Luiz Antonio Barreto
Cândido Aragonez de Faria (Foto: Divulgação) |
O nome do múltiplo artista Cândido Aragonez de Faria, nascido em Laranjeiras, órfão do cólera, tem destaque na História da Caricatura no Brasil, de Herman Lima, ainda que sua naturalidade permanecesse oculta. Coube ao professor Antonio Luiz Cagnin, como bolsista, e principalmente a Felipe Aragonez de Faria, revelar todo o caminho percorrido por FARIA desde que deixou Laranjeira, ainda criança, e foi para o Rio de Janeiro onde sua mãe tinha família, até a genial presença nas artes francesas, como autor de mais de três centenas de cartazes dos filmes da Casa Pathé, todos de admirável nível técnico. Sergipe ignorou o filho artista, mas aqui e ali forma-se uma nova geração interessada em cinema e em arte que, certamente, saberá fará aflorar o talento genial. Na França, no entanto, conhece-se FARIA e ele é sempre citado nas antologias e compêndios cinematográficos.
Henri Bousquet, historiador do cinema na França, põe no seu livro Catalogue Pathé dos anos de 1896 a 1914, um texto sobre os colaboradores dos Irmãos Pathé, considerada a grande abrindo espaço, com foto, para destacar a originalidade da arte de FARIA, contribuindo para a ressurreição de uma Arte e de uma indústria. O jornalista e professor Ary Bezerra Leite, do Ceará, autor de vários livros sobre o cinema e a fotografia, cedeu-me cópia do texto de Henri Bousquet, um tributo ao artista sergipano que conti9nua, na França, considerado e exaltado pela sua arte. É Bousquet quem insiste sobre a nacionalidade de FARIA, como a partilha o sucesso com seus conterrâneos de Sergipe, enquanto fixa o valor do artista e a qualidade de suas obras , apontando para o Atelier da rua Steinkerke, endereço famoso do mestre Cândido Aragonez de Faria.
Hélvio Maciel, de formação em publicidade e em filosofia, deparou-se em Paris com alguma coisa do FARIA que o emocionou. Acostumado a compor peças publicitárias, emocionou-se com o encontro com a arte sergipana na capital francesa. Ele viu, nas ruas parisienses, que FARIA sobrevive, embora tenha já completado 100 anos de morto, no passado 2011. A arte do laranjeirense, que foi, até certo ponto, contemporâneo de outro pintor de Laranjeiras – Horácio Hora, que tem merecido, em Sergipe, honrarias diversas. Será preciso, então, insistir com a divulgação da biografia de Cândido Aragonez de Faria, com o propósito de fortalecer a fortuna crítica dos sergipanos que numa das diásporas deixaram a terra e construíram nomes mercê do talento, do trabalho, da capacidade inovadora, que sempre uma característica das gerações de emigrados, que respondempelos alicerces fundamentais da cultura brasileira.
A UNIT/Instituto Tobias Barreto montou, em ensejo do centenário de morte de FARIA, um painel com o retrato do artista e algumas de suas obras, reproduzidas. Laranjeiras, há alguns anos, montou uma exposição com reproduções de Cândido Aragonez de Faria, na Casa de João Ribeiro. Alguns pesquisadores, ligados aos diversos cursos universitários, têm demonstrado uma forte curiosidade sobre a produção do artista. Seu neto, Felipe Aragonez de Faria, curador da obra do avô, tem mantido viagens regulares ao Brasil, quando vem a Sergipe, pesquisando e completando suas anotações, reunidas em pelo menos três livros: um, sobre o médico José Cândido Faria, patriarca sergipano da família; outro sobre os Aragonez, desde a origem, a transferência para o Brasil, a vida em Laranjeiras, a mudança para o Rio de Janeiro, seguindo-se Porto Alegre, Buenos Ayres até aportar em Paris. Falta editor e seria de bom alvitre que o Governo do Estado, com as parcerias possíveis, liderasse o movimento para restaurar a biografia artística de FARIA.
Temos, enfim, uma motivação artística e cultural, que não se encerra na tipicidade da arte de Cândido Aragonez de Faria na França, nas últimas décadas do século XIX e primeiras do século XX. Ilustrado, atento ao movimento das artes, o Governador Marcelo Deda seria o líder mais necessário para defender o patrimônio artístico do FARIA, trazendo para Sergipe parte do acervo que Paris guarda, zelosamente. Será preciso mobilizar a inteligência, através de cursos, oficinas, conferências e outras promoções, para criar um movimento de restauro de uma biografia sergipana, grande em sua linguagem de criação, enorme na fortuna crítica que é guardada na capital francesa. E contar com a mídia, em todas as suas linguagens, para dar a todos a exata dimensão da importância de trazer para casa, depois de tanto tempo, mais um sergipano de valor.