A política de cotas, seja racial ou social, representa um dos mais expressivos avanços da sociedade brasileira com vistas a reparar a sua histórica e quase naturalizada política de discriminação e intolerância. Em nosso país “varonil”, democracia, liberdade e igualdade de direitos e oportunidades, durante muito tempo e para muitos, só teve sentido quando não conflitava com os interesses pessoais ou de grupos político, ideológico e economicamente hegemônicos. As cotas, além de ampliar a possibilidade de mobilidade social, revigoram o necessário debate sobre lutas de classe, intolerância e naturalização dos fenômenos históricos.
Na grande teia global, onde a uniformização dos traços materiais e simbólicos se impõe de modo avassalador, qualquer movimento em descompasso com a ordem costuma ser intransigentemente desqualificado. A tônica liberal do estabelecimento por competência se reafirma e discrimina qualquer perspectiva que culpe o sistema pelo atual estado de parcelas expressivas das populações negras e pobres. Para os da “competente e competitiva ordem” os problemas dessas populações carentes se iniciam e se encerram nelas mesmas, são elas a raiz e copa da frondosa árvore de maus frutos sociais. Os discursos que se arvoram na defesa da meritocracia liberal são excludentes e estão convencidos e comprometidos com o convencimento de que é democrático e justo tratar com igualdade os desiguais, oferecendo aos sem oportunidades (leia-se sem qualidade de educação, sem boa saúde, sem saneamento, sem respeito, sem etc…), a oportunidade de concorrer e alcançar os mais destacados papéis e status sociais. Mera quimera!
Incisivas críticas anti-cotas são vociferadas por diversas instituições privadas de Ensino Médio, que têm nos índices de aprovação dos vestibulares a pretensa e frágil certificação da sua qualidade. Aqui, nas terras do cacique Serigy, até passeatas já foram realizadas pelos que se diziam preocupados com os “riscos” que o acesso dos negros e pobres poderiam causar à qualidade do Ensino Superior sergipano. Mas o que realmente se descortina no gesto “cívico” dos serygienses do Ensino Médio privado é um deslavado sentimento de posse das vagas do Ensino Superior público. Professores, alunos e direção, que raciocinam prioritariamente pelo método falso-verdadeiro como se o maniqueísmo das suas sentenças fosse um representação válida e coerente da qualidade da boa educação.
Para mim, filho e neto de negros pobres, a ocupação de papéis e status no ambiente acadêmico não foram resultantes de cotas, pois elas ainda não estavam estabelecidas, mas se já as tivessem faria questão de ingressar ao Ensino Superior por esta via, pois entendo as cotas, raciais ou sociais, como um instrumento, sobretudo, político e, portanto uma ação de poder que resulta da luta organizada dos movimentos sociais. Cotas não são um benefício, uma premiação ou uma demonstração de arrependimento ou piedade, são instrumentos, tentativas de reparação das injustiças de um cenário em que a pretos e pobres sempre foram reservadas cotas nos papéis de bandidos.
Autor: Antonio Bittencourt Júnior, Coordenador do curso de História da Unit, graduado em História e mestre em Comunicação e Cultura pela UFRJ.
Confira abaixo a opinião do professor Arivaldo Montalvão:
Proposta de implantação do PAAF está no Conselho
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