Detran: serviço emperrado e insatisfação generalizada

Ceac lotado gera reclamações (Fotos: Portal Infonet)

Quem não reclama da morosidade da prestação dos serviços do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) em Sergipe? Os problemas começam com as longas filas e há grande deficiência na informatização, cujo sistema sempre está “fora do ar”, transmitindo a sensação de que a clientela enfrenta uma greve branca da classe trabalhadora, movida por uma operação tartaruga, tão comum no serviço público.

Mas o presidente do Sindicato dos Servidores do Detran (Sindetran), Clebson Pinto, nega qualquer mobilização desta natureza envolvendo os servidores. A insatisfação da classe trabalhadora é visível, há disposição da categoria para uma greve que poderá ser deflagrada até o final deste mês, mas no momento os servidores estão desempenhando regularmente a atividade, segundo o sindicalista. O problema, segundo avalia Clebson Pinto, está na estrutura do sistema operacional. “Não é greve, de jeito nenhum. O sistema cai direto, falta servidor para atender a demanda… é uma deficiência grande e nós não temos explicações”, revela o sindicalista.

Bosco Costa recebe sindicalistas

Como consequência dos problemas que envolvem a informática e o reduzido número de servidores, em muitos momentos os guichês acabam vazios e as filas quilométricas nos Centros de Atendimento ao Cidadão (Ceac). Quando há normalidade na prestação dos serviços, os guichês são disputadíssimos e as grandes filas permanecem.  Levantamento rápido, por solicitação da reportagem do Portal Infonet, foi feito pelo Sindetran no dia 5 de julho e revelou que o sistema passou mais de 8 horas ‘fora do ar’, naquele dia, provocando uma grande fila de espera. Há dias, iguais àquele 5 de julho, segundo o presidente do Sindetran, que o sistema cai por volta das 9h e só retorna à normalidade às 15h.

Já no dia seguinte, 6 de julho, o sistema funcionou regularmente e, mesmo assim, a fila foi inevitável, segundo o Sindetran. O expediente, no Ceac da Rodoviária Nova (Terminal José Rollemberg Leite), iniciou às 7h15 com uma fila composta por 209 pessoas. Ao meio-dia, naquela data em que foi feito o levantamento, deste total, 133 pessoas ainda aguardavam atendimento.

Waldez da Silva: senhas esgotadas

A reação dos clientes, que aguardam na fila, confirma a denúncia do Sindetran. “Hoje (dia 13 de julho), cheguei aqui às 8h09 e até agora (11 horas da manhã) não fui atendido, sem falar que está é a terceira vez que tento tirar a segunda via da carteira de habilitação”, conta o psicólogo Waldez da Silva Santos. Nas outras vezes que tentou atendimento, o psicólogo não obteve êxito por falta de senhas. “Não encontrei senha porque tem pouca gente no atendimento para muita gente procurando”, diagnostica.

A professora Maria Augusta Vargas também enfrentou o mesmo problema. Quando ela chegou ao Ceac do Shopping Riomar passava das 8h, conseguiu a senha de número 83 e havia 40 pessoas à frente dela aguardando atendimento. “Quando cheguei estava na senha preferencial de número 68 e agora já chamou a 104ª da preferencial e eu nada. Será que tem mais cliente preferencial nesta grande fila?”, questiona. Ela garante que aquela seria a segunda vez que procurou o atendimento em dez dias. “No primeiro dia que estive aqui esperei quatro horas e agora tô aqui até agora só para receber a segunda via da carteira de habilitação”, reclama.

Zilda Maria: falta servidores

Os despachantes apresentam a solução para corrigir os problemas no Detran: contratação de mais funcionários para o atendimento. “O problema não está na queda do sistema. Não adianta o sistema funcionar regularmente se não tem funcionário para prestar o atendimento”, comenta Marilúcia Silva. “Se o sistema cair dois minutos e não tiver funcionário suficiente, parece que ficou fora do ar por  mais de cinco horas”, complementa.

A despachante Zilda Maria dos Santos compactua com a teoria da colega. “Aqui o único problema é a falta de funcionários”, resume. Ela revela que está aguardando a liberação do documento de um veículo há 13 dias. “Não foi liberado porque faltou funcionário para digitar”, delata.

Solução à vista

O diretor-presidente do Detran, Bosco Costa, também não encontra explicações para justificar a deficiência. Ele reconhece que esta problemática abrange todos os Detrans do país, inclusive foi tema de debate do último encontro de dirigentes destes órgãos organizado pela Associação Nacional dos Detrans (AND). “É um problema nacional e nós temos que trabalhar pelo aperfeiçoamento do sistema”, diz, numa espécie de mea culpa.

Clebson Pinto: nova assembleia geral

Nesta perspectiva, o diretor-presidente anuncia medidas promissoras para minimizar as filas e deixar o cliente satisfeito. “Estamos buscando todos os meios para melhorar a informatização do nosso Detran, que é um patrimônio dos servidores e da população”, garante. Nesta meta, segundo Bosco Costa, está inclusa proposta para virtualização dos serviços.

Ou seja, todas as demandas serão atendidas, futuramente, via internet. “Estamos estudando um meio para que o cliente possa ter acesso aos serviços pela intenet e, com esta alternativa, conseguiremos reduzir a presença da clientela no atendimento”, conjectura.

