A Castanha (Nova Prata) de Itabaiana

Itabaiana entrou no imaginário dos colonizadores, ibéricos e brasileiros, pela fama que ganharam as suas supostas minas de prata. Expedições seguidas manifestaram o grande interesse pela riqueza que, dizia-se, estava escondida no cinturão de serras que circundam a povoação. A busca da prata atraiu a cobiça de portugueses, espanhóis, holandeses e de aventureiros europeus, alimentando por muito tempo um tipo de El Dorado que sacudiu de curiosidade o velho mundo. Por conta disso, o Brasil criou o Regimento Geral das Minas, entregando a tarefa de localizá-las ao experiente Dom Rodrigo Castelo Branco, que andava pelos sertões paramentado dos instrumentos de coleta de material, e acompanhado de alguns “especialistas”, dentre eles o sergipano João Alves Coutinho, que tem seu nome associado as descobertas de minas de oureo, prata e diamante no Brasil.

Com a morte do Moribeca (Belchior Dias Moreya) e do seu filho Rubélio Dias, o mito da rica serra de Itabaiana declinou. Na Notícia do padre Francisco da Silva Lobo, datada de 1757, Itabaiana estava numa planície, cercada ao longo de serras, formando um O, com o povo habitando as serras para dentro. A mais próxima, a serra de Itabaiana, as demais são destacadas: Cajaíba, Botafogo, Miaba, Matapuã, Pinhão, Redonda, Pintos, Capunga, , Borda da Mata, Canguandá, e Saco Torto, mas não há uma só menção ao passado lendário das minas de prata.

Itabaiana guardou, de algum modo, entre a sua população, uma disposição pela busca da riqueza, dando muitos exemplos de figuras que, como Midas moderno, construíram biografias bem sucedidas, merecendo a citação freqüente, como Oviêdo Teixeira, Zeca Mesquita, os Irmãos Paes Mendonça – Mamede, Pedro e Euclides -, Gentil Barbosa, dentre outros. Há, também, uma riqueza quase anônima, de marceneiros que fazem as mais belas e robustas carrocerias de caminhão, e de outros profissionais que dinamizam a vida econômica serrana. No comércio, a venda de jóias e de bijuterias atrai compradores de várias partes do País, impressionados com a variedade e com os preços, o que faz supor, aos desavisados, que o ouro é minerado ali mesmo, naquele conjunto de serras imponentes.

A população do povoado Carrilho* descobriu, há pouco, um novo filão econômico, o da castanha, torrada e distribuída para todo o Brasil, envolvendo dezenas de famílias inteiras, que processam o novo e rendoso produto, que vai mudando a face do núcleo populacional. A castanha in natura é adquirida em Ribeira do Pombal, na Bahia, em Lagarto e em Tobias Barreto, em Sergipe, e em outras partes do Nordeste, onde há abundância de caju. O sistema é simples, mas eficiente. A castanha é deixada ao sol, em grandes áreas calçadas, depois torradas, descascadas e limpas, antes da seleção qualitativa. A família toda participa dos trabalhos, diurnos e noturnos, elevando a produção e, conseqüentemente, os ganhos. No Carrilho as famílias comercializam, contando com o auxílio de trabalhadores assalariados, por semana, algo em torno de 500 quilos de castanha, abastecendo os mercados nacionais.

 

Outros povoados, como Taboca e Dendezeiro, também aderiram ao beneficiamento de castanha de caju, mas é no Carrilho onde o negócio parece mais organizado, contando, inclusive, com uma associação de produtores, atualmente presidida por José Adenilson Santos de Jesus. A paisagem seca, de pouca vegetação, contrasta com o novo casario que remodela o povoado, indicando que por vontade e meios próprios a comunidade encontrou o caminho da prosperidade e reencontrou o sonho antigo de riqueza.

 

 

* O topônimo Carrilho pode ser do século XVII, quando nasceu e viveu em Sergipe o sertanista Fernão Carrilho, que participou dos embates com no Quilombo dos Palmares, governou algumas capitanias e teve seu nome relacionado a muitos eventos no Brasil dos seiscentos.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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