Na virada do século XIX para o século XX, Aracaju ainda era uma cidade descalça, mas dava sinais de vaidade, mostrando sua beleza pelas lentes dos fotógrafos residentes e por aqueles que alojados no Hotel Brazil (onde hoje está o prédio da Assembléia Legislativa, na esquina da Praça Fausto Cardoso com a Avenida Ivo do Prado) vendiam seus serviços de fotos “elegantes e garantidas,” como passou a prometer o estúdio de Moura Quineau, montado na Praça Benjamim Constant, esquina com a Rua Itabaianinha e a Travessa do Palácio. O Presidente do Estado, padre Olímpio de Souza Campos, fez um grande esforço para calçar as ruas centrais da cidade. Na praça Fausto Cardoso, entre as palmeiras e os caminhos gramados, o Presidente mandou fazer uma réplica da Torre Eifel, pequena e tosca, mas charmosa como uma evocação do luxo parisiense, tão em moda naqueles tempos.
O Teatro Carlos Gomes era um dos raros espaços culturais de Aracaju. Servia de teatro, propriamente dito, de salão de festas, de auditório e de cinema, seguindo a onda dos cinematógrafos. Em 1912 o Carlos Gomes trocaria de nome, para Rio Branco, mantendo as suas funções. O nome era uma homenagem ao Chanceler do Brasil, o Barão do Rio Branco, que morreu naquele ano, sendo uma das figuras emblemáticas da política brasileira. A Justiça, contudo, em 10 de março daquele ano, fazia o pregão de venda e arrematação do ainda Teatro Carlos Gomens, construção de pedra e cal, situada à Rua Japaratuba (atual João Pessoa) e avaliado em 30 mil contos de réis. A dívida, na verdade, era de apenas três mil contos de réis, verba testamentária deixada por Nicolau Pungitori, para construção de um masoleu destinado para os seus restos mortais. Pungitori fundou o Rio Branco e gozava de prestígio e respeito da população. O Teatro Carlos Gomes trocou o nome do compositor e maestro pelo do barão e Chanceler, mas sobreviveu com Juca Barreto e seu irmão Paulo Barreto Mesquita e outros da mesma família, até exaurir-se como espaço cênico, político, social, artístico e cultural.
Os feitos jurídicos dependiam, então, dos dez advogados e dos quatro rábulas, que mantinham Escritórios nas ruas centrais da cidade. O mais afamado deles era Gumercindo de Araújo Bessa, pela sua inquietude diante dos poderosos e pelo nível de sua cultura jurídica, seguindo-se João Antonio Ferreira da Silva, João Antonio de Oliveira, Joaquim do Prado Sampaio Leite, que foi aluno de Tobias no Recife, Carlos Alberto Rolla, que participou do Governo de Graccho Cardoso, Olímpio Mendonça, Alfredo Cabral, Leonardo Gomes de Carvalho Leite e Antonio Teixeira Fontes, e mais Antonio Gervázio Sá Barreto, Manoel Rollemberg de Menezes, Francisco Monteiro Filho e José Teixeira Fontes. Alguns deles ajudaram a fundar o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, ideia de um estudante – Florentino Teles de Meneses – que não precisou concluir o curso médico na Bahia, para ser um dos maiores professores e intelectuais sergipano. Florentino Menezes foi professor de escola pública – Ateneu, Escola Normal – mas o que predominava, então, era o número de escolas privadas, dirigidas por devotadas senhoras, como Maria Cabral (Rua Japaratuba, 58, atual João Pessoa).
O Estado controlava apenas algumas poucas escolas, no contexto de uma rede de escolas particulares, como o colégio dirigido por Quintina Diniz, oriundo de Laranjeiras, e que pertenceu a professora Possidônia Bragança, e que mereceu, em ‘860, a visita do Imperador Pedro II, recheada de comentários elogiosos. O magistrado Evangelino de Faro era diretor do Colégio Grêmio Escolar, que mais tarde e no mesmo lugar (Praça Olímpio Campos) passou a ser “Jackson de Figueiredo.” O Colégio Tobias Barreto, fundado em Estancia em 1909, por José de Alencar Cardoso, o Colégio Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, que dividiam a preferência dos pais dos alunos. Décadas depois, o Colégio Tobias Barreto passou das mãos do professor Alcebíades Vilas Boas para a rede estadual de ensino, durante o Governo José Rollemberg Leite (1975-1979), e o Colégio Jackson de Figueiredo, dirigido pelo casal Judite e Benedito Oliveira, foi também adquirido pelo Estado, na gestão do Governador Antonio Carlos Valadares.
O complemento educacional era notado pelos inúmeros cursos de música, como o de Ricardina Lobão, que ensinava piano “por preço cômodo”, na Rua Itabaianinha, 16, o de Tobias Pereira Pinto, que ensinava piano em sua residência, à Rua Laranjeiras, 120,” por preços ao alcance de todos.”Havia, ainda, o Colégio Joaquim Honório, “habilitado para lecionar música teórica e prática”, e que anunciava a fundação, em março de 1912, de um bem montado estabelecimento de música, lecionando bandolim, piano, violino e todos os instrumentos de sopro e, ainda, afinando pianos. Cinema, escolas, educação musical, ajeitamento da paisagem, demonstravam o esforço de uma cidade para crescer e representar, para os seus moradores, um lugar adequado, alegre, jovial, sintonizado com as grandes cidades do País e do exterior. Aracaju teve, sempre, um charme que conserva com o passar dos anos, como atesta a evocação do ano de 1912.