A DIFERENÇA ENTRE O PERDE-DOR e o VENCE-DOR

“Estou desesperado. Tenho 35 anos, meus pais são pobres, não podem me ajudar. Eu não quis estudar, quando podia. Achei que um emprego seria melhor. Acreditava que ganhar dinheiro, mesmo pouco, era mais importante do que o estudo. Hoje exerço uma profissão que, aqui em Sergipe, não dá muito resultado, não tenho condições de sair daqui, pois não conto sequer com um parente que me dê apoio no Rio, São Paulo, ou Fortaleza, por exemplo. Sinceramente eu não sei mais o que fazer…”. 

                                                                     Fragmento de uma conversa que tive com um amigo.

 

Muito triste a situação exposta por este amigo. Ela reflete, sem dúvida, uma realidade para boa parcela de nossa população. A grande maioria dos nossos jovens, por vários motivos, não se preocupam com o futuro. O resultado são constatações como a acima descrita. Adultos desesperados, sem rumo.

 

Os motivos que os levaram e levam a este infortúnio são os mais variados. Vão desde a falta de orientação, passando pela rebeldia juvenil, pela preguiça, por confiar no patrimônio dos pais, por acreditar que um empreguinho qualquer é melhor que perder tempo estudando, se preparando…

 

Porém, devo afirmar, que nem tudo está perdido. Não é possível recuperar todo o tempo, é claro. O tempo, no que pese ser um dos nossos maiores patrimônios, só pode ser usado no seu “tempo”. Passou, passou, acabou.

 

Mas, no caso deste meu amigo que acordou, embora tarde, de um sonho equivocado, descobriu a grande mancada que vem praticando, as grandes oportunidades que vem perdendo, tem uma saída. Mais dolorosa, mas, a única saída. É o único remédio.

 

Todavia, é assim mesmo. Na vida, como na medicina, para curar é necessário diagnosticar.  O médico para prescrever um remédio necessita saber qual é a doença. Ou seja, somente depois de examinar e descobrir qual é a enfermidade é que ele está apto a indicar o medicamento que cura.

 

Descoberto o engano, diagnosticado as razões, fica, aparentemente, mais fácil corrigir.

 

Descoberto, portanto o motivo pelo qual tanto se desespera o meu amigo, resta somente prescrever o remédio.

 

E, o único medicamento capaz de curar o grande mal que sofre este amigo é exatamente este: “QUERER MUDAR”.  Não pairam dúvidas. Se ele ou qualquer outro que se encontre em situação idêntica quiser efetivamente resolver o problema, só há essa saída.  

 

Quando realmente queremos uma coisa, conseguimos. Basta que montemos um plano estratégico para chegar ao objetivo, coloquemos ação neste plano e ajamos sempre focados na concretização deste plano. Às vezes dói, às vezes o sofrimento é maior do que imaginávamos. Mas compensa. É preciso renunciar, ter coragem, ser decisivo e, sobretudo, estar cem por cento empenhado – querer com toda a força do seu coração e da sua razão. E, por último, FAZER.

 

Confesso que, infelizmente, não encontro esta VONTADE/CORAGEM nesse meu amigo. Lamentavelmente, tenho que estar preparado para escutar esta mesma estória por muitas e muitas vezes.

 

Mas, felizmente existem pessoas como Ubirajara Gomes da Silva, que acreditam, têm coragem e fazem, obtendo sempre o melhor resultado.

 

Ah! Não sabe quem é Ubirajara Gomes da Silva? É aquele “menino de rua” com 27 anos, 12 dos quais morando ao relento, que foi aprovado quatro concursos públicos e, na última segunda-feira, dia 14 de julho de 2008, assumiu o seu primeiro emprego.

 

Atenção! Não é qualquer empreguinho arranjado de favor, não. Tampouco, trata-se de cota para algum tipo de excluído. Ele passou pela honrosa porta estreita do concurso público para o Banco do Brasil. Concorreu com 19 mil candidatos e passou em 136º lugar e vai ocupar uma das 171 vagas disponíveis.

Como? Um mendigo, um miserável menino de rua, que sequer tinha uma casa para dormir, uma escola para estudar, passou num concurso para o Banco do Brasil e, ainda, concorrendo com mais de 19 mil saudáveis “meninos de casa”, presumivelmente em muito melhores condições?

Passou. Sabe por quê? Porque ele quis e, além de querer, se preparou e, além de se preparar, FEZ.

Aí está o grande segredo que separa o perde-dor, aquele que perde para a dor; do vence-dor, aquele que vence a dor: querer, se preparar e fazer.

Ubirajara é filho de uma garçonete e um policial militar. Foi abandonado pelos seus desajustados pais que, como sempre acontece, separaram-se e irresponsavelmente largaram os filhos para a coitada avó materna criar. Ele e mais quatro irmãos. Situação difícil, muita pobreza, desavenças, pouca assistência dos pais, ambiente insuportável, tudo fez com que Ubirajara procurasse na rua o que lhe faltou no lar, fugiu de casa. Por várias vezes, não agüentando a situação de miséria e brigas, fugia e voltava, fugia e voltava, até em que em 1995, cursando a sexta série do primeiro grau, saiu e não voltou mais.

Viveu, por 12 anos perambulando pelas ruas vivendo de migalhas. Não é difícil imaginar as agruras por que passou.

Em 2001, acordou daquele sono letárgico e decidiu reiniciar os estudos. Mas, como? Não tinha condições. Aí ele descobriu uma coisa interessante, acreditou que as tais “condições”, sempre podem ser criadas. Na verdade elas nunca existem. Somos nós que as fazemos.

Ele as fez, criou um objetivo, traçou uma meta e fez a sua parte: lia tudo o que chegava às suas mãos, freqüentava bibliotecas públicas e, sobretudo, lan houses. Ele afirma que foi a internet que o levou a ser novamente gente, pois lá as pessoas são iguais, não há muita descriminação, além de ter tudo para quem quer estudar. Estudou, fez as provas do supletivo, e recebeu diploma de ensino médio após ser aprovado, concluindo, assim o segundo grau.

No geral ele seria apenas mais um abandonado que iria acabar seus dias cheirando cola, fumando crack ou viciado em bebida, morreria, sem dúvida, igual a tantos milhares de perde-dores que perambulam pelas ruas do mundo, na indigência.

Tinha tudo para isso acontecer. Mas, ele venceu. Provou para ele e para todos que é possível vencer, basta querer, se preparar e fazer. Parabéns grande vence-dor, eu tenho certeza que a sua trajetória de sucesso não vai parar aí.

Ah, sim. Sobre o meu amigo? Tomara que ele leia esta matéria e lendo-a possa acordar também daquele sono letárgico.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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