2006 um ano diferente?(*)

“Reconhece a queda e não desanima. Levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima…”

Paulo Vanzolini

Um dos natais mais marcantes da minha vida foi aquele no qual a nossa árvore de natal pegou fogo. O Natal da casa dos meus pais sempre foi muito comemorado, meu pai gostava de festa, minha mãe não gostava de festa em casa… Sempre havia atritos, mas tudo terminava em festa para meu pai e em muito trabalho para a minha mãe e empregados da família.

Acredito que esse movimento da minha casa sempre me deixou meio de “pé atrás com o Natal”, todavia, não resta a menor dúvida que é uma época do ano muito bonita. Percebe-se que as pessoas estão impregnadas pelo espírito de natal e eu sempre me pergunto porque este fenômeno não dura todo o ano. Já imaginou como seria legal o Carnaval com espírito de natal, as festas de São João com espírito de Natal, o dia Sete de setembro, e por ai vai?

Todavia, o espírito de natal sabiamente vai embora logo… Acho que fica com pena das pessoas, dos gastos excessivos de alguns poucos e da necessidade excessiva de outros milhões de pessoas.

Assim sendo, passado o Natal todo mundo, ou pelo menos a maioria dos mortais começa a se dar conta da dura realidade, em especial no Brasil que entra ano sai ano não muda muito. E como o espírito natalino é generoso neste pais, tão generoso que se deu um jeito para que os clubes de futebol encontrem parceiros para pagar as suas dívidas… E sabe você quem vai pagar essas dívidas? Pois é, nada mais nada menos do que o generoso povão que irá ter jogar em mais uma loteria esportiva para pagar as dívidas dos clubes de futebol. É evidente que será um sublime sacrifico, eu fico sem comer, sem vestir, mas ajudo ao meu time pagar os salários milionários dos jogadores e também as suas dívidas monumentais.

Mas, agora estou preocupado, já pensou se essa onda pega, aproveitando o espírito de natal, esse momento de euforia de fim de ano, e criam-se mais algumas loterias para pagar as dívidas de mais alguns necessitados? Por exemplo, as dívidas dos deputados cassados? As dívidas das empresas que sonegaram impostos e estão semi falidas? As dívidas das companhias aéreas de aviação que estão no vermelho e precisam de ajuda… E por ai vai.

Há dez anos que trabalho com processo criativo, com geração de idéias, entre outras coisas, mas para ser franco nunca vi tanta gente cheia de idéias para ajudar os terceiros. Pessoas generosas que, para ajudar alguém, enchem as suas cuecas de dólares, outras que enchem malas de dinheiro e que por sua vez viajam de norte a sul distribuindo dinheiro, outras que criam um duto fantástico de dinheiro que ninguém consegue de onde vem e que nunca se acaba, pessoas efusivas, maravilhosas e generosas que pagam as contas milionárias dos amigos e sequer sabem a quem entregaram os cheques.

Sabe o que estou percebendo agora? Que é justamente o efeito de espírito de natal que impregnou essas pessoas generosas e não estamos percebendo. Que coisa fantástica!

O dinheiro sai aos milhões por generosas torneiras, mas o problema é que esse espírito de natal é muito seletivo, quem mais recebe o dinheiro, pelos vistos é quem menos precisa dele.

A minha hipótese é que essas pessoas acreditam verdadeiramente em Papai Noel. Talvez seja isso que está faltando para toda a nação brasileira, acreditar verdadeira e piamente em Papai Noel assim todos seremos felizes, o espírito de natal tomará conta de nós, os políticos definirão novas loterias para pagar as dívidas das escolas cujos pais não puderam quitar suas dívidas, dentre outras idéias maravilhosas.

Como o pessoal desacreditou no belo programa “Natal sem fome… quem tem fome tem pressa” que tal também uma loteria para isso. Seria interessante, pois dessa forma com tantas loterias todo mundo que joga iria ficar sem dinheiro para pagar as dívidas, assim sendo teria que ser criada mais uma loteria genial. Aquela que daria dinheiro a quem gastou todo o dinheiro na loteria.

Tudo isso é brincadeira! Estava trabalhando numa sessão de geração de idéias onde um dos critérios é adiar julgamento e tudo que é dito ou pensado vale…No entanto, aqueles que quiserem ajudar com idéias podem começar enviando-as para mim.

FELIZ 2006… MAS QUE TAL PENSÁ-LO OU PROGRAMÁ-LO PARA SER – VERDADEIRAMENTE – SEM FOME, O ANO INTEIRO?

(*) Fernando Viana
Diretor Presidente da Fundação Brasil Criativo
presidente@fbcriativo.org.br

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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