1920, A DÉCADA DA IMAGEM

A década de 1920 tem um sentido especial para Aracaju e para os municípios existentes no Estado de Sergipe. É a década das imagens, quando as ruas, as casas, os monumentos, as paisagens, o movimento das pessoas ocupam o campo das câmeras fotográficas, concorrendo com o crayon e com o óleo das telas, dominantes, como registro de uma sociedade que ganhava visibilidade nos retratos de homens e mulheres de linhagens. As composições artísticas, quando muito, criavam cenas, ou retratavam tipos anônimos, mas ainda assim revelavam grandes artistas como Horácio Hora, nascido em Laranjeiras, e que viveu e morreu em Paris, mas sempre encontrava tempo para visitar Sergipe e aproveitar a estada para pintar retratos de senhores de engenho e de fazendas de gado, com suas famílias. Em Aracaju os fotógrafos começaram a trabalhar nas décadas finais do século XIX. Alguns chegaram a fixar residência e a abrir estúdios, outros apenas faziam visitas periódicas. As grandes casas, que estavam próximas, eram situadas em Salvador, na Bahia, e no Recife, em Pernambuco. O trabalho fotográfico, no entanto, era praticamente restrito aos retratos. Vez por outra passavam por aqui, em viagens pelo Nordeste, fotógrafos de jornais e de revistas nacionais, em busca de cenas que pudessem merecer o destaque da publicação. A Revista O Malho, que circulou no Rio de Janeiro entre 1902 e 1954, fotografou a antiga feira de Aracaju, (em 1904 ) no encontro da rua de Laranjeiras com a rua da Aurora (atual Rio Branco), mostrando nas suas páginas aquele flagrante da vida aracajuana. Outros registros difundiram no País imagens sergipanas. Em 1920 o presidente Pereira Lobo patrocinou uma grande festa em torno do Centenário da Emancipação Política de Sergipe e contou com pelo menos três fotógrafos para fazer imagens de Aracaju, e dos 32 municípios – 14 cidades e 17 vilas. Aracaju foi fotografado por dois profissionais: Fabian, do Rio de Janeiro, que fez as fotos editadas pelo italiano Guilherme Rogato, e Leone Ossogini, de São Paulo, contratado para executar as fotos do Album de Sergipe, livro monumental encomendado ao jornalista, escritor, professor e político Clodomir Silva, e impresso nas oficinas de O Estado de São Paulo. Leone Ossogini fotografou, além de Aracaju, onde fez foto panorâmica, vista geral da cidade, as seguintes cidades e vilas sergipanas: Cidades – Anápolis (atual Simão Dias), Campos (atual Tobias Barreto), Capela, Estancia, Itabaiana, Itabaianinha, Lagarto, Laranjeiras, Maroim, Porto da Folha, Propriá, Riachuelo, São Cristovão e Vila Nova (atual Neópolis); Vilas – Aquidabã, Arauá, Boquim, Campo do Brito, Cristina (hoje Cristinápolis), Espírito Santo (atual Indiaroba), Gararu, Itaporanga (hoje Itaporanga da Ajuda), Japaratuba, Nossa Senhora das Dores, Pacatuba, Riachão (também denominada de Riachão do Dantas), Rosário (também denominado Rosário do Catete), Santa Luzia (hoje Santa Luzia do Itanhy), Santo Amaro (hoje Santo Amaro das Brotas), Siriri, Socorro (hoje Nossa Senhora do Socorro), e São Paulo (atual Frei Paulo). Foram dezenas de belas fotos, originais, ainda hoje o melhor documento fotográfico sobre o interior do Estado. Nem mesmo as fotografias da Enciclopédia Brasileira dos Municípios, do IBGE, superaram as fotos de Leone Ossogini. Fabian fez poucas fotos, mas formam o mais belo e harmonioso conjunto de imagens da cidade de Aracaju: Praça Fausto Cardoso, Jardim Olímpio Campos, (entre os prédios do Palácio do Governo e da Assembléia Legislativa e entre as praças Fausto Cardoso e Olímpio Campos), Praça da Catedral, (hoje Olímpio Campos), Palácio do Tribunal de Relação, (hoje Arquivo Judiciário), Biblioteca do Estado (atual Câmara de Vereadores), Grupo Escolar General Siqueira (hoje Quartel da Polícia Militar, na rua de Itabaiana), Grupo Escolar General Valadão (hoje Secretaria da Segurança Pública, na praça Tobias Barreto), Delegacia Fiscal, Palácio do Governo e Intendência Municipal (no lugar da Intendência foi construído o edifício Walter Franco), Vista Parcial da Cidade. As fotos de Fabian foram também assinadas por Guilherme Rogato, fotógrafo e cinegrafista, proprietário de um estabelecimento no Rio de Janeiro, que as imprimiu como Cartões Postais, na Tipografia Venus, à Rua Larga, 18 (atual Marechal Floriano Peixoto). Os Cartões Postais, todos eles marcados com a indicação “Centenário da Independência de Sergipe”, assinados por Fabian e constando, no verso, a identificação Fot. Guilherme Rogato. Rogato, nascido na Itália em 1898, andou por Maceió, Alagoas, em 1918, para montar uma Exposição Fotográfica, finalmente aberta ao público em janeiro de 1919, no Teatro Cinema Floriano. Anos depois volta a Maceió onde fixa residência, abre um estúdio e mais do que fotografar faz imagens de cinema, vários documentários e o filme Casamento é negócio? Guilherme Rogato morreu esquecido, em Maceió, em 1966. Em julho de 1923 desceram em Aracaju, no estuário do Rio Sergipe, 3 hidroaviões dos 4 que participavam do Raid Rio – Aracaju. Juntamente com a tripulação, comandada pelo almirante Protógenes Guimarães, Comandante da Defesa Aérea do Litoral, veio o fotógrafo J. Kfuri, que em vôos panorâmicos fez fotos aéreas da cidade. A festa de recepção dos aviadores mobilizou a população aracajuana e dela algumas pessoas tiveram o privilégio dos vôos sobre Aracaju, como o Dr. Carlos Menezes, médico legista, que guardou e deixou para a posteridade uma coleção de fotos de sua aventura aérea. As fotos, que pertencem hoje a Durval Calasans, são as primeiras e durante décadas foram as únicas fotos aéreas de Aracaju. Integrava também o grupo de aviadores um cinegrafista da Belmonte Filmes, do Rio de Janeiro, encarregado das imagens em movimento, documentando o evento. O presidente Graccho Cardoso assistiu, no Rio de Janeiro, a uma exibição especial do documentário feito em julho de 1923, em Aracaju. Há, ainda, fotos das revoluções de Maynard, de movimento das tropas de 1930, sem autoria explícita. A Livraria Regina editou, sem dar a data, uma excelente coleção de Cartões Postais, provavelmente fotografados no final dos anos 30 e início dos anos 40. Certamente antes de 1946, porque a Catedral ainda não havia passado pela reforma do padre Carlos Costa. Não há, igualmente, registro do fotógrafo, o que é uma lástima. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe”

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