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André Luiz Tanan se esconde de jornalistas (Fotos: Cássia Santana/Portal Infonet) |
A Polícia Civil indiciará novamente o baiano André Luiz Mascarenhas dos Santos Tanan por crime de estelionato. Na manhã desta sexta-feira, 6, André Luiz atendeu a intimação do delegado Joel Ferreira, titular da Segunda Delegacia de Polícia, e prestou depoimento acompanhado de uma advogada, que o orientou a não conversar com os jornalistas. “Meu cliente tem o direito constitucional de ficar calado”, respondeu a advogada, que se recusou a identificar-se.
Com o acusado, a Polícia encontrou vários documentos falsificados, cartões de créditos, inclusive talões de cheque em favor de André Luiz Arnecker Tanan, como o suspeito também costumava se apresentar. André Luiz é acusado de lesar milhares de jovens sergipanos que tentaram conquistar o primeiro emprego e buscaram a alternativa nos anúncios que André fez em um jornal de grande circulação no Estado de Sergipe. Apesar do delegado de polícia ter convicção do crime de estelionato, André não será preso.
A prisão depende de decisão judicial, mas o delegado Joel Ferreira informa que ainda não dispõe de elementos que
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Material apreendido no escritório e na residência de acusado |
justifiquem o pedido de prisão preventiva por ser o estelionato um crime de menor potencial ofensivo, apesar da prática provocar grandes prejuízos financeiros às vítimas. “Os elementos para pedir a prisão preventiva de André são frágeis”, explica o delegado, que reuniu quase 50 vítimas do golpe do emprego na Segunda Delegacia de Polícia.
O golpe
No primeiro momento, André Luiz Tanan criou a Red Card, empresa formada basicamente pelas empresas Previstec e Marzul, responsáveis pela comercialização de cartões de crédito que asseguraria à clientela descontos de até 50% na aquisição de produtos e serviços oferecidos por supostas empresas credenciadas. Ele apresentava um portfólio com 38 empresas que mantinham o convênio com a Red Card, mas as empresas consultadas até o momento pela Polícia, segundo informou o delegado Joel Ferreira, negaram o convênio.
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Vítima expõe contrato para compra do cartão |
Neste esquema, veio o golpe do primeiro emprego. Por meio de atraentes anúncios publicados semanalmente em jornal de grande circulação do Estado, André Luiz Tanan conseguiu atrair milhares de jovens em busca do primeiro emprego, interessados nas propostas de salários que variavam entre R$ 600 a R$ 800, com a possibilidade de crescimento até alcançar o posto de supervisor. Para tanto, o candidato teria que ser submetido a três testes, que seriam duas provas teóricas e uma prática.
O golpe, segundo a Polícia, estaria na segunda prova teórica, que era realizada depois da prova prática. Na primeira fase, com a primeira prova teórica que envolvia conhecimentos gerais, todos eram aprovados e seguiam para a prova prática, que seria o desafio de comercializar o cartão da Red Card, na versão individual, que custava cerca de R$ 100, e o familiar, valendo R$ 200. Para passar para a segunda prova prática, o candidato tinha, necessariamente que comercializar pelo menos um destes cartões. “O que levou jovens a convencer familiares a comprar os cartões na tentativa de conquistar o primeiro emprego”, revela o delegado.
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Cadastros de jovens que buscaram o primeiro emprego |
No entanto, na segunda fase da prova teórica, classificada como piscoteste, estava a pegadinha. Nesta fase, nenhum candidato conseguia aprovação. “Aqui na Delegacia, ninguém conseguiu passar no psicoteste que ele aplicava aos candidatos. Até o delegado foi reprovado”, brincou o delegado Joel Ferreira, exibindo uma folha de papel com as perguntas. As questões foram extraídas de revistas de anedotas e apresentavam pegadinhas do tipo ‘no avião há quatro romanos e um inglês, qual é o nome da aeromoça?’ O próprio André deu a resposta ao delegado: ‘Ivone’, que seria a junção dos símbolos do número quatro em algarismo romano (IV) com a palavra em inglês que identifica o algarismo 1 (one).
