“Reconhece a queda e não desanima. Levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima…”. Há alguns anos, o inesquecível Betinho com um grupo de amigos iniciou o famoso projeto “Natal sem fome”. Infelizmente, continuo a não entender muito bem porque continuamos com o “slogan” um “Natal sem fome… Quem tem fome tem pressa!”. Porque a mim parece que “permitimos” ou consideramos ou até mesmo aceitamos ser mais natural um ano inteiro de fome, para aqueles que passam um “Natal sem fome”. Sinto que ao doarmos para o “Natal sem fome”, a nossa consciência fica tranqüila para o “ano de fome que vem a seguir”. Nunca tive a honra ou a oportunidade de conversar ou trocar idéias com o Betinho. Mas, imagino e ouso a dizer que tenho a certeza de que quando o Betinho idealizou o Programa “Natal sem Fome” ele queria que – enquanto cidadãos – nós exercitássemos uma atitude, um gesto que no futuro, fosse se tornando um hábito. O hábito de entendermos que as pessoas não precisam comer bem apenas no Natal e sim todo o ano… Toda vez que vejo no fim do ano a mídia com o slogan “Quem tem fome tem pressa” eu fico me perguntando enquanto cidadão como deveremos nos organizar, agir, fazer para que todos entendemos que a necessidade de se alimentar não pode ser lembrada apenas no “Natal”. No seu livro lançado em Aracaju, no ano passado, César Souza afirma que “Você é do tamanho de seus sonhos”, e eu não tenho a menor dúvida sobre isto. Mas, para sairmos do contexto do sonho para a realidade é preciso muito trabalho, muito suor e muita coragem. No caso específico do Nordeste, acredito que uma coisa essencial é pensarmos em transformar os nossos modelos mentais, e conseqüentemente deixarmos de esperar pela sorte, pelo destino, por tirar na “loto”, pelo município, pelo governo do Estado, pelo Brasil. Não é que as instituições oficiais não estejam fazendo alguma coisa, é bem verdade que estão fazendo muito, mas nós enquanto cidadãos precisamos também fazer a nossa parte, a qual por menor que seja, fará uma saudável diferença. É possível “doar” um dia/mês a uma creche, um dia num asilo de idosos, trabalho em hospitais, aulas em programas de voluntariado, ajudar as ONGs e por ai vai. Se cada um de nós fizer um pouquinho esse pouco se transforma no valor infinito e a partir daí a diferença começa a acontecer. Ao conversarmos com as pessoas, percebemos o quanto muitas delas perdem tempo precioso se preocupando com tolices, observando a vida de outros, ou chateadas com o seu futuro. Volta e meia recebemos oferecimento de trabalho voluntário na FBC, mas muitas das ofertas se vão à velocidade que vêem porque – a crença forte de que por ser “voluntário” não há “responsabilidade” e se não aparece no dia combinado, não tem nada porque ela é apenas um voluntário permeia entre a maioria dos voluntários. A minha preocupação/sonho é esta: De que maneiras trocar “um Natal sem fome” por um ano inteiro de trabalho justo, honesto e sadio e conseqüentemente alimento e educação?Aqueles que quiserem ajudar com idéias podem começar enviando-as para mim. FELIZ 2005… MAS QUE TAL PENSÁ-LO OU PROGRAMÁ-LO PARA SER SEM FOME… O ANO INTEIRO! * Fernando Viana é diretor presidente da Fundação Brasil Criativo
Paulo Vanzolini
presidente@fbcriativo.org.br
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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