A CULTURA E OS LIVROS

A Secretaria de Estado de Cultura está lançando quatro títulos, sendo dois comemorativos – A Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, número especial dos 90 anos da entidade; e Orós, do poeta Clodoaldo de Alencar, que teve seu centenário de nascimento lembrado pela Academia Sergipana de Letras – e mais um Catálogo do artista popular Véio, e O Violino Cerebrino, volume da Trilogia do Poderoso Imperfeito, de autoria de Maria Cristina Gama de Figueiredo. São quatro excelentes obras, que tanto resgatam obras aprovadas pelo Conselho Estadual de Cultura, como põem a Secretaria de Estado da Cultura na liderança de um processo de valorização cultural no Estado. Ao assumir a responsabilidade de editar livros recomendados pelo Conselho Estadual de Cultura, acumulados ao longo do tempo, o secretário José Carlos Teixeira teve a coragem, pouco comum em Sergipe, de traçar um programa editorial, tomando providências de organização e preparação de textos. O resultado, que começa a aparecer, será muito positivo e marcará as relações do Governo com o mundo cultural sergipano. O número 33 da Revista do IHGS, 2000-2002, é dedicado aos 90 anos de fundação da entidade, em agosto de 1912. Trata-se de um compacto de vários textos, 14 contribuições originais, 3 elogios fúnebres, um indice cobrindo de 1913 a 1999, todos apresentados pela professora Maria Thétis Nunes, que recentemente passou de Presidente da Diretoria, para Presidente da Honra da sempre Casa de Sergipe. Colaboram, então com a Revista José Calasans, que tem republicado um pequeno ensaio Notícias de Antonio Conselheiro, Beatriz Góis Dantas – Da Taba de Serigy ao Balão do Porvir: representações sobre índios em Sergipe no século XIX –; Luiz R. B. Mott – A presença de Sergipe Del Rei no Catálogo Genealógico das principais famílias, de Frei Jaboatão e Pedro Calmon –; Ricardo Teles Araújo – Famílias sergipanas do Período Colonial –; Emanuel Franco – A Clã do Engenho Porteiras –; Francisco José Alves – A Novvilha Esfolada: tributação da Bahia sobre Sergipe no século 17 –; Samuel B. de Medeiros Albuqrerque – Aspectos do Baronato sergipano –; Arivaldo Fontes – Centenário de João Baptista de Matos –; José Silvério Leite Fontes – Cidades e Vilas de Sergipe no século XIX –; Ibarê Dantas – Tendências oposicionistas e situacionismo em Sergipe: 1945 – 2000 -; Pedrinho dos Santos – A Pena de Morte em Sergipe –; Maria Thétis Nunes – O escravo negro e as culturas de subsistência de Sergipe d’El Rei –; Amâncio Cardoso – Uma Geografia da Morte: roteiro do cólera por Sergipe, 1855-1856 –; Luiz Fernando Ribeiro Soutelo – Discurso (homenagem a Maria Thétis Nunes) –; Nas Páginas de Saudade, Maria Thétis Nunes presta homenagem a José Calasans, e Luiz Antonio Barreto evoca Eunaldo Costa e Ferreira Neto. Por fim José Ibarê da Costa Dantas assina o Índice da Revista do IHGS (1913-1999). Nascido em 1903, no Ceará, trazido para Sergipe, em 1922, por Graccho Cardoso, naquele ano eleito para presidir o Estado, Clodoaldo de Alencar, rábula e poeta, casou-se na Estancia com uma filha do médico Jessé Fontes – Eurídice -, constituindo uma família de intelectuais: Geraldo, falecido prematuramente, Luiz Carlos Fontes de Alencar, Clodoaldo de Alencar Filho, Hunald de Alencar, todos da Academia Sergipana de Letras, Jessé Cláudio Fontes de Alencar, advogado no Rio de Janeiro, e Leonardo de Alencar, artista plástico. Para comemorar o centenário de nascimento do poeta, que também foi acadêmico, a Academia Sergipana de Letras bateu à porta da Secretaria de Estado da Cultura, levando o volume de poemas Orós, representativo da obra do poeta cearense, que tem em Archotes e na tradução de sonetos de Heredia um acervo literário reconhecido. A reedição tem dois méritos, o de revisitar o poeta com sua obra, e o de colocar a poesia de Clodoaldo de Alencar ao alcance das novas gerações. Véio, nome artístico de Cícero Alves dos Santos, um dos expoentes da arte sergipana, nascido e vivido no sertão, tem finalmente um Catálogo para registro do seu fazer com pedaços, grandes e pequenos, de madeira, esculpindo figuras, objetos, paisagens, como a plantar arte nos canteiros de terra sertanejos, ao seu olhar. Há muitos anos Véio vem trabalhando e chamando a atenção dos sergipanos para um tipo especial de arte, que singulariza a sua contribuição à estética local. Finalmente a Secretaria de Estado da Cultura recupera, com imagens em grande feitio e boa impressão, as peças mais representativas do artista. Poucos artistas têm, com a paisagem, uma vida cumpliciada como Véio. Talvez aí, nesta particularidade, resida o bom resultado da criação do artista, reproduzindo com matérias da natureza, a própria natureza que ele admira, incluindo a vida típica das comunidades rarefeitas do sertão sergipano. Maria Cristina Gama de Figueiredo escreve muito e escreve bem. Escreve em verso e em prosa, com elegância, riqueza vocabular, e fortes conteúdos, como já vistos em A Próxima Índia (1998), por exemplo, um livro maduro, de linguagem exercitada com o rigor de quem tem o discurso atualizado. No entanto, Cristina Gama publica pouco, o que concorre para que a sua obra, de excelente valor literário, não seja lida e relida pelas novas gerações de sergipanos e de brasileiros. Sergipe conta com alguns poetas, que renovam constantemente suas obras, como é o caso de Santo Souza, o bruxo da rua Rio Grande do Sul, no bairro Siqueira Campos, que do alto dos seus 84 anos trabalha, diariamente, um livro novo, sempre marcado com seu modo órfico de tratar a vida. Outro poeta é Wagner da Silva Ribeiro, agora poetizando mitos gregos, para contextualizá-los com o mundo de hoje. Maria Cristina Gama de Figueiredo tem a estatura dos grandes poetas, e busca pensar a poesia com a reflexão que vai além da linguagem, para ser instrumento que a arte põe ao dispor do diálogo cultural dos povos. O Violino Cerebrino, verso e prosa de Cristina Gama é um livro da nova e boa literatura brasileira. Parabéns ao Secretário José Carlos Teixeira pelo esforço, pela coragem, pelos acertos em favor da cultura sergipana. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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