500 pessoas estão esquecidas em barracos

De acordo com o Motu são 140 famílias morando em barracos (Fotos: Kátia Susanna/Portal Infonet)

No pequeno barraco de Lucileide dos Santos, de 30 anos, que é mãe de quatro filhos e está grávida do quinto, a equipe do Portal Infonet conhece mais uma história de sofrimento e luta pela moradia que começou a ser traçada em janeiro deste ano, quando as famílias atenderam um chamado do Movimento Organizado Trabalhadores Urbanos (Motu) para ocupação de um terreno localizado em Nossa Senhora do Socorro.

Cerca de sete meses após as famílias terem ocupado outro terreno, localizado na mesma região, as reclamações são de abandono e desrespeito. Grávida de sete meses, Lucileide não esconde a decepção por ter que criar os filhos em um pequeno barraco, sem acesso a água potável ou mesmo a banheiro.

"Morava de aluguel em um barraco que ficava na beira da maré no Marcos Freire III. Pegava o dinheiro do Bolsa Família e pagava R$100 de aluguel. Quando fiquei sabendo dessa ocupação não pensei duas vezes, mas já se passou todo este tempo e nada mudou. Infelizmente a situação é difícil, principalmente quando chove”, lamenta.

As famílias se organizaram mas a assistente social não apareceu

O barraco que foi dividido em dois cômodos chama a atenção pela organização e limpeza. “Estou aqui porque preciso, pois não tenho para onde ir. Meus filhos não têm mais ninguém por eles. Estou aqui lutando para que eles tenham uma casa e que possam viver em segurança porque aqui é difícil demais. A minha gravidez é de risco e não posso ficar pegando peso, mas como não tem água tenho que pegar um balde e carregar água para dentro de casa”, diz Lucileide, que acrescenta que a filha de dois anos apresenta problemas na pele em decorrência da má qualidade da água.

Luta

Sentada na frente de casa, a vizinha de Lucileide também relata o cotidiano difícil. Aos 37 anos, Marinalva das Virgens dos Santos, mãe de seis filhos, diz não ter mais sonhos e demonstra preocupação quanto o futuro dos filhos. “Não sei o que será dessas crianças, sempre tive uma vida de muita dificuldade. Já morei na rua pedindo esmolas e tive um filho que morreu de fome. Hoje estou aqui nesse barraco e peço a Deus que ajude os meus filhos”, conta.

Marinalva ao lado de Daiane. Mãe e filha relatam sofrimento

Com um olhar triste, aos 12 anos, a filha de Marinalva conta que estuda e que apesar da pobreza da família, será juíza de direito. “Não vou desisti de ser uma juíza, espero que as autoridades vejam a nossa situação e consigam uma casa para todos nós. Com uma casa vou poder estudar melhor e ajudar a minha família”, fala Daiane das Virgens.

Motu

O coordenador do Motu, Silvanei de Jesus, ressalta que em sete meses as famílias não tiveram nenhuma assistência do poder público. “Essas famílias de Socorro moravam em áreas irregulares pagando aluguel são pessoas que não têm condições de pagar um aluguel em uma casa. O déficit habitacional do município é muito grande, por isso essas famílias vieram para cá para lutar por uma moradia digna. Infelizmente a prefeitura fechou os olhos para essas pessoas e eles estão aqui esquecidos”, diz Silvanei, enfatizando que após sete meses de negociação com o município recebeu a promessa de que na manhã desta segunda-feira, 4, assistentes sociais iriam visitar as famílias e realizar um cadastro.

Lucileide grávida de sete meses lamenta falta de ação do poder público

“As pessoas se organizaram deixaram de ir aos trabalhos, porque muitos fazem bico para sobreviver e infelizmente a assistente social não veio. Tivemos na Cras [Centro de Referência de Assistência Social] que fica ali no Marcos Freire III e a informação é que a assistente social teve uma reunião em Aracaju”, afirma.

O coordenador do Motu salienta que o cadastro será repassado aos órgãos competentes de modo que seja possível realizar uma ação de inclusão social das famílias. “Será também a partir deste cadastro que o Motu irá lutar pela realização de um projeto de moradia popular onde casas sejam construídas especificamente para estas famílias que ocuparam aquele terreno”, conclui.

Prefeitura

No início deste ano o prefeito de Nossa Senhora do Socorro, Fábio Henrique, se reuniu com representantes do Motu. Na ocasião, os dirigentes entregaram ao prefeito a relação das famílias que ainda resistem no local.
O prefeito deixou claro que não é a favor das ocupações irregulares, mas salientou que iria conflitar a lista apresentada com o Cadastro Único do governo federal (Cad), para depois incluir no Cadastro Único do município.

De acordo com o assessor de comunicação do município, Henrique Matos, todas as famílias estão cadastradas, mas ficou faltando documentação de algumas pessoas e as assistentes sociais ficaram de retornar para pegar a documentação. Segundo Henrique Matos essa visita não foi agendada para hoje e ainda não existe previsão das assistentes sociais visitarem as famílias restantes.

Por Kátia Susanna

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