A CPI, o Instituto Recriando e a barrigada de O Globo

A CPI da Petrobras é o exemplo mais recente de que a política brasileira não é mesmo para ser levada a sério. Não que não se deva investigar de que forma a estatal distribui benefícios, afinal, apesar de ser uma empresa de capital aberto, é administrada como extensão do Estado e, portanto, a sociedade pode exigir dela a transparência que se espera na aplicação do dinheiro público. O problema não é de legitimidade, mas de conveniência. A CPI não vai investigar (vai?) como um fato normal, corriqueiro, mas porque estamos às vésperas de eleições presidenciais e se quer atingir o governo de algum jeito. E o jeito é associar privilegiados aliados do governo aos investimentos da Petrobras em ações sociais, esportivas e culturais.

Parte da grande imprensa que, declaradamente, não gosta de Lula, embarcou direitinho nas intenções oposicionistas. E começou a ver as mais ardilosas falcatruas até onde não se acha nada de ilegal ou imoral. Tratou logo de generalizar: é petista ou aliado do governo e tem convênio com a Petrobras, logo está fazendo maracutaia. É a lógica do quanto pior, melhor. O importante é desgastar o Lula.

O jornal O Globo de domingo passado, dia 24, traz a reportagem “Contratos com ONGs mostram falha no controle da Petrobras”, texto assinado por duas repórteres, “denunciando” que a estatal repassou R$ 609 milhões, sem licitação, para financiar 1.100 contratos com ONGs, patrocínios, festas e congressos nos últimos 12 meses — só com organizações da sociedade civil, foram 230 convênios de R$ 83 milhões. São juntadas no mesmo balaio de gatos instituições que conveniaram com a Petrobras e que comprovariam que “a estatal está usando seu dinheiro em apoio a projetos que estão longe de realizar a transformação social pretendida”.

AO GENERALIZAR, E NÃO SE DAR AO TRABALHO de procurar conhecer as instituições citadas, O Globo comete o erro de denunciar, por exemplo, o Instituto Recriando, de Aracaju, organização social reconhecidamente séria. O jornalão dos Marinho erra a partir do link motivador da citação da instituição sergipana. A intenção era dizer que a “Missão Criança do Instituto Recriando” (sic) foi “criado pela mulher do governador Marcelo Déda (PT), Eliane Aquino”. Nem sequer apuraram que a instituição fundada em 2001 com o nome de Missão Criança Aracaju foi rebatizada como Instituto Recriando em 2006, quando, no primeiro semestre daquele ano eleitoral, a agora primeira-dama do Estado se desligou e passou a presidência para Maria Luci Silva.

Hoje, quem presidente o Instituto Recriando é a jornalista Joyce Peixoto. “O Globo requentou uma denúncia de 2006, quando também não nos procuraram”, reclamou ela. Em novembro daquele ano — ano eleitoral —, o jornal publicou a reportagem “Petrobras favorece ONGs ligadas ao PT com patrocínio”, relacionando a então Missão Criança Aracaju com irregularidades. A denúncia foi rebatida com uma carta enviada ao editor do jornal O Globo e mereceu o repúdio de diversas entidades, inclusive a Rede Andi Brasil, que reúne 11 organizações sociais. “A Missão Criança, nossa parceira, é uma entidade com trabalho reconhecido pela sociedade sergipana e aplica o dinheiro recebido em projetos com resultados verificáveis, prestando conta de todas as suas
ações”, diz o manifesto assinado pela Rede Andi Brasil.

“Toda a nossa documentação passa por auditorias externas. Prestamos contas ao Ministério da Justiça, a todas as empresas que financiam nossos projetos e ao Ministério Público Estadual, através da Promotoria Especializada do Terceiro Setor”, informa Joyce Peixoto, lembrando que a Petrobras é “uma das” instituições patrocinadoras, ao lado da Norcon, Oi Futuro, Fundo Viva o Amanhã (da Avon), Instituto Lojas Renner, Instituto Votorantim, Progresso, Halley e Setransp. A captação de recursos até novembro deste ano soma R$ 1,2 milhão, dos quais R$ 450 mil são oriundos da Petrobras — 37,5% do total.

O Instituto Recriando recebe o apoio institucional do Unicef, do Banco do Brasil, do governo de Sergipe e da Prefeitura de Aracaju. Até recentemente também era patrocinado pela Unesco, pelo Banco do Nordeste e Yázigi Internexus. Será que essas instituições dariam apoio a uma entidade que não aplica bem os recursos que recebe?

PARA ATINGIR A RAZÃO DA SUA EXISTÊNCIA, as crianças e adolescentes pobres, o Instituto Recriando desenvolve três projetos. O Recriando Caminhos é um projeto de educação complementar que atualmente atende 650 crianças — 350 diretamente — no Lar Fabiano de Cristo, Casa Santa Zita, Instituto e Creche Menino Jesus, Centro de Criatividade, além de estudantes do bairro Santa Maria que são atendidos na Escola Municipal Freitas Brandão, na “avenida da Explosão”.

O projeto Infância em Foco integra a Rede Andi Brasil, uma articulação de comunicadores e ONGs pelos direitos da infância. A iniciativa, existente em 11 capitais brasileiras, visa à promoção e garantia desses direitos através da comunicação, desenvolvendo ações com foco na mobilização social, especialmente de jornalistas e profissionais que atuam na área da infância.

Por fim, o projeto Resgatando Cidadania busca a promoção da inclusão social das famílias das crianças e adolescentes atendidas pelo instituto. Atualmente, o projeto tem o foco na formação de artesãs que produzem bolsas, almofadas, colchas, mantas, tapetes e camisetas através de técnicas de patchwork e tapeçaria. Organizadas, as mães artesãs recebem muitas encomendas e convites para participarem de exposições.

O Instituto Recriando fica na rua José de Faro Rollemberg, 663, bairro Salgado Filho. Quem quiser conhecer as atividades dessa instituição que orgulha os sergipanos é só aparecer por lá. Ou acessar o site http://www.institutorecriando.org.br/. Não custava nada às repórteres de O Globo terem feito isso.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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