Nascido na região do Reno e criado na Holanda, Röentgen deveria seguir a carreira da sua família e tornar-se um próspero fabricante e comerciante de têxteis. Contudo, sua sede de saber o impeliu para o estudo universitário, apesar de todas as adversidades. O ginásio de Utrecht,onde tinha estudado com brilhantismo, lhe negou a “maturidade” ou diploma. Acusado de ter rabiscado uma caricatura de um professor sobre a estufa da sala de aula, ele não quis inocentar-se denunciando o verdadeiro autor da “ofensa” e foi prontamente expulso do ginásio. Este fato fechou-lhe o caminho regular às universidades. Posteriormente, foi aceito pela Escola Politécnica de Zurique, mais liberal, que aceitava alunos após severo exame “vestibular”.
Tal exame foi dispensado no caso de Röentgen, considerando-se as boas notas que ele havia conseguido em Utrecht. Em 1868 forma-se em Engenharia Mecânica, em Zurique e, logo em 1869, defende memorável tese sobre problemas de termodinâmica recebendo o seu doutorado . Mesmo assim, a Universidade de Wuerzburg, onde foi trabalhar como assistente do físico experimental Prof. Kundt, viu-se forçada a negar-lhe a habilitação, por falta da “maturidade” ou diploma ginasial já citado. Roentgen descobriu o RX
Habilitado pela Universidade de Estrasburgo (cujo novo Instituto de Física era de vanguarda) e após brilhante carreira em várias outras universidades da Alemanha, W. Roentgen recebe em 1888 o honroso convite da Universidade de Wuerzburg para ocupar o cargo de Professor Titular da Cadeira de Física. Em 1849 é eleito Reitor dessa Universidade, onde em 8 de novembro de 1895, descobre os raios X (na Alemanha ainda hoje chamados de Röntgen) e sobre os quais, nesse mesmo ano, publica sua célebre comunicação preliminar: “Sobre um novo tipo de raios”.
Deve ser assinalado que a tremenda repercussão da descoberta dos raios X, que lhe angariou merecida fama e reconhecimento mundiais e lhe valeu em 1901 o primeiro Prêmio Nobel em Física, obscureceu de certo modo o extraordinário significado de seus demais trabalhos científicos. Fica pouco lembrado que seu profundo conhecimento de Física, aliado a sua habilidade ímpar como experimentador o tinham tornado um dos melhores (se não o melhor) dos físicos experimentais da sua época, que foi a época de HERTZ, LORENTZ, MICHELSON, KIRCHHOFF, BUNSEN, HELMHOLTZ, MAYER, JOULE, CROOKES e tantos outros. Os seus trabalhos abrangeram, por exemplo, o calor específico dos gases, a condutividade térmica dos cristais, as características elétricas do quartzo, a influência da pressão alta sobre os índices de refração de fluidos, a influência da pressão alta e temperatura baixa sobre o atrito interno da água e a influência de campos eletromagnéticos sobre os planos da luz polarizada. As suas experiências sobre “O comportamento de dielétricos em um campo elétrico” (encontrando a “corrente de Röntgen” como Poincaré a chamou ou efeito eletromagnético da polarização dielétrica) comprovaram o acerto de uma das previsões da teoria da eletricidade de Maxwell, e além de por si só já terem sido merecedoras de um prêmio Nobel. Outros trabalhos seus lançaram importantes fundamentos da teoria eletrônica (LORENTZ) e até da relatividade (EINSTEIN).
Deste modo, a descoberta dos raios X por Röentgen não foi tão fortuita assim. Goodspreed e Jennings, na Filadélfia, ao fazerem experiências com raios catódicos, depararam-se já em 1889, com uma “fotografia misteriosa”de duas moedas, sem atinar a origem daquela novidade. Röentgen, embora somente três das suas 60 publicações cientificas se refiram aos raios X, ao deparar-se com o fenômeno, estudou-o, como de hábito, tão exaustivamente, que somente mais de um decênio depois outros físicos conseguiram detectar uma novidade ligada aos raios X: imagens de interferência elucidando a estrutura de cristais, que comprovaram a natureza ondulatória do raios X (LAUE, FRIEDRICH, KNIPPING, 1912).
Em 1923, aos quase 78 anos de idade, faleceu Wilhelm Conrad Roentgen de carcinoma intestinal, tendo ainda, aos 76 anos, publicado extenso escrito sobre a condutividade elétrica de cristais.
NOTA: este artigo foi escrito pelo confrade William Eduardo Nogueira Soares, oncologista e radioterapeuta, membro da Academia Sergipana de Medicina. Por oportuno ( 8 de novembro é o dia da descoberta do RX) e relevante, tomei a liberdade de publicá-lo aqui no Portal INFONET, no momento em que seu autor, ao lado da esposa Julieta, descansa em curtas e merecidas férias em Portugal.