A Contribuição da Alfabetização Ecológica

A Alfabetização Ecológica é vista por uma corrente teórica como um dos caminhos para se alcançar o ponto de mutação da forma como a humanidade percebe e se comporta em relação ao meio ambiente. Outros estudiosos, todavia, apresentam críticas a esta proposta de mudança de paradigmas.

Conceito
Segundo CAPRA (1996) ser ecologicamente alfabetizado significa um tríplice aspecto: a) conhecer os princípios ecológicos*, b) pensar sistematicamente; c) praticar valores ecológicos, estabelecendo-se assim um paradigma social definido como: “um novo conjunto de conceitos, valores, percepções e práticas compartilhados por uma comunidade e que produz uma maneira particular de ver a realidade, dando base para que a comunidade se organize” (op. cit.).

Críticas
Layrargues (2003), por sua vez, crítica a característica biocêntrica e biologista da Alfabetização Ecológica pregada por Capra e, portanto, ideológica, ao remeter suas bases inspirantes para a ecologia profunda e para o eco-anarquismo. Criticando o pensamento capriano, o referido autor destaca a ênfase dada por Capra apenas aos aspectos positivos das relações ecológicas, esquecendo-se de seu caráter bidimensional, contendo assim também características negativas como a desigualdade predominante dos elementos físicos e organismos e de onde surge a hierarquia, dominação, conflito e competição, tanto na natureza como na sociedade. Para o referido autor, a Alfabetização Ecológica teria uma força didática funcionando como uma analogia entre o mundo natural e o ser humano, caso não estivesse ideologicamente viciada com o determinismo biológico, atribuindo à natureza o que pertence ao social, ou seja, “não passa de tentativas artificiais para integrar os conceitos e os métodos de uma ciência natural – a ecologia – àqueles das ciências humanas” (op. cit.). Outra crítica apresentada pelo mesmo autor é a de que não há como se extrair regra morais da natureza pelo simples fato desta ser não-moral. Com a eliminação de variáveis como conflituosidade das relações naturais e sociais, segundo o autor, Capra estaria não combatendo, mas renovando e reforçando a ideologia dominante.

Réplica
Capra (200-), em artigo posterior, respondeu às críticas apresentadas por Layrargues em sua conferência na UNICAMP. Iniciou afirmando que realmente até seu trabalho Teia da Vida realmente ignorou as diferenças entre o mundo natural e o mundo social, omissão esta que foi retificada no livro Conexões Ocultas, excluindo, segundo o autor, a possibilidade de determinismo biológico. Afirmou também que os princípios ecológicos escolhidos se deram por pragmatismo e não por ideologia, vez que o que se busca é a sustentabilidade e clama, ao final do artigo, por uma visão integrada entre as ciências naturais e sociais.

Em busca de um ponto de mutação
Saindo um pouco da polarização estabelecida ao redor do conceito de Alfabetização Ecológica, Brugger, (1998), reconhece a crise sócio-ambiental e a busca um ponto de mutação, identificando a crise paradigmática e civilizatória da sociedade hodierna, caracterizada pela exclusão social, violência, poluição e esgotamento dos recursos naturais, estampada por uma ruptura do ser humano com o entorno, e um processo destrutivo de coisificação (reificação) de conceitos e pessoas em coisas, característica primordial da racionalidade hegemônica cartesiana-mecanicista.

O planeta tratado como uma dispensa e um grande lixão
Esta forma determinista de pensamento reduz o meio ambiente a conceitos técnicos e naturais, transformando o planeta em uma dispensa para coleta de recursos e em um grande lixão para depósitos dos resíduos, esquecendo que em um sistema as relações de interdependência entre as partes são importantes para o entendimento do todo resultante, ou seja, o todo não é simplesmente a soma de suas partes, mas também os padrões resultantes da interação e do feedback entre estas partes. Esta visão reducionista acaba enxergando como problemas suas conseqüências superficiais, deixando de atacar suas causas: “Poluição, extinção e mau uso dos recursos naturais são sobretudo sintomas e não uma doença – de uma crise maior: a crise de paradigma e de civilização já citada (op. cit.)”.

Em busca da ética e da solidariedade perdidas
Este efeito reducionista aplicado à educação ambiental transforma-a em um adestramento “ecofacista”, com técnicas apoiadas no medo e na coerção, onde não são questionadas as formas históricas de relações do homem com a natureza e a busca de valores éticos e políticos para reconstrução desta relação ser humano/meio ambiente e onde não predomina a liberdade na instigação da mudança de valores, tais como a solidariedade, cooperação e o respeito entre os seres humanos e a natureza. Para reverter este quadro Brugger (1998) propõe que: “É preciso, portanto, ir além das visões reificadas no tempo e no espaço e empobrecidas ética e politicamente. Só assim o meio ambiente será percebido como uma construção e possibilidade histórica – e com isso impregnado de escolhas e significados políticos, culturais, éticos, estéticos, sociais e outros”.

Somos partes da teia da vida
Seja do ponto de vista ecológico (princípios), físico (entropia), social, econômico, ou qualquer outro que se analise, a verdade é que a constante degradação da natureza causada pelo ser humano tem causado reflexos que instauram um novo pensar desta relação com o meio ambiente e dos parâmetros de produção e de consumo ilimitados atinentes ao sistema econômico corrente, devendo buscar-se um ponto de equilíbrio, antes que seja tarde demais.
Nesse sentido, independentemente de sua base ideológica, a Alfabetização Ecológica é uma importante contribuição para buscar a educação do ser humano no sentido de que tenha consciência dos limites do planeta, percebendo que fazendo parte deste, sejam os motivos humanos altruísticos ou egoísticos, seu destino está ligado ao destino da terra e o desta ao daquele, como já disse no passado o Chefe Seatle: “Tudo o que acontece com a Terra, acontece com os filhos e filhas da Terra. O homem não tece a teia da vida; ele é apenas um fio. Tudo o que faz à teia, ele faz a si mesmo”.

Referências Bibliográficas
BRUGGER, Paula. Visões Estreitas na Educação Ambiental. Ciência Hoje, vol 24, n. 141, 1998.
CAPRA, Fritjof. O que é Alfabetização Ecológica. São Carlos: RedEScat, 1996.
CAPRA, Fritjof. Determinismo Biológico ou Integração Sistêmica. [200-].
LAYARGUES, Philippe Pomier. Determinismo Biológico: o desafio da Alfabetização Ecológica na concepção de Fritjof Capra. II Encontro de Pesquisadores em Educação Ambiental. São Carlos-SP, 27-30 jul [2003].

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* Interdependência, sustentabilidade, ciclos ecológicos, fluxo de energia, associação, flexibilidade, diversidade e coevolução.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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