A Geopolitica da Agricultura Sergipana

(1)    Saumíneo da Silva Nascimento

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE divulgou recentemente uma importante pesquisa sobre a economia agrícola brasileira, trata-se da Produção Agrícola Municipal – Culturas Temporárias e Permanentes – Base 2012. Trata-se de um trabalho que investiga os principais produtos oriundos de lavouras temporárias e permanentes da agricultura do nosso país, tendo-se inclusive detalhamento municipal e com a mensuração da safra de 64 diferentes produtos.

Dessa forma, com o objetivo de contribuir para o conhecimento da realidade econômica de Sergipe, especificamente na agricultura, abordarei alguns tópicos que revelam e caracterizam a nossa tipologia produtiva neste setor. Irei comparar os dados de Sergipe no contexto de país, especialmente as evidências e relevâncias da nossa produção e produtividade dentro da Região Nordeste, portanto farei uma abordagem geopolítica.
BRASIL – No ano de 2012, conforme a pesquisa do IBGE, foram cultivados 69,2 milhões de hectares (1,0 a mais que em 2011), resultado de maiores áreas cultivadas com soja e milho, impulsionados pelos bons preços praticados no mercado. Já o valor da produção da agricultura alcançou a cifra de R$ 204,0 bilhões, 4,3% a mais que em 2011. O milho, o feijão e o algodão herbáceo foram as culturas que mais contribuíram para este aumento.

Analisando-se o valor da produção, observa-se que as três principais culturas concentram 57,7% do montante. Destaque para a soja que mantém a liderança, tendo o maior valor de produção (24,7%), seguida da cana-de-açúcar com 19,8%, e do milho com 13,2%. A nossa principal cultura, a soja ocupa 25,1 milhões de hectares, o que representa 36,3% da área total plantada com culturas no país. O quadro adiante descreve as principais culturas do Brasil – base de 2012.

Tabela 1 – Participação dos 20 principais produtos no Valor da Produção – Brasil – 2012

Cultura

Participação(%)

1 – Soja

24,7

2 – Cana-de-açúcar

19,8

3 – Milho

13,2

4 – Café

8,2

5 – Algodão Herbáceo

4,0

6 – Mandioca

3,4

7 – Arroz

3,1

8 – Feijão

3,0

9 – Fumo

2,3

10 – Laranja

2,3

11 – Banana

2,2

12 – Tomate

1,6

13 – Batata-inglesa

1,2

14 – Trigo

1,1

15 – Uva

1,0

16 – Abacaxi

0,8

17 – Cacau

0,6

18 – Cebola

0,6

19 – Mamão

0,6

20 – Melancia

0,5

21 – Demais 44 produtos

5,4%

Fonte : IBGE – PAM (Produção Agrícola Municipal) – 2012

SERGIPE – Sergipe é o menor Estado do Brasil (área de 21.910 Km2)  e a segunda menor unidade federativa, superior somente ao Distrito Federal (área de 5.802 km2) ; a agricultura sergipana tem o menor peso na composição do PIB do Estado (4,6%), temos 45% do nosso território inserido em no semiárido Nordestino que convive ciclicamente com um desastre natural da seca, este é um contexto que poderia implicar em pouca relevância da nossa agricultura para o Brasil;  porém a despeito destas características geográficas, Sergipe detém 0,5% do valor da produção agrícola brasileira na base de 2012, mesmo percentual do ano de 2011. Há uma curiosidade que vale evidencia neste breve ensaio, o menor Estado do Brasil (Sergipe) possui o mesmo valor da produção agrícola do maior Estado do Brasil (Amazonas com uma área de 1.570.745.680 Km2), parece inacreditável, pois no território do Amazonas caberiam 71.690,81 vezes o Estado de Sergipe. Dentro da Região Nordeste, na base de 2012, o peso da participação de Sergipe na produção agrícola brasileira é igual ao Rio Grande do Norte e Paraíba (0,5%). Vale registrar também que o peso da produção agrícola de Sergipe é quase igual ao peso da produção agrícola do 2º Estado mais rico do Brasil, o Rio de Janeiro que na base de 2012 detinha 0,6% do valor da produção agrícola do Brasil. O Estado de São Paulo mantém a liderança com uma participação de 17,8% da produção agrícola do Brasil.

Em Sergipe o principal produto é a cana-de-açúcar que no ano de 2012 apresentou um valor de produção de R$ 230.747 mil, representando 22,3% do valor da produção agrícola do Estado. Cabe registrar que a cana-de-açúcar é o segundo principal produto do Brasil e é líder enquanto produto nos seguintes Estados: São Paulo, Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. Sergipe detém a maior produtividade de cana-de-açúcar na Região Nordeste com 64.878 Kg/hectare, Alagoas fica em 2º lugar com uma produtividade de 63.869 Kg/hectare.

