A carga em quilogramas

Há alguns dias fiz um desabafo em uma rede social sobre uma postagem que me incomodou bastante: o ator Pierce Brosnan contou que pessoas indicam cirurgia bariátrica à sua esposa por ela ter engordado.  O incômodo foi instantâneo por algumas questões, a primeira delas é que estou muito acima do peso que eu tinha antes da gravidez e a pressão social para o emagrecimento é constante e cruel. O segundo incômodo veio pela reflexão do por que eu me incomodo tanto em estar acima do peso se a minha saúde está boa.

A pressão social para o corpo perfeito das mulheres é imensa, já sabemos. Sabemos também que engordar é sinônimo de desleixo, de falta de saúde, de desprezo, enquanto emagrecer é sinônimo de cuidado, saúde, beleza. Porém, em muitos casos, não é isso que acontece. Em termos psicológicos e emocionais, essa é a fase mais equilibrada e serena de minha vida. Não fumo mais, não bebo como antes, não como doce todos os dias e não pulo as refeições. Passei meses malhando e sigo mantendo a rotina da maneira mais saudável que posso, porém, ainda não consegui perder os quilos que adquiri ao longo da pandemia e pós-parto.

Não quero fazer apologias a nada, quero relatar que apesar de querer emagrecer por não estar me sentindo confortável com a minha aparência, eu não gostaria de fazer isso às pressas. Não gostaria de ouvir que meu marido, que também engordou, irá me trocar por alguém mais magra que pareça menos desleixada, que minha saúde no futuro pode estar em risco, que eu era mais bonita com quilos a menos.  Não gostaria que as mulheres passassem por isso, que qualquer pessoa passasse por isso.

Com a minha postagem, diversos relatos chegaram por mensagem privada contando, em sua maioria, que também estavam ou estiveram magras por adoecimento, algumas por depressão, outras por disfunções hormonais, excesso de trabalho, má alimentação, mas era nessa fase que essas mulheres recebiam elogios. A partir do momento que ganharam peso, os elogios deram lugar às críticas: “Você estava ótima, por que engordou?” .  Afinal, o sinônimo de estar ótima em nossa sociedade deveria ser estar saudável e feliz.

A diversidade dos corpos deve ser respeitada e as fases da nossa vida também. Engordar não deve ser visto como um atentado a si mesma, ao seu corpo e à sua autoestima, assim como emagrecer não deve ser visto como mérito. Nem sempre ser magra ou gorda é sinal de saúde ou doença, ambos são processos e cada pessoa escolhe qual é o processo melhor para a sua vida naquele momento. É de bom tom respeitar os processos de cada um e, principalmente, cuidar cada um de seu próprio corpitxo. Que a gente aprenda a elogiar a beleza sem associar à balança e que a beleza seja desencaixotada e livre de padrões, afinal, saudável mesmo é ser feliz.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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