60 anos da morte de Getúlio Vargas

Andreza Maynard

Doutora em História

Pós-doutoranda em História pela UFRPE

Membro do GET/UFS/CNPq

Bolsista CNPq/Fapitec-SE em modalidade DCR

Em 24 de agosto de 1954 os brasileiros presenciaram um drama de grandes proporções. Naquele dia o então presidente da república Getúlio Dornelles Vargas cometeu suicídio. Com um tiro no peito Vargas dava fim à sua vida e terminava sua trajetória política com um episódio considerado por muitos brasileiros como trágico. A comoção popular foi generalizada. Vargas atingia seu objetivo de deixar “a vida para entrar na história”.

O pijama listrado que Vargas vestia na ocasião e a pistola utilizada por ele podem ser vistos no Museu da República (antigo Palácio do Catete), no Rio de Janeiro. Foi nessa mesma cidade, que era a capital do país, onde tudo aconteceu. A figura de Getúlio Vargas e o período em que esteve à frente da Presidência da República (1930 a 1945 e 1951 a 1954) estão entre os mais investigados pelos historiadores brasileiros ainda hoje. Frequentemente esses anos são chamados de "Era Vargas".

Sem dúvida, ele foi o presidente que mais tempo governou o Brasil. Vargas concorreu nas eleições de 1930 e perdeu. Após a morte do seu vice, João Pessoa, liderou as tropas que depuseram Washington Luís. Depois da chamada “Revolução de 1930”, permaneceu como chefe do Governo Provisório. Diante das pressões foi instituída uma Assembleia Nacional Constituinte, que em 1934 promulgou uma nova Constituição e elegeu Vargas, indiretamente, presidente.

Antes que as eleições de 1938 fossem realizadas, o governo divulgou na imprensa a notícia a respeito do “Plano Cohen”, um suposto projeto comunista para tomar o país. Em 1937 o Congresso Nacional foi fechado e o regime político mudou, passávamos ao Estado Novo, porém Vargas continuaria na presidência até 1945. Vargas concorreu nas eleições de 1950 e venceu o pleito. Pela primeira vez ele era legitimamente escolhido pela maioria da população brasileira. No entanto o contexto político do país tornava a tarefa de governar o país menos confortável.

É comum que Vargas seja apontado pelos estudiosos contemporâneos como um homem cheio de contradições. Característica que alguns consideravam mais como uma virtude (habilidade) do que defeito. Durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, Vargas manteve o país numa postura diplomática ambígua, ao menos até o fim de 1941. Oscilando entre os Estados Unidos e a Alemanha, no plano externo o político tentava tirar o máximo de vantagens ao manter relações próximas com os representantes do Eixo e dos Aliados. Já no ambiente doméstico conciliava figuras como Oswaldo Aranha, pró Estados Unidos, e Lourival Fontes que simpatizava com o fascismo europeu. Além disso, entre 1930 e 1945 Vargas pôde contar com um importante aliado, as Forças Armadas. A relação passou a ser menos harmoniosa entre 1951 e 1954.

Nos anos 1950 Vargas tinha um adversário político declarado, o jornalista Carlos Lacerda. Depois de sofrer um atentado, no dia 5 de agosto de 1954, Carlos Lacerda acusou a guarda pessoal de Vargas. Houve uma forte pressão para que Vargas renunciasse ou se licenciasse da presidência. Mas ele, que havia anunciado em tom melodramático que só sairia morto do Palácio do Catete, surpreendeu a todos. Adversários, aliados, amigos e até parentes foram pegos de surpresa. Aos 72 anos Vargas tirou a própria vida.

A morte não o apagou da história política brasileira. Bem ao contrário disso, fortaleceu seus herdeiros políticos, a exemplo de João Goulart e marcou na memória pública nacional a importância da sua atuação à frente da República. Para além dos historiadores, Vargas tem sido apropriado por analistas políticos de outras áreas. Há referências a ele na produção cinematográfica atual. Em 2014 o filme “Getúlio” foi baseado nos fatos que marcaram os últimos dias de Vargas na presidência. Biografias mencionam a vida íntima e até mesmo elencam as amantes com as quais Vargas manteve casos eventuais.

Assim, Getúlio Dornelles Vargas se constitui numa das figuras mais esmiuçadas da história nacional, mas ao mesmo tempo um homem capaz de continuar despertando a curiosidade e intrigar a muitos.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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