Laranja – O Estado de Sergipe foi o 5º maior produtor de laranja do Brasil no ano de 2012, com uma área cultivada de 56.369 hectares e uma produção de 821.940 toneladas, com um rendimento médio de 14.581 Kg/hectare e um valor da produção de R$ 140.381 mil, tendo uma participação de 4,6% no total da produção nacional. Acima de Sergipe, os maiores produtores de laranja por ordem de produção são: São Paulo, Bahia, Paraná e Minas Gerais. Porém, conforme a pesquisa do IBGE no ano de 2012 persistiram os problemas fitossanitários, o instituto também destaca que o ano de 2012 ficou fortemente marcado pelas imensas perdas na citricultura paulista, além disso, a crise no Mercado Europeu e as sansões impostas pelos Estados Unidos, são apontados como responsáveis pelo prejuízo da citricultura nacional no ano de 2012 e Sergipe não ficou fora deste contexto.

Mandioca – O IBGE considera a mandioca com um dos principais alimentos energéticos consumidos no Brasil. Sergipe não aparece entre os seis principais produtores do Brasil, que o IBGE vem apontando por cada cultura, porém o município de Lagarto foi o 7º maior produtor de mandioca no Brasil em 2012 com uma área colhida de 8.200 hectares, uma produção de 155.800 toneladas, um rendimento médio de 19 toneladas/hectare e uma valor da produção de R$ 60.373 mil. Lagarto produz 0,75 da produção nacional de mandioca. No Estado de Sergipe em seu conjunto, a área plantada e colhida em Sergipe foi de 30.730 hectares, produção de 450.486 toneladas, produtividade de 14.659 Kg/hectare, a 2ª melhor produtividade do Nordeste, na Região a média de produtividade foi de 8.419 Kg/hectare, a maior produtividade foi de Alagas com 15.046 kg/hectare.
Abacaxi – Sergipe plantou 896 hectares e colheu 884 hectares, com uma produção de 21.852 toneladas, um rendimento médio de 24.718 Kg/hectare e um valor da produção de R$ 20.894 mil. Sergipe foi o 5º maior produtor de abacaxi do Nordeste em 2012.

Algodão herbáceo (em caroço) – Sergipe plantou e colheu 35 hectares, produziu 26 toneladas, com um rendimento médio de 743 Kg/hectare e R$ 49 mil de valor da produção. Para mim o importante é esta cultura voltar ao cenário produtivo do Estado, mesmo que em pequenas proporções, mas está voltando.

Amendoim (em casca) – área plantada e área colhida de 1.325 hectares, com uma produção de 1.588 toneladas, um rendimento médio de 1.196 Kg/Hectare e um valor da produção de R$ 2.304 mil. Sergipe é o 2º maior produtor de amendoim do Nordeste, atrás somente da Bahia e no Brasil, é o 6º maior produtor de amendoim.

Arroz (em casca) – área plantada e área colhida de 4.179 hectares, com uma produção de 26.661 toneladas, rendimento médio de 6.380 Kg/hectare e um valor da produção de R$ 19.500 mil. Sergipe é o 4º produtor do Nordeste. Uma curiosidade, o vizinho Estado da Bahia plantou 14.970 hectares de arroz e colheu 14.418 hectares, mas só obteve de produção 24.455 toneladas (menos que Sergipe), em função da produtividade da Bahia ter sido apenas 27% da produtividade de Sergipe.

Batata-doce – área colhida e área plantada de 3.352 hectares, com uma produção de 40.660 toneladas e um rendimento médio de 12.112 Kg/hectare e um valor da produção de R$ 25.821 mil. Sergipe é o maior produtor de batata-doce do Nordeste e tem também a maior produtividade do Nordeste. Sergipe é o 4º maior produtor de batata-doce do Brasil, atrás somente do Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo.
Fava (em grão) – área plantada de 502 hectares e área colhida de 457 hectares, produção de 206 toneladas, rendimento médio de 451 Kg/hectare, sendo a 2ª melhor produtividade da região Nordeste, atrás somente do Rio Grande do Norte. Vale registrara que o Rio Grande do Norte teve grande perda nesta cultura, pois colheu somente 10 hectares de 327 hectares que plantou, obtendo somente 5 toneladas de produção, então efetivamente a melhor produtividade do Nordeste foi mesmo de Sergipe.

