Cleomar Brandi (Foto: César de Oliveira) |
A dialética da vida, que tanto enche de alegria as pessoas, quando novos seres despontam para a aventura existencial, contrasta com a dor e a tristeza, dos que finam a existência, deixando enorme saudade na lembrança dos seus. Velha como o mundo, a morte ainda surpreende, mesmo quando as condições de sobrevivência impõem sacrifícios e desconfortos. Nos últimos das foram registradas 4 mortes, dentre outras que ocorrem no cotidiano social. Morreram Maria Oliva Alves, Cleomar Brandi, Getúlio Sávio Sobral e padre Arnaldo Conceição, deixando um sentimento de perda e um vazio impreenchível, atestando méritos e qualidades de cada um, no contexto de suas famílias e do corpo social.
A matriarca Maria Oliva Alves, parceira de João Oliva Alves na construção da família, soube cumprir com seu papel de esposa e mãe, presente na rotina de uma casa cheia, na formação dos filhos, até vê-los preparados, cada um com seu saber, seu pendor, sua própria experiência. A família Oliva Alves, procedente do Riachão do Dantas, ocupou um espaço destacado em Aracaju, cresceu, especializou-se, tornando-se referência do viver valorado pela fé e pelos demais valores, com os quais soube suportar a adversidade do sofrimento. Homens e mulheres da mesma clã, solidários e resignados, acompanharam, na intimidade da presença, as agruras da doença e testemunharam a resistência, a confiança, e tudo o mais que fez de Maria um exemplo de esposa e mãe.
Desde que decidiu atravessar a fronteira da geografia, que Cleomar Brandi aprendeu que para a cultura não há padrões delimitando a criação intelectual. Aqui enturmou-se, sendo um criador de esperanças, um libertário das convenções, um resistente às adversidades, a tudo compensando com um texto bem humorado, muitas vezes poético, e com uma presença física desafiadora e inusitada. O padecimento do corpo não retirou Cleomar Brandi das redações dos jornais, dos encontros nos bares, dos eventos, muito menos das amizades, que soube, como poucos, cultivar, como uma espécie de antídoto para as ciladas da vida. Escritor de boa linguagem, cronista das múltiplas pautas, o jornalista conviveu com a pessoa, numa interação comovente, que marcou os circunstantes que acompanharam o seu calvário. A cena final, espécie de confraternização, foi uma rodada onde a amizade foi servida, sem custos, a legião de amigos enlutados.
Getúlio Sávio Sobral, de família importante e numerosa de Itaporanga da Ajuda, foi,desde a criação do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe, em 1970, um destacado membro do colegiado, e por muitos anos, passando de Procurador para Juiz (Conselheiro), aposentando-se para continuar como uma referência da Corte de Contas e fora dela, onde exerceu suas responsabilidades com discrição e competência. Afastado da vida pública, Getúlio Sávio Sobral continuou discreto, exercendo a sua cidadania, dando um exemplo útil às novas gerações, como uma aula à qual sempre se poderá recorrer, para reavivar os valores que regem a convivência social.
Morreu num hospital de Aracaju o padre Arnaldo Conceição, nascido em Simão Dias, pároco, por muitos anos, de Itabaianinha e Tomar do Geru, um dos mais preparados sacerdotes de Sergipe, grande leitor, crítico atento, encarnou os sentimentos sociais com sua sensibilidade aguçada. Voltado para suas funções eclesiais, com visão social alargada, padre Arnaldo não perdeu sua cidadania, sendo, a um tempo, um grande vigário e um cidadão, enfrentando as trevas que circundam, no interior, a existência das pessoas. Sergipe perde um homem sábio, atualizado em suas leituras, e a Igreja empobrece o seu pastoreio. O povo mais simples, cuja pobreza muitas vezes aumenta as dificuldades da sobrevivência, guardará na saudade a forte lembrança desse homem modesto, que abraçou a causa da religião para realizar-se.
4 mortos, 4 quadros que deram a Sergipe e aos lugares onde viveram, o contributo diverso da formação exemplar. Sergipe e os sergipanos, no mínimo que se possa dizer em horas tristes, perderam parte de sua riqueza imaterial. Resta a memória.