No dia 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que decretou o fim da escravidão no país. A partir daquela data, negro algum poderia ser escravizado pelo senhor branco. Primordialmente, os escravos, todos procedentes da África, eram utilizados na agricultura. Após a libertação, na maioria dos casos, simplesmente foram expulsos das fazendas pelos senhores brancos. Sem recursos, sem lugar para morar, sem trabalho e com o Império nada mais fazendo do que dizer: Estão livres, não é difícil imaginar em que situação ficaram os escravos libertados. Hoje, ano de 2004, cento e dezesseis anos após a promulgação da Lei Áurea, qual é o retrato que resultou dos escravos libertados? Apesar de uma grande parcela da população brasileira ser constituída pelos negros, qual é a sua participação na vida do país? Na religião, principalmente na religião católica, quantos negros são cardeais, bispos e madres superioras? Na política, quantos negros são prefeitos, governadores, vereadores, deputados e senadores? Nas universidades, quantos são os alunos e os professores negros? Na atividade econômica, quantos são os chefes, gerentes, diretores e proprietários negros? Boa parte da legião de trabalhadores desocupados nos país é formada por negros de baixa escolaridade e renda e mulheres. É o que mostra a pesquisa – Situação dos negros no mercado de trabalho – divulgada pela Secretaria Municipal de Trabalho de São Paulo. Esta pesquisa revela o perfil da desigualdade e da exclusão no país. A taxa de desemprego entre os negros chega 10,7% contra 8,3% entre os brancos, segundo dados do desemprego aberto em 2001, E as diferenças não param na falta de vagas. Enquanto 40,5% das pessoas de cor branca ocupadas são assalariadas com carteira assinada, apenas 29,9% do total dos negros ocupados estão nesta situação. Dos assalariados sem carteira, os negros representam 21,4% e os brancos, 15,9%. A situação piora à medida que o trabalho exige menos qualificação. De cada dez trabalhadores domésticos, seis são negros. As questões acima identificam claramente os problemas de convivência existentes entre negros e brancos em nosso país, conseqüência direta da forma como se deu a libertação dos escravos. Apesar de afirmarmos não existir racismo em nosso país, são constantes as cenas que contradizem tal afirmação. Numa batida policial, não são os negros, os primeiros a serem revistados? E o pior… Muitas vezes são negros os policiais. Basicamente, são três os problemas enfrentados pela raça negra: desigualdade de riqueza, desigualdade de tratamento e desigualdade de representação. Alguns destes problemas podem ser facilmente atacados por políticas públicas não racializadas – políticas de combate à pobreza, e de universalização da educação formal, políticas sanitárias e de respeito aos direitos da cidadania. Não há dúvida de que políticas com este escopo universalista podem reverter muitas das desigualdades raciais existentes, mas os resultados não serão imediatos. Primordial para esta reversão é a atitude do próprio negro. Em primeiro lugar, deve haver uma união maior entre eles; devem orgulhar-se de sua raça, para não fazer o que hoje fazem. Basta a ascensão econômico-financeira, para muitos não mais se julgarem negros. Estão aí os exemplos de Pelé, Ronaldinho e outros. “O negro não gosta do negro e nós estamos fartos de observar as pessoas dizendo que quem pratica o racismo é o negro”. Isto foi o que afirmou o Presidente da Casa da Cultura Afro-Sergipana, em entrevista concedida ao Cinform. Edmir Pelli é aposentado da Eletrosul e articulista desde 2000 edmir@infonet.com.br