Anailza Guimarães Costa
Graduada em História (UFS), integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS), orientanda do prof. Dr. Dilton Cândido Santos Maynard (DHI/UFS). E-mail: anilza@getempo.org
Getúlio Dornelles Vargas foi advogado e um dos políticos mais importantes da história brasileira. Nasceu em São Borja, no Rio Grande do Sul e foi presidente do Brasil em duas fases: de 1930-1945 e de 1951-1954. Morreu no antigo palácio do catete, no Rio de Janeiro, em 24 de agosto de 1954 após ter disparado um tiro no próprio coração. Polêmico, ambíguo, considerado por uns como o fundador de nossa nacionalidade, como um grande estadista, “pai dos pobres”, e por outros, de ditador. Seus anos de governo, também chamado de “Era Vargas”, foram marcados pelo populismo, por um nacionalismo forte, autoritarismo e desenvolvimento econômico.
Nesse mês de agosto completam-se 61 anos da morte de Vargas e assim como ocorreu em outros anos, a sua memória ressurge com vigor, sendo lembrada pelo seu legado para o crescimento do país e pelas marcas deixadas por sua posição política. A mobilização provocados pela data se expressam em uma grande variedade de eventos, como seminários, exposições, debates, cadernos especiais nos jornais, programas de televisão, etc. Em maio de 2014 foi lançado o filme “Getúlio”, produzido pela Globo com direção de João Jardim, que narra os últimos 19 dias de sua vida, desde o atentado a Carlos Lacerda até seu suicídio.
Ao que parece, poucos personagens do Brasil têm merecido tanta atenção ao legado da memória quanto Vargas. Prova disso, foram as várias celebrações pela sua morte, assim como a variedade de apropriação que sua história tem deixado ao longo dos anos e que mobiliza instituições, estudiosos e que fazem com que quase “obrigatoriamente” no mês de agosto tenham eventos para se discutir, rememorar o político.
São vários os motivos que sempre trazem à tona as comemorações da morte de Getúlio Vargas. Podemos começar pela própria morte, trágica, quando pega um revolver e dispara no seu peito. A esta morte, foi associada o atributo de heroicidade, pois, o gesto foi interpretado como um sacrifício pessoal para solucionar a crise que se instalara no país. Muitos consideram esta atitude de Vargas como um “golpe de mestre”, já que ele conseguiu sair do “mar de lama”, como o próprio Getúlio havia dito e, calar assim a oposição que criava um cerco em sua volta. Com isso, Vargas criou o “mito” ao conseguir redefinir sua própria história.
Também, devemos considerar o papel do próprio Getúlio, no sentido de produzir uma memória que sobrevivesse a morte. Ele escreveu diário contando sua trajetória na presidência da república, que já resultou em livros publicados e também produziu três cartas, a primeira em agosto de 1932, a segunda em abril de 1945 e a terceira em agosto de 1954, a chamada carta suicídio. Inclusive, esse interesse por um arquivo pessoal foi o germe da criação do CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) da Fundação Getúlio Vargas.
Outro motivo que não devemos deixar de lado foi a importância da figura Vargas para a reconfiguração do cenário político brasileiro. A começar pela Revolução de 1930, quando Vargas colocou fim a República Velha até a implantação de medidas substanciais, como a criação da carteira de trabalho, implantação do voto feminino e incentivos ao desenvolvimento econômico presentes, sobretudo, no seu último governo (1951-1954), como a criação da Petrobrás. Além disso, o governo Vargas também foi marcado pelo forte autoritarismo ao rasgar duas constituições e implantar o Estado Novo (1937-1945). Durante este período, várias medidas autoritárias foram impostas, como o fechamento do Congresso Nacional, censura dos meios de comunicação, etc.
Essas são algumas das justificativas que fazem com que o personagem e político Getúlio Vargas não seja esquecido. Até hoje, o legado de sua política encontra ressonâncias, continua a influenciar muitos políticos pelo seu populismo, visão e habilidade de negociação. É difícil tentar definir em uma palavra a figura Vargas, assim como caracterizar o tipo de seu governo. Era um ditador ou um estadista? Um pai dos pobres ou um oportunista? Ao longo dos anos que governou o Brasil, Vargas demonstrou um pouco de cada uma dessas facetas e estilo político. Soube muito bem ser odiado por uns e amado intensamente por outros e, por isso que é inegável que foi um dos brasileiros que mais influiu sobre os rumos de nossa história.