A infecção pelo vírus Zika está cada vez mais associada à microcefalia congênita. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), seis países tiveram aumento de casos da doença associados ao vírus Zika: Brasil, Colômbia, Cabo Verde, Polinésia Francesa, Martinica e Panamá.
Duas notícias abalaram a saúde pública mundial: a primeira foi o fato de encontrar o vírus Zika no sêmen, indicando a possibilidade da transmissão sexual de pessoa para pessoa e não apenas pela picada do terrível mosquito Aedes aegypti. A segunda notícia preocupante foi a detecção de pessoas que contraíram o vírus Zika em regiões onde o mosquito não está presente.
Oito países registram transmissão sexual do Zika
Países com a Argentina, Chile, Estados Unidos, França, Itália, Nova Zelândia, Peru e Portugal têm evidência de transmissão sexual do Zika porque registraram casos autóctones da doença (casos originados no próprio país) sem ter, em seu território, a presença do mosquito transmissor. Os casos notificados foram, geralmente, de pessoas que viajaram para áreas de presença do Aedes aegypti, foram infectadas e apresentaram os sintomas da Zika. Quando retornaram para as suas regiões de origem, onde o mosquito não existe, mantiveram relações sexuais sem o preservativo, com suas parceiras que foram infectadas pelo vírus Zika.
O Vírus Zika no Sêmen
Além de uma atração pelo sistema nervoso central, o zika vírus também tem demonstrado preferência por se instalar no trato gênito-urinário dos homens. A persistência do vírus no sêmen e na urina reforça essa hipótese. No sêmen, por exemplo, o zika foi encontrado com carga 100 mil vezes superior a do sangue e por um período até dois meses após a fase aguda da infecção. Nas mulheres o vírus até agora não foi descrito na secreção vaginal. A presença do vírus em qualquer fluído corporal não prova transmissão. É apenas um indicativo. Investigar como o vírus age, replica-se e demora no sistema genital dos homens pode esclarecer, por exemplo, como seria a transmissão sexual.
Identificação e caracterização de casos de infecção pelo vírus Zika, sexualmente transmissível, em áreas que apresentam intensa transmissão do vírus Zika pelo mosquito, é um desafio. Provar a transmissão sexual do Zika no Brasil é muito difícil, pois, infelizmente, o Aedes aegypti se espalhou pelo país e qualquer caso de pessoa que apresente o vírus, vamos pensar sempre que foi pela picada do mosquito e não pela relação sexual sem preservativo.
Recomendações provisórias para a prevenção nas relações sexuais
A evidência de uma possível transmissão sexual do Zika já merece uma política de intervenção, além do combate ao Aedes aegypti. Já é indicativo suficiente para que medidas de prevenção possam ser recomendadas, como, por exemplo, que na fase aguda suspeita de viroses transmitidas pelo mosquito (principalmente suspeitando que seja Zika, onde a quantidade de vírus no sangue é alta), a pessoa evite a relação sexual ou use o preservativo corretamente.
Mulheres grávidas precisam usar camisinha
Existiam vários motivos para recomendar o uso da camisinha nas relações sexuais durante a gravidez. Quando o homem ejacula dentro da vagina da gestante, sem a camisinha, o esperma, que é rico em uma substancia denominada prostaglandina, pode acelerar as contrações uterinas. Uma gestante que tem relações sexuais sem a camisinha pode contrair Infecções Sexualmente Transmissíveis, como por exemplo, a sífilis que pode levar ao abortamento ou o nascimento de bebê com Sífilis Congênita. A possibilidade de transmissão sexual do Zika é mais um motivo para o uso da camisinha durante os nove meses da gravidez. O Zika é um vírus particularmente preocupante para as mulheres grávidas, devido a sua ligação, já comprovada, com o surgimento de casos de microcefalia.
Médicos ginecologistas e obstetras precisam recomendar mais a camisinha para as gestantes
A situação grave da sífilis congênita no Brasil (uma das doenças que pode causar a microcefalia), e agora com a possibilidade da transmissão sexual do Zika para as gestantes, podendo também levar ao nascimento de bebê com microcefalia, são importantes motivos para os profissionais de saúde, principalmente médicos ginecologistas e obstetras, recomendar, nos seus atendimentos às mulheres grávidas, o uso da camisinha masculina ou feminina, nas relações sexuais durante a gravidez. É importante o envolvimento das Sociedades Médicas, Sindicatos da classe e da Febrasco (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) . Assim poderemos ajudar a evitar a transmissão da bactéria da sífilis para a gestante e para o bebê, como também a transmissão do Zika para as gestantes e, consequentemente, evitando a microcefalia para o bebê.