A DOENÇA E AS OPINIÕES

A sociedade é muito perversa com qualquer alteração no estado de saúde de celebridades artísticas e desportivas ou com homens públicos de expressivas lideranças políticas e religiosas. Geralmente a dimensão da enfermidade é ampliada e não se acredita em boletins médicos ou notas oficiais. Um simples mal-estar pode se transformar em doença incurável. Dar-se até um curto prazo de vida. É assim com todos e isso talvez nem ajude ao enfermo, porque se transforma numa carga negativa para quem está apenas com uma simples gripe mal curada. Não aparece um só comentário otimista, que miniminize casos de internamentos, às vezes para simples exames de rotina. A tendência da sociedade é para o mal maior, que cria uma expectativa sobre o estado de saúde do líder e vários tipos de doenças se espalham nas cidades, nos estados e no país.


Há um certo incentivo a essa predisposição da sociedade em imaginar o pior para as pessoas mais importantes. É que, geralmente, procura-se evitar informações mais concretas sobre o estado de saúde de um paciente ilustre. Às vezes se esconde literalmente um simples tratamento dentário que, quando chega a público, toma um rumo de uma terrível enfermidade. Isso aconteceu, também, com o ex-governador Albano Franco, que sofreu uma pneumonia e passou alguns dias sob tratamento no Rio de Janeiro. Ainda hoje se acrescenta uma doença a mais nos simples exames de uma gastrite que o ex-governador já sofreu há algum tempo. A população convive com o hábito de pensar sempre o pior para as autoridades que têm problemas de saúde e, principalmente, as que se internam.


As autoridades também dão margem a isso e procuram esconder doenças graves para não prejudicar a carreira política. Foi o caso, por exemplo, do ex-senador Petrônio Portella (PDS), que seria o candidato civil da ditadura militar, em 1986, para presidente da República, quando se iniciou o processo democrático. Vítima de um infarto quando visitava a cidade de Campina Grande (PB), Petrônio escondeu a doença até desembarcar em Brasília, onde morreu algumas horas depois. O primeiro presidente eleito de forma indireta, Tancredo Neves (PMDB), poderia ter tomado posse e cumprido seu mandato por quatro anos, se não tivesse escondido as dores intestinais que sentia, o que lhe provocou uma diverticulite aguda que, com a ajuda de erros médicos, o levou à morte. Talvez ser presidente, como no caso de Petrônio Portela, ou assumir a Presidência o mais rapidamente possível, como no caso de Tancredo Neves, fosse muito mais importante do que a vida.


As autoridades constituídas devem ter consciência da imunidade para atos que os cargos impõem. Mas não são imunes às doenças de qualquer dimensão. Além disso, por mais que lutem para manter a impressão saudável ou pensem que ficarão para a eternidade, não há jeito: um dia vão se deparar com a fatalidade da morte, como pessoas comuns, porque ela é a única previsão absolutamente certa que o homem tem condições de fazer.

No caso do governador João Alves Filho (PFL), um dos primeiros médicos que chegou ao seu apartamento, na sexta-feira passada, garantiu que ele está muito bem: “a maior prova disso aconteceu ontem, quando ele pediu os óculos e jornais para ler”. Confirma que o sangramento foi decorrente de uma artéria localizada no duodeno de forma anômala e que pode se desgastar com stress ou acidez. Segundo ainda o mesmo médico, a sua transferência para São Paulo é realmente pela vontade da família, que pretende fazer exames mais precisos sobre as causas da hemorragia, mas, também, é para evitar o assédio de pessoas que querem vê-lo, ouvi-lo e conversar, o que prejudica o tratamento. Em São Paulo, além da exatidão dos exames, o governador vai descansar e ficar absolutamente distanciado de problemas administrativos e políticos, como, por exemplo, a eleição da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa, que promete ser movimentada e confusa. João Alves Filho está muito bem e só viaja em uma UTI do ar por questão de segurança. Ele embarcou ontem às 19 horas de Aracaju e chegou em São Paulo às 23 horas (horário de Brasília).

 

Viagem

O governador João Alves Filho (PFL) viajou ontem, em um avião UTI, para o hospital Sírio Libanês, em São Paulo, acompanhado do gastroenterologista Gilvan Pinto. A viagem a São Paulo foi uma decisão da família, com o objetivo de exames mais aprofundados e constatar o que fora feito em Sergipe.

