Novas regras gramaticais pretendem unificar a língua portuguesa

Muitas regras e poucas exceções. Esse é o argumento utilizado por várias pessoas ao afirmarem que detestam as aulas de Gramática. Entretanto, para facilitar a vida dos estudantes e tornar a língua portuguesa mais adequada ao estudo em outros países, O Ministério da Educação anunciou uma nova reforma gramatical. Em entrevista ao Portal Infonet, a professora Lígia Sales diz que não há motivo para preocupação. “O que parece ser ruim, vai facilitar a vida de todas as pessoas”. Então, leitor, antes de correr para a gramática – ou fugir dela -, confira nossa entrevista.

Portal Infonet – Em 1990, houve uma proposta de unificação da Língua Portuguesa nos países que a adotam como língua oficial, mas não se obteve êxito. Tal projeto voltou a ser questionado pelo Ministério da educação e está previsto para vigorar em 2008. Como a senhora analisa tais mudanças?
Lígia Sales – Pelo que estou sabendo, ainda não houve uma manifestação de Portugal a respeito dessa mudança, que visa unificar a linguagem escrita entre os países que adotam a língua portuguesa. Não acredito que as novas regras entrem em vigor ainda este ano porque já começamos a trabalhar os alunos para os vestibulares e concursos. Essa mudança é gradativa e não pode ser feita de uma hora para outra. Eu analiso essa nova fase como uma evolução da língua, uma forma de a população dos mais diversos países de língua portuguesa poder se comunicar sem sacrifícios. Se cada país mantiver suas regras, nunca o Português será esclarecido e as dúvidas em salas de aula serão constantes.

Infonet – O que será modificado?
LS – Basicamente, a acentuação gráfica. Não existirão mais acentos diferenciais e trema. As paroxítonas terminadas em “o” duplo, não mais levarão acento. Por exemplo, as palavras “abençôo” 

Lígia Sales
e “enjôo” serão escitas “abençoo” e “enjoo”.  O acento circunflexo também será retirado da terceira pessoa do plural dos verbos “crer”, “dar”, “ler”, “ver” e seus derivados. Assim, serão corretas as escritas “creem”, “deem”, “leem” e “veem”. Nosso alfabeto passará a ter 26 letras, incorporando “K”, “w” e “y”. Além disso, as palavras paroxítonas terminadas em ditongo aberto como, por exemplo, “assembléia” e “jibóia” perderão seus acentos.

Infonet – Essas mudanças não serão confusas para os alunos?
LS – Para os mais velhos, sim, pois vão ter que se adaptar e “esquecer” o que aprenderam. Mas, para os mais, novos, será muito mais fácil. As crianças vivem reclamando dos acentos ortográficos. Com as novas regras, elas vão entender melhor a nossa língua. Muitas pessoas não gostam de Português por dois motivos: verbos e acentos. Acho que agora isso vai mudar, pelo menos um pouco.

Infonet – As novas regras gramaticais valem apenas para a língua escrita. Como a senhora analisa a oralidade da nossa língua?
LS – A língua portuguesa é extremamente rica. Tivemos a oportunidade de criar várias línguas a partir de uma só e isso é muito produtivo. Não é certo dizer que falamos todos a mesma língua no Brasil porque não é verdade. Quem mora no sul do país pronuncia palavras muitas vezes incompreensíveis para quem mora no norte e vice-versa. Nosso povo tem uma variedade incontável de palavras. Temos os dialetos, os regionalismos e as gírias, que mudam com o passar do tempo. Nossa língua é muito rica e é uma pena que muitas pessoas estejam fazendo mau uso dela.

Infonet – Como assim?
LS – A internet veio para facilitar a vida das pessoas, mas trouxe consigo uma forma rápida e inconveniente de escrever as palavras. Se alguém que não teve acesso à cultura e à informação fala “Nós vai pra feira amanhã”, comete um erro gramatical grave, mas não um erro lingüístico. Essa é a concordância que a pessoa conhece, não se pode exigir um texto coerente e formal dela. Não está errado. No entanto, quando alguém instruído escreve por e-mail ou MSN “Vc naum foi pra aula pq?” está desrespeitando a sua língua-mãe. A internet veio para facilitar o contato entre as pessoas, não para inventar um novo idioma. 

Infonet – A linguagem utilizada na internet prejudica o desempenho dos alunos?
LS – Claro. Principalmente das crianças, que já sentem dificuldades com a disciplina e buscam sempre o mais fácil. Para escrever, as pessoas tomam como referência o que falam no dia a dia. Por isso, são muito comuns os erros “Maria namora com José”, “Cheguei na casa da minha tia ontem” ou “Fui pra praia semana passada”. As pessoas precisam se policiar mais. Temos que valorizar nosso idioma e pronunciá-lo corretamente. Não é isso o que fazemos ao estudarmos tão arduamente Inglês ou Espanhol, por exemplo?

Infonet – Qual seria a melhor forma de conscientização?
LS – No caso dos adultos, a melhor forma é o próprio policiamento, saber o que pode ser falado coloquialmente, mas nunca escrito coloquialmente. Quando escrevemos, estamos passando o que é a nossa língua para as outras pessoas e isso deve ser feito com muito cuidado. No caso das crianças, seria bom que os pais incentivassem a leitura e fiscalizassem a forma como escrevem no MSN. Isso facilitará a vida da criança na escola e no próprio convívio social. Criar novas palavras para se expressar é muito bom e interessante para o desenvolvimento da linguagem oral, mas escrever é algo que deve ser feito com um imenso cuidado porque a língua de um país é uma grande preciosidade.

Por Jéssica Vieira e Gabriela Amorim

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