Os candidatos já tinham feito a transação comercial, o dinheiro já tinha sido entregue a André e o candidato dispensado recebia a informação de que teria sido reprovado no psicoteste. De acordo com a Polícia, há milhares de pessoas lesadas com este golpe que culminou com um prejuízo estimado em meio milhão de reais. De acordo com a Polícia, André Luiz Tanan estaria atuando em Sergipe, com este golpe, há cerca de pelo menos quatro anos.
Cheques falsificados
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Folder da fraudulenta Rede |
Durante as investigações, a Polícia conseguiu apreender um expressivo número de cadastro das vítimas do golpe do primeiro emprego e farta documentação falsificada, que inclui certidão de nascimento, carteiras de identidade com fotos dele e outra com foto de um amigo, com um nome falso, CPF, contra-cheque, declaração de imposto de renda, carteira de estudante do curso de medicina. Toda a documentação era falsificada e, com estes documentos, ele conseguia fazer abertura de contas bancárias e adquirir cartões de créditos de várias bandeiras.
De acordo com a Polícia, André Luiz Tanan também é acusado de comprar cheques falsificados e, com eles, fazer pagamentos pela aquisição de mercadorias e serviços oferecidos por pessoas idôneas. Uma das vítimas desconfiou porque André se confundiu e fez assinaturas diferentes nos cheques que emitiu em favor de um credor.
Pela internet, André Luiz Tanan é acusado de criar um site de vendas para comercializar produtos eletroeletrônicos e, após receber o dinheiro, não entregava a mercadoria. Este crime foi descoberto, segundo Joel Ferreira, por uma das vítimas que seria um policial militar residente em São Paulo, que, em 2008, teria comprado um computador no site de André. Ele fez o pagamento referente ao bem conforme a exigência e, quando cobrou o bem, recebeu a ironia de André, que o teria classificado de ‘otário’. “Também há vítimas em Santa Catarina, no Paraná…”, enfatiza o delegado.
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Joel Ferreira: elementos frágeis para pedido de prisão preventiva |
De acordo com a Polícia, André Luiz Tanan foi indiciado com base nos artigos 171, 297, 298, 299 e 304, combinado com o artigo 71 do Código Penal, por falsificação de documentos públicos e privados, falsidade ideológica em documentos verdadeiros, uso de documentos falsos e por prática de estelionato contra empresas e particulares diversos, por meio do golpe do emprego e fraudes documentais, em continuidade delitiva, sujeito a penas, que somadas, poderão culminar com prisão por mais de 15 anos.
O delegado informa que já identificou e interrogou outros comparsas de André Luiz Tanan e está em busca de outros estelionatários que também teriam atuado com o acusado.
Vítimas
Na sala onde André Luiz Tanan teria montado o escritório, no Centro de Aracaju, a Polícia encontrou vários cadastros, inclusive com fotos, de jovens que estariam em busca de emprego. Por meio daqueles cadastros, a Polícia identificou várias vítimas, muitas das quais compareceram à Delegacia na manhã desta sexta para prestar depoimento.
Entre as vítimas está o analista de pessoal José Barbosa dos Santos, que se candidatou à vaga de supervisor em 2010. Na ânsia de segurar a vaga, Barbosa pagou, com dinheiro que economizou, R$ 150 pelo cartão da Red Card. “Vi o anúncio no jornal, mandei o currículo por e-mail e 40 minutos depois, ele me ligou marcando o encontro para o dia seguinte”, relata Barbosa. No dia e hora marcados, Barbosa compareceu, se submeteu à primeira prova prática, quando foi convencido a arregaçar as mangas para vender os cartões, que seria a segunda fase, classificada de prova prática para a conquista da vaga.
Como encontrou dificuldades para vender o cartão, Barbosa optou por se desfazer das economias e, desta forma, sentia-se preparado para se manter no emprego. Mas, como os demais, acabou surpreendido pelo psicoteste, que o reprovou. “Só fiquei sabendo que fui reprovado porque passou um monte de dias e ele não me telefonou”, revela. “Decidi ir atrás dele e foi aí que ele me disse que eu teria sido reprovado e me ofereceu o emprego de volta dizendo que me dava uma nova chance, desde que eu vendesse outro cartão. Aí eu não quis e desisti do emprego”, lembra.
Por Cássia Santana
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