A Dança da Caça x Planejamento Estratégico

“Cada guerreiro tem que encontrar o seu próprio caminho.
Ninguém pode nos fornecer o nosso próprio caminho…”

Joseph Campbell

Era uma noite escura como breu. A floresta estava silenciosa. No meio de uma imensa clareira pouco a pouco os guerreiros foram chegando silenciosos eles formavam um imenso circulo. Pintados, enfeitados e cheios de armas os guerreiros se preparavam para a dança da caça.

 

Na sua cultura secular, nenhuma ação poderia acontecer sem um grande preparo. Percebia-se no ar a solenidade a magnitude do evento. Os guerreiros anciãos sentavam-se, formando um ciclo maior fora do ciclo menor dos guerreiros pintados. Os primeiros movimentos da dança começam a acontecer quando os primeiros raios da lua cheia começam a clarear a clareira. A dança começa, em ciclo os guerreiros giram primeiro para a direita no sentido simbólico dos movimentos da vida, seus movimentos cada vez mais fortes inebriam a todos aqueles que os observam. O reino da floresta silencia.

 

A dança da caça é ouvida a milhares e milhares de metros de distância. Os guerreiros cantam, dança, e no inebriar dos seus movimentos começam a imaginar a campina, a caça, os movimentos que precisaram fazer para poder caçar e fazer e escolha certa. A dança da caça se intensifica, como se fora um movimento maior tudo gira, tudo se movimenta. Os anciãos dão gritos de estímulos: “faça a escolha certa”, “cuidado com as fêmeas”, “respeitem os animais jovens”; “lembrem o ciclo da vida: tudo que é tirado precisa ser reposto”.

 

A dança da caça continua intensa. Os jovens guerreiros mais parecem deuses enfurecidos. Levantas suas armas, fazem movimentos como se estivessem mirando a caça, em seguida correm atrás de uma caça imaginária, param como se tivessem feito uma escolha errada e reiniciam todo o processo.

 

A lua atinge o alto do céu e ilumina a clareira intensamente. A dança da caça parece chegar ao seu auge. Pouco a pouco, como se tivessem feito uma excelente caça imaginária, os guerreiros comemoram em pequenos grupos, e simbolicamente, dividem a caça, para em seguida formarem círculos menores.

 

Pouco a pouco a dança da caça toma os aspecto de dança de celebração e exaustos os guerreiros vão se sentando ao redor dos círculos menores, como se fossem pequenas equipes.

 

A floresta começa a silenciar. A lua soberana tudo vê e tudo ilumina. Pintados e exaustos os guerreiros adormecem no meio da clareira.

 

Finalmente a floresta silencia e todos adormecem. Apenas a lua exuberante e vigorosa presencia tudo o que acontece na clareira adormecida.

 

Os primeiros raios de sol começam a iluminar. Os vento sopra suavemente as folhas das árvores, os pássaros iniciam os seus trinados e, novamente, como faz a dezenas de anos a floresta acorda. Coloridos, exuberantes e felizes, os guerreiros se levantam e vão ao trabalho. Agora, eles vão à floresta, e vão buscar de verdade, os animais que escolheram, perseguiram e caçaram durante toda a dança da caça.

Eis a verdade. Eis um ciclo da vida.

 

Esse pequeno conto foi escrito por mim para ilustrar um fato real. É dessa maneira que os aborígines em quase todo os ciclos de vida da Terra caçavam ou ainda hoje caçam. Segundo vários pesquisadores eles usavam e continuam usando uma poderosa ferramenta do pensamento chamada “imaginação criativa” e simulam durante a dança da caça todas as etapas de uma caçada, os tipos que animais que querem, tamanho, peso, sexo, a caça e a repartição da caça. Tudo é criteriosamente imaginado, selecionado, pesquisado e escolhido.

 

Na verdade é nada mais nada menos do que um belíssimo exemplo de planejamento estratégico ao vivo e a cores. Onde as escolhas, os objetivos, as forças, as fraquezas são criadas na imaginação e no dia seguinte todos eles vão à floresta apenas para buscar a caça que já escolheram na noite anterior.

 

Quantos de nós, ditos civilizados fazemos isso nas nossas vidas, ou até mesmo nas nossas empresas? Infelizmente muito poucos. Quantos de nós paramos para imaginar o futuro que queremos construir para nós mesmos, para nossas empresas ou para nossas comunidades?

 

Nós do chamado “mundo civilizado” acreditamos, na maioria das vezes, que estamos muito acima dessas coisas “miúdas”, dessas besteiras e sandices. Assim agindo, deixamos de utilizar uma poderosa ferramenta que nos foi dada pela Providência: o pensamento, a nossa capacidade para imaginar, criar, recriar, ver, modificar, interagir e mudar tudo apenas utilizando o pensamento. Na verdade o cérebro pode atuar como um potente simulador criando, modificando e alterando tudo o que quisermos e pudermos imaginar.

 

No chamado mundo empresarial se pararmos para analisar, friamente, os fatos que nos cercam, se nos colocarmos – sempre que possível – no lugar do outro, se analisarmos – profissionalmente – como estamos produzindo e ofertando os serviços para os nossos clientes (sejam eles internos ou externos), podemos constatar que muitas vezes nos escondemos atrás de muros inexpugnáveis para não vermos realmente a verdade e a crueza dos fatos.

 

Por outro lado, no nosso mundo pessoal e particular, muitas vezes, os fatos são muito mais graves porque quando não paramos para pensar em nós mesmos damos permissão mesmo sem ser essa a nossa intenção para que muitas pessoas conduzam a nossa vida pessoal e até mesmo profissional.

 

Logo, não resta a menor dúvida que o poder das escolhas está conosco mesmo, o difícil é – muitas vezes – entendermos isto. Coisas da vida!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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