Insatisfação

Além dos transtornos enfrentados pela clientela, é de insatisfação generalizada o clima entre os servidores quanto à política salarial estabelecida pelo Governo do Estado. Uma dinâmica que tem gerado sensível evasão. Não há estatística, mas o próprio diretor-presidente do órgão admite o pedido de exoneração feito por um expressivo número de servidores concursados que tem buscado novas oportunidades de emprego em outras áreas do próprio serviço público. “O serviço público é atraente e as pessoas se submetem a fazer concurso em diferentes órgãos e em diferentes Estados”, ressalva.

Manifestação durante a greve de maio contra os baixos salários

Segundo levantamento do Sindetran, são 425 servidores, dos quais 80 oriundos da Secretaria de Estado da Administração, para operar as dez unidades do Detran, que prestam  atendimento ao público nos Centros de Atendimento ao Cidadão, dos quais seis estão instalados no interior do Estado e outros quatro na capital, Aracaju. “O número de servidores é insuficiente para atender a toda a clientela”, revela o presidente do Sindetran.

Aliada ao pequeno número de funcionários, está a insatisfação com os baixos salários. O Sindetran reconhece que a defasagem salarial é presente nos Detrans de todos os Estados brasileiros, mas adverte que Sergipe concentra a menor remuneração: R$ 556 (salário base). “Quando eu não era do Detran, achava que o órgão era lindo, que seria muito bom trabalhar nele. Mas depois que entrei, vi que tudo é politicagem”, desabafa o vistoriador Maxwell Carregosa.

Chico Buchinho com sindicalistas: mesa pelo fim da greve

O diretor-presidente do órgão, Bosco Costa, admite a baixa remuneração, mas não aceita associar a atividade do Detran com ‘politicagem’. “Eles estão se excedendo. O grande problema que temos aqui é o salário baixo”, confessa. “Mas eles já sabiam disso quando fizeram o concurso. Nada contra, mas há bacharéis que se submeteram ao concurso para preenchimento de vagas destinadas ao nível médio, de salário mínimo. Ele fez a opção”, reage o diretor-presidente admitindo que muitos concursados já pediram desligamento do órgão.

Gratificação e ValeTransporte

No mês de maio, os servidores do Detran deflagraram greve geral, que teve duração entre os dias 16 a 25 daquele mês, e o retorno à atividade foi motivada pela abertura do canal de negociação com o diretor-presidente que estava chegando ao cargo como uma espécie de extintor, que serviu para apagar o incêndio que queimava as relações dos servidores com o Governo do Estado. Os entendimentos avançaram, os servidores decidiram acatar proposta do Governo, mesmo que inferior à reivindicação, e os serviços foram normalizados.

Mas a insatisfação permanece devido à insegurança da categoria quanto ao atendimento ao pleito. O Sindetran analisa que o Projeto de Lei enviado pelo Governo à Assembleia Legislativa foi desvirtuado e, mais grave, ainda não foi sancionado pelo governador Marcelo Déda o que poderá atrasar o pagamento da gratificação, no valor de R$ 230, já aprovada pelo Poder Legislativo Estadual. “Se a lei não for sancionada até o próximo dia 15, a gratificação não será paga neste mês”, alerta o sindicalista.

A categoria permanece aguardando. O presidente do Sindetran convocará nova assembleia geral dos servidores para o final do mês, justamente para avaliar o comportamento do Governo. A data ainda está sendo definida. A Assessoria de Comunicação do Detran informou que o projeto será sancionado em breve, que já estaria na mesa do governador para a assinatura.

Mas há pontos na lei questionáveis. O Sindicato dos Servidores do Detran não concorda com a carga horária, que acabou acrescida por duas horas semanais, além das 30 horas regulares, para que o atendimento ao cidadão não seja interrompido aos sábados. “Como essas horas serão compensadas, ainda não sabemos. Entendemos que o servidor deve primeiro folgar para depois trabalhar”, diz o sindicalista.

O diretor-presidente do Detran ainda não apresentou a escala, mas garante que nenhum servidor será penalizado. “As duas horas foram colocadas em lei porque o Ceac tem prestação de serviços aos sábados e estas horas serão compensadas. Nenhum servidor vai trabalhar um minuto a mais do que é de direito”, garante. Bosco avisa que não há pendências nas negociações, revelando que todos os pontos da pauta de reivindicações foram negociados e atendidos por parte do Governo.

No entanto, os servidores continuam reclamando do atraso na recarga do Cartão Mais (Vale transporte). Neste mês, segundo o presidente do Sindetran, o Cartão não foi recarregado em tempo hábil, provocando transtornos aos servidores. “Muita gente passou dificuldade até para chegar ao local de trabalho porque não tinha dinheiro para pagar a passagem do coletivo”, garante o presidente do Sindicato. “Mas a contrapartida do trabalhador (6%) já estava descontada”, adverte.

A Assessoria de Comunicação admitiu que houve atraso na recarga do Cartão Mais, mas justificou a falha alegando problemas no sistema e informou que assim que o sistema voltou à normalidade os cartões foram recarregados regularmente.

O presidente do Sindetran também reclama da falta de cumprimento do acordo que estabelece o desconto em folha da contribuição sindical. O diretor-presidente garante que o pleito será atendido, mas não estabeleceu prazo. “É um compromisso do governo e meu com a categoria. Vamos adotar o procedimento o mais breve possível”, assegurou.

Por Cássia Santana

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