Caso David:PM e Polícia Civil divergem nas investigações

Vanusa exibe Boletim Reservado: revisão de IPM (Foto: Portal Infonet)

São conflitantes as teses das polícias militar e civil nos respectivos inquéritos que investigaram a morte do adolescente David Philipe Mota Santos, à época com 17 anos, assassinado por tiro disparado por um policial militar no dia 12 de março do ano passado. A morte de David Philipe revoltou a comunidade do Parque dos Faróis, em Nossa Senhora do Socorro, local do crime e onde a vítima residia.

Por um lado, a polícia civil indiciou três policiais militares, dois dos quais responderão a processo por fraude processual e um policial militar pelo assassinato. A polícia civil indica que os policiais militares incluíram uma arma no cenário do crime para sustentar a tese de que o adolescente estaria armado.

A polícia militar, por sua vez, relata que não encontrou indícios de fraude processual e indiciou apenas um policial militar, aquele que disparou o tiro que atingiu a cabeça de David Philipe, por homicídio doloso. O Inquérito Policial Militar (IPM) foi homologado pelo tenente-coronel Vivaldy Cabral, que indicia apenas o tenente Jamisson dos Santos, responsável pelo disparo que atingiu David Philipe. Este inquérito foi encaminhado a 6ª Vara Criminal, responsável pelos processos que envolvem policiais militar.

Outros crimes

Já a delegada Tereza Simony, do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), aponta outros crimes, além do homicídio doloso, na ação policial que culminou com o assassinato de David Philipe. Neste inquérito, o tenente Jamisson dos Santos foi indiciado por homicídio, enquanto o cabo Saulo Farias Santos Silva e o soldado Bruno do Nascimento foram indiciados por crime contra a administração da justiça e fraude processual.

A delegada entendeu que o cabo Saulo Farias e o soldado Bruno do Nascimento tentaram incluir uma arma no cenário do crime, um revólver de calibre 38, com o argumento de que aquela seria a arma que estaria com David Philipe no momento da abordagem policial.

Mensagem que pai de David postou no facebook (Reprodução)

David Philipe ocupava um ciclomotor pilotado, naquele momento, por Leonardo Rodrigues do Nascimento, o Leozinho, também com 17 anos à época, que acabou também sendo assassinado e o corpo carbonizado foi encontrado pouco mais de oito meses depois da morte de David Philipe numa estrada deserta no Conjunto Guarajá, naquele mesmo município.

A delegada Tereza Simony concluiu as investigações sobre a morte de David Philipe no dia 12 de dezembro e, no dia 19, os autos foram distribuídos na 2ª Vara Criminal da Comarca de Nossa Senhora do Socorro. Já a morte de Leozinho continua sob investigação no DHPP sob o comando da delegada Juliana Alcoforado. O Portal Infonet tentou falar com Alcoforado, mas não obteve êxito.

A delegada Tereza Simony, que também acompanhou as investigações preliminares deste outro crime, informou que, nos primeiros momentos, a polícia não encontrou vínculo entre a morte de David Philipe e o assassinato de Leozinho e observa que Leozinho teria envolvimento com o tráfico de drogas e roubo.

O tenente-coronel Vivaldy Cabral não vê problemas na divergência observada nos inquéritos. “O Inquérito Policial Militar foi feito com base nas provas colhidas, nos depoimentos prestados por pessoas que se apresentaram como testemunhas e nas perícias realizadas pelo Instituto de Criminalística e apenas o tenente foi indiciado por homicídio doloso contra a vida, mas não vislumbramos nenhum tipo de fraude. Eles [os adolescentes] não atiraram, mas o que morreu estava armado”, ressaltou o tenente-coronel Vivaldy, em entrevista concedida ao Portal Infonet.

“Vale ressaltar que a Polícia Militar é totalmente isenta, fizemos tudo com total responsabilidade para que a gente desse uma resposta justa, mas quem vai decidir tudo é o Poder Judiciário”, completou.

Dor e esperança

Apesar da dor, os pais de David Philipe sentem-se aliviados com a conclusão das investigações realizadas pela polícia civil. Na página pessoal do facebook, o cabo Djalma Santos, da Polícia Militar de Sergipe, pai de David Philipe, fez um emocionado desabafo. “A todos eu digo, a falta e o vazio é grande, nada trará meu filho à vida, David Philipe foi assassinado e enterrado como um marginal que confrontou com policiais da RP (Radio Patrulha), no bairro Parque dos Faróis em Nossa Sra. do Socorro -SE. Mas diante da justiça de DEUS e da justiça dos homens sempre mantive-me firme, pés no chão, já são quase 1 ano, vivi momentos até de desilusão por conta comentários vazios proferidos por quem não conhecia meu filho, a justiça tarda mas não falha, está sendo provado por tudo e por todos quem são realmente os verdadeiros marginais, ora travestidos de policiais militares”, retrata o texto postado pelo pai de David Philipe.

Um sentimento compartilhado pela comerciante Vanusa da Mota, mãe do adolescente morto. “Me sinto triste por não poder ter meu filho no meu convívio. Meu filho estava sendo visto como traficante e que portava arma. Mas estou feliz por saber que a justiça está sendo feita. As autoridades viram que meu filho estava desarmado e que houve o intuito de matar”, desabafou, em conversa com a equipe de reportagem do Portal Infonet.

A comerciante exibe também cópia do Boletim Reservado do Comando Geral da Polícia Militar contendo o parecer do tenente-coronel Vivaldy Cabral, que homologou o Inquérito Policial Militar (IPM), mas destaca a necessidade deste IMP ser revisto. “No primeiro momento, achei até plausível esta conclusão da Polícia Militar, mas acho que tem que ser feito outro [IPM] porque eles [os policiais militares envolvidos na morte de David Philipe] tentaram reverter a situação, quando tentaram plantar uma arma ao lado do corpo do meu filho, dizendo que o tenente atirou em legítima defesa porque meu filho estava armado. Mas meu filho não estava armado e isso ficou provado na polícia civil”, observa a comerciante, numa referência ao inquérito presidido pela delegada Tereza Simony. “A delegada falava sempre que estava fazendo tudo minuciosamente para não ter erros e eu esperei. Realmente, foi feita a coisa certa e a delegada está de parabéns”, comenta.

Por Cássia Santana

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