Feijão – área plantada de 21.247 hectares e área colhida de 12.658 hectares, percebe-se que nesta cultura tivemos uma perda de 40%, face os problemas de uma estiagem mais prolongada que afeta a nossa produção que é de feijão de sequeiro. A quantidade produzida foi de 6.304 toneladas, o rendimento médio foi de 498 Kg/hectare, sendo a 2ª melhor produtividade do Nordeste, atrás somente da Bahia que apresentou uma produtividade de 509 Kg/hectare.

Fumo  (em palha) – área plantada e área colhida de 610 hectares, produção de 877 toneladas, rendimento médio de 1.438 Kg/hectare e R$ 4.822 mil de valor da produção. Sergipe obteve a maior produtividade do Nordeste em 2012, a média da Região foi de 1.029 Kg/hectare.

Girassol (em grão) – área plantada e área colhida de 190 hectares, produção de 185 toneladas, rendimento médio de 974 Kg/hectare e R$ 241 mil de valor da produção. Sergipe foi em 2012 o maior produtor  de Girassol do Nordeste e obteve também a maior produtividade da Região. A produção de girassol em Sergipe representou 91% da produção do Nordeste.

Melancia – área plantada e colhida de 508 hectares, produção de 10.655 toneladas e produtividade de 20.974 kg/hectare e valor da produção de R$ 3.556 mil.

Milho – área plantada de 153.933 hectares, área colhida de 81.690 hectares, equivalente a  53% da área que foi plantada, ocorreu com o milho o mesmo fenômeno do feijão perda de área por conta do prolongamento da estiagem, especialmente no semiárido do Estado, onde referidas culturas são mais cultivadas. A produção foi de 290.575 toneladas, ainda assim foi a 4ª produção da Região Nordeste; rendimento médio de 3.557 Kg/hectare, sendo a segunda melhor produtividade do Nordeste, atrás somente da Bahia; o valor da produção foi de R$ 168.525 mil.

Sorgo rangífero (em grão) – área plantada e colhida de 362 hectares, produção de 724 toneladas, rendimento médio de 2 toneladas/hectare, valor da produção de R$ 434 mil, Sergipe obteve em 2012 a 3ª melhor produtividade do Nordeste, a média da região foi de 681 kg/hectare.

Tomate – área colhida e plantada de 264 hectares, produção de 4.306 toneladas, rendimento médio de 16.311 Kg/hectare, valor da produção de R$ 4.042 mil.

Banana – área colhida de 3.879 hectares e área de colhida de 3.324 hectares, produção de 42.142 toneladas, rendimento médio de 12.872 Kg/hectare, valor da produção de R$ 34.558 mil.

Coco-da-Bahia – área plantada de 39.486 hectares e área colhida de 38.619 hectares, produção de 242.852 toneladas, rendimento médio de 6.280 Kg/hectare, valor da produção de R$ 166.411 mil. Sergipe é o 3º maior produtor de coco do Nordeste, atrás somente da Bahia e do Ceará.

Goiaba – área plantada de 424 hectares e área colhida de 404 hectares, 7.176 toneladas de produção e um valor da produção de R$ 6.758 mil.

Limão – área plantada de 917 hectares, área colhida de 857 hectares, produção de 11.014 toneladas, rendimento médio de 12.852 Kg/hectare e valor da produção de R$ 8.930 mil.

Mamão – área plantada de 562 hectares, área colhida de 512 hectares, produção de 15.992 toneladas, rendimento médio de 31.234 Kg/hectare e valor da produção de R$ 13.860 mil.

Manga – área plantada de 1.030 hectares, área colhida de 1.012 hectares, produção de 21.325 toneladas e uma produtividade de 21.072 Kg/hectare, com um valor da produção de R4 14.654 mil.

Maracujá – área plantada de 4.627 hectares, área colhida de 3.944 hectares, produção de 35.977 toneladas, rendimento médio de 9.12 Kg/hectare e um valor de produção de R$ 26.685 mil.

Em conclusão, julgo que o panorama apresentado neste ensaio revela que mesmo Sergipe sendo um pequeno Estado, convivendo com o determinismo geográfico da seca, aumentando a cada ano o deslocamento da população rural para o meio urbano, com uma forte base produtiva mineral, ainda apresentando um elevado coeficiente de Gini da distribuição da terra; consegue possuir relevância na sua produção agrícola, sendo destaque em termos de produção e produtividade de diversas culturas e demonstrando raízes de uma busca de eficiência em sua geopolítica agrícola, tendo a participação efetiva de diversos agentes que moldam este mosaico de produção e cultura rural do nosso Estado.

(1)    Economista, Mestre e Doutor em Geografia – Secretário de Desenvolvimento Econômico, da Ciência e Tecnologia de Sergipe.

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