ela, se voltou contra os seus concidadãos, e quase lhes teria sido fatal, não lhe valessem por fim os derradeiros apelos amorosos de sua mãe, Volúmnia, e de sua esposa Vergília, que o arrefeceram em seu terminal desiderato.

 

Da saga Coriolánus, diz-se de Caio Marcio, que este General se sentiu enjeitado e odiado pela plebe, por seus lideres e políticos manipuladores que, após cessado o perigo do inimigo Volsco vencido, todos se voltaram contra a sua autoridade, negando-lhe a honra de liderá-los, via escolha popular, ele que se mostrara em feitos idos e esquecidos, como o mais capaz e mais valente defensor de sua raça, o detentor do patronímico Coriolano, aposto ao seu nome como lídima honra, mas que de nada lhe valeu no contexto da escolha eleitoral, a qual postulara.

Quando a paz e a ameaça dos inimigos Volscos pacificou a alma de Roma, Coriolano perdera a aura de grande combatente, sobrando-lhe para a plebe e sua massa de famélicos só o orgulho que a nada se curva, sobretudo ao populacho, por ele desprezado, afinal a mediocridade é extensa, e a tudo vence inercialmente como maré mal contida, cessado o medo que a faz refém e permanentemente escrava.

Os insignificantes, por maioria, e fracassando continuadamente, sempre se vitoriam a longo prazo, embora isso não espante nem ameace Coriolano, que vê na força de seu braço e no brandir de sua espada, o antídoto para tanta covardia por ele contemplada.

A conquista do poder, como uma batalha continuada a vencer, anima sobremodo a Coriolano.

Sua admiração pelos que detêm o poder do mando, a partir das contendas vencidas, bem vale a alusão de William Haslitt, citada por Harold Bloom na sua obra acima referida, afinal, enquanto estudo da tragédia homônima de William Shakespeare, todos, medíocres ou valorosos, “preferimos ser opressores a oprimidos”.

E junte-se a isso o fato de que, “o fascínio pela conquista do poder e a admiração pelos que o detêm são naturais ao ser humano: (porque) o primeiro os faz tiranos, (e) o segundo, escravos”.

 

Todavia, o mal revestido de orgulho, pompa e circunstância é mais atraente que o bem abstrato, mesmo que isso seja um autêntico título honorífico, como fora o patronímico, “Coriolano”, aposto permanentemente ao seu nome, com palmas, louros e homenagens.

E Caius Marcio ofuscara tudo isso, porque no continuar de sua ação se revelara um herói insensível aos apelos dos famélicos, negando-lhes acesso ao trigo, quando estivera controlando os armazéns da pátria.

Dir-se-á que Coriolano não se curvou ao populacho se fazendo assaz orgulhoso, muito mais que audaz combatente, virando matéria fácil a desfazer no contexto cotidiano do tricotar da política, com tantas insatisfações a tecer e cerzir, por tribunos da plebe como Sicinio Veluto e Junio Bruto, personagens de discurso fácil na desconstrução da imagem do herói.

E assim, para encurtar a história, Caius Marcio Coriolano uma vez derrotado numa pretensão eleitoral, enraivecido se bandeia para o fronte inimigo dos Volscos, unindo-se ao exército de Tulo Aufidio, até então seu inimigo figadal, em nova refrega contra Roma.

Algo que bem poderá ser aplicado ao Exilado Deputado Eduardo Bolsonaro, já que em terras estadunidenses, vem promovendo denúncias contra a justiça e o governo brasileiros, reafirmando no exterior a perseguição continuada que sofre seu pai, o Ex-Presidente Bolsonaro, padecente de um justiçamento político, a que obedece já preso e indefeso, sofrendo um processo célere com indiscutível persecução sem trégua.

Estaria o “Bananinha” traidor como Coriolano?

Deveria o filho abandonar o pai, por supremo amor febril pelo Brasil?

Por acaso não está ele correto em denunciar o calvário pelo qual passa seu pai?

O curioso disso tudo, é que Caius Marcio Coriolano fora um épico super-herói, enquanto Eduardo, “o Bananinha” era um “bisonho fritador de hamburguer”, que a ninguém merecia valia, e que se revelou sozinho muito maior, quase um SUPER-HEROI, é preciso destacar em caixa alta, PORQUE VEM SENDO MUITO MAIOR QUE TODO O ITAMARATY PETISTA!

Donde se conclui que há muito come-e-dorme nesse governo Lulista. Quem quiser que diga o contrário!

Em outro derradeiro cenário, na atrabiliária saga Coriolano, o final é trágico, mas feliz para a cidade assediada e já quase rendida.

Às portas da cidade se dirigem Volúmnia, mãe de Coriolano, e Vergília, sua esposa, trazendo os filhos deles, todos chorando e com lágrimas conseguindo conter o avanço dos Volscos contra Roma, poupando por fim a cidade.

Coriolano cede os apelos familiares, poupa Roma, abandona a luta, e termina assassinado por Tulo Aufidio, o chefe dos Volscos a quem aderira.

De Bolsonaro e sua grei, ninguém sabe o que ocorrerá, sobretudo agora com tantos petardos lançados em perspectivas de vastos prejuízos financeiros, com metade do país querendo salvá-lo e a outra metade querendo esganá-lo.

Por final levanto o título: “Qualis rex, talis grex”. Tal o rei, tal o rebanho

Segue o texto do Padre Milton Valente:

Coriolánus

 

Expúlsus ex Urbe Quintus Március, dux Romanus, qui Coriolos ceperat, Volscórum civitátem, ad Volscos conténdit’ irátus, et auxilia contra Romános accépit.

Romános saepe vicit, usque ad quintum miliárium Urbis accéssit, oppugnatúrus étiam pátriam, nisi ad eum mater Vetúria et uxor Volúmnia ex Urbe venissent, quarum fletu et deprecatióne superátus remóvit exércitum.

Atque hic secúndus post Tarquinium fuit qui dux contra dátriam suam esset.

 

Quinto Márcio, o general romano que havia capturado Corioli, uma cidade dos volscos, foi expulso da cidade e, enfurecido, foi até os volscos e recebeu ajuda contra os romanos. Ele derrotou os romanos com frequência, conseguindo chegar a menos de oito quilômetros da cidade e prestes a atacar seu próprio país, se sua mãe Vetúria e sua esposa Volúmnia não tivessem vindo até ele da cidade e, tomados por suas lágrimas e súplicas, ele tivesse retirado seu exército. E ele foi o segundo, depois de Tarquínio, a se tornar general contra seu próprio país.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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