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Sistema bombas sucateado (Fotos: Cássia Santana/Portal Infonet) |
Irregularidades na prestação de contas dos recursos destinados pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) fez o órgão recuar e limitar os valores que serão destinados neste ano ao perímetro irrigado de Propriá, responsável pelo cultivo da rizicultura e pela psicultura nos municípios de Propriá, Telha e Cedro de São João.
A Codesvasf já deu início ao processo para criação da Associação dos Produtores do Perímetro Irrigado de Propriá e, nesta nova versão, já autoriza os gestores da futura entidade a fazer cobrança aos cerca de 261 irrigantes que ocupam os 311 lotes do perímetro de Propriá para pagamento da fatura da água.
A conta da energia elétrica ficará sob a responsabilidade da Codevasf como medida compensatória aos efeitos da barragem de Xingó, que provocou a redução da vazão do rio São Francisco e prejuízos à rizicultura na região. “Pagaremos a energia, mas não dá para a água ser de graça”, avisa o gerente de irrigação da Codevasf, Ricardo Martins.
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Fiação coloca em risco até funcionários |
A antiga associação, denominada Distrito de Irrigação de Propriá, acabou destituída em decorrência de irregularidades na prestação de contas. O ex-gerente do distrito, Heráclito Azevedo Oliveira [atual secretário de irrigação do município de Canindé do São Francisco], é citado nos processos que tramitam no Tribunal de Contas da União (TCU).
Como consequência, foi realizada tomada de contas especial e o TCU condenou os gestores a pagamento de quase R$ 260 mil, além de multa no valor de R$ 30 mil. Outros processos continuam em tramitação no órgão de contas.
O Portal Infonet tentou ouvir Heráclito Azevedo desde a sexta-feira, 31, mas não obteve êxito. O Portal permanece à disposição do ex-gestor do distrito. Informações podem ser encaminhadas por e-mail jornalismo@infonet.com.br ou por telefone (79) 2106 – 8000.
Dificuldades
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Pedrinho: briga com donos de lotes vizinhos |
Os irrigantes reclamam da falta de atenção da Codevasf na região. O canal adutor, que deveria ser revestido de concreto, está tomado por matagal e impede o escoamento da água que deveria ser bombeada na base em Propriá; a maioria das bombas está desativada e o sistema de eletrobomboa está completamente sucateado.
Devido à precariedade no sistema, os irrigantes estão contratando serviços terceirizados para pegar água do subsolo e fazer o bombeamento com o intuito de inundar a área destinada à rizicultura. “Pago R$ 40 por hora de motor e para colher aqui são cerca de 25 a 30 horas de motor”, comenta Iran Freire, um dos irrigantes em Telha.
A falta de água tem causado sérias brigas entre os próprios irrigantes. Nos primeiros lotes, a água chega primeiro e aí a gente fecha as compotas para a água não entrar no outro lote e é capaz de sair briga de faca”, conta Lenilson Bazílio de Oliveira, conhecido na região como Pedrinho. “O prejuízo é muito porque nunca tem água e a gente precisa de água para preparar o terreno adequadamente”, observou Nivaldo Ananias de Siqueira, que sempre entra em desentendimento com Pedrinho na batalha pela água.
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Iran Freire: pagamento por hora bomba |
Os irrigantes não acreditam na Codevasf. “A Codevasf não faz nada, só tem blá, blá, blá. É demagógica”, considerou Cledison Dória, o Keka, numa referência aos investimentos recentemente anunciados pela companhia.
Investimentos
O gerente irrigação da Codevasf, Ricardo Martins, admite o sucateamento, mas garante que a companhia não cruzou os braços diante dos problemas. Segundo o gerente, a maior dificuldade é que o Governo Federal não fez os investimentos necessários nos últimos 40 anos, mas garante que neste momento os recursos já começaram a ser liberados.
Estão previstos investimentos na ordem de R$ 102 milhões para garantir a assistência técnica e reabilitação de todo o sistema com a perspectiva de produzir entre 3,6 mil toneladas a 4 mil toneladas de arroz neste ano. Segundo o gerente, a Codevasf já investiu cerca de 80% dos recursos previstos e há empenhados cerca de R$ 9,6 milhões para realizar a pavimentação granítica dos principais corredores de escoamento de produção, reabilitação do sistema de drenagem e reabertura do canais de aproximação, além de estar em andamento a licitação, em valor de R$ 34 milhões, para realibilitação de todo o sistema de canais, com início de obras previsto para o mês de março deste ano.
Beneficiamento
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Canais tomados pelo matagal |
Na região há cerca de três usinas de beneficiamento de arroz da iniciativa privada. Um dos maiores, João Nascimento Lima, ergueu a usina em Telha com capacidade de beneficiar 28 mil quilos de arroz por dia. “Instalei aqui para comprar o arroz daqui. Mas, com esses problemas, tenho que comprar arroz de Alagoas”, comenta o empresário.
Mas o atravessador, na ótica do gerente da Codevasf, é um dos grandes empecilhos para o sucesso dos perímetros irrigados. A indústria de beneficiamento deve ser administrada e gerida pelos próprios irrigantes, na ótica do gerentes da Codevasf, que tem como disponibilizar cerca de R$ 1,4 milhão para erguer uma usina. “É só os produtores se organizarem que faremos o investimento. O que não dá é a Codevasf construir e virar um elefante branco”, diz. “Eles têm que se organizar e mostrar que têm capacidade de operar e administrar, têm que mostrar um plano de trabalho”, enfatiza.
Por Cássia Santana