Artéria
Os exames detectaram a causa do sangramento: o rompimento de uma artéria localizada no duodeno de forma anômala. Segundo o médico, pode ter sido provocado pelo stress. Controlada a hemorragia, João Alves Filho seria liberado, mas ficou internado na Unidade Coronariana porque teve uma queda brusca de pressão.

 

Sintomas

João Alves ainda estava no Palácio, sexta-feira, e sentiu um mal-estar. Perguntou à sua secretária, Lucinha, se havia almoçado, ela disse que não e mandou servir um lanche reforçado. João só comeu abacaxi, por volta das 22 horas, e pediu a auxiliares que estavam com ele para dispensar os despachos. Viajaria para descansar na fazenda Jundiahy, em Propriá.

 

Esteira
Quando chegou em casa, João Alves iniciou alguns minutos de exercício de esteira. Logo depois a dor retornou e surgiu ânsia de vômitos. Telefonou para o médico e disse-lhe o sintoma, foi orientado a vomitar e ficar passando a cor e densidade do que saía do estômago para o médico, que o acompanhava por celular.

 

Internação
No primeiro contato com o médico, foi aconselhado a ir ao hospital São Lucas para exames, quando foi detectada uma hemorragia interna. Essa hemorragia era proveniente da artéria duodenal anômala, que fica sensível a ácidos, inclusive o contido no abacaxi que ele ingeriu.

 

Domingo
No domingo, João Alves fez sua primeira alimentação sólida por volta de meio-dia e demonstrou um bom apetite. Deveria ter ido para casa ontem, onde seria montado um quarto para tratamento domiciliar. Mas, pela manhã, a família decidiu leva-lo para São Paulo.

 

Sarney
O presidente do Congresso, José Sarney (PMDB), telefonou para João Alves Filho e também o aconselhou a fazer exames em São Paulo. Chegou a brincar com o governador: “você fica deitado no hospital, em São Paulo, e assiste o carnaval pela televisão”. João sorriu…

 

Conversa
João Alves agendou para ontem uma reunião com todos os deputados estaduais do seu bloco, com o objetivo de tratar da eleição da Mesa Diretora da Assembléia. Ouviria uma parte pela manhã e outra à tarde. Com a viagem a São Paulo, não terá qualquer conversa com os parlamentares.

 

Retorno
O secretário de Coordenação Política, José Alves, que viajou a Brasília para participar da formatura da filha e descansar por 15 dias, retornou domingo. José Alves vai conversar com os deputados da situação sobre a eleição da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa, que acontecerá amanhã.

 

Reunião
O presidente da Assembléia Legislativa, Antônio Passos (PFL), também conversou com alguns parlamentares, ontem, sobre a eleição da Mesa Diretora. Um dos deputados mais ligados ao Governo disse que “com o governador seria uma coisa, mas com o secretário será outra. Acha que o processo pode ser tumultuado”.

 

Oposição

Os deputados da oposição vão se reunir, hoje, para tomar uma posição e analisar as condições da bancada para influenciar na eleição da Mesa Diretora. Por enquanto, segundo o deputado Belivaldo Chagas (PSB), a oposição mantém a posição de reeleger a Mesa Diretora da forma que está.

 

Pulso
Segundo setores da oposição, não é objetivo do grupo apoiar outra candidatura em troca da primeira secretaria. Só o faria para eleger o presidente. Como não vêem na oposição alguém de maior pulso que Antônio Passos para dirigir a Assembléia Legislativa, vão continuar com ele para a reeleição.

 

Encontro
Sábado passado, em Divina Pastora, os deputados Belivaldo Chagas e Augusto Bezerra (sem partido) se encontraram e conversaram sobre a Mesa Diretora da
Assembléia. Augusto informou que o governador teria lhe dito que a intenção seria manter a mesma mesa. Disse também que José Alves é quem iria coordenar a bancada do governo.

 

NOTAS

Telefonemas
O prefeito de Aracaju, Marcelo Déda (PT), telefonou para o secretário Nicodemos Falcão, para saber do estado de saúde do governador João Alves Filho e fazer-lhe uma visita. Nicodemos informou que João estava com ordens para não receber visitas. Déda pediu que lhe transmitisse o desejo de melhoras. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), também telefonou para o governador João Alves e colocou-se à disposição. Outras lideranças nacionais também telefonaram para o governador de Sergipe.

Interior
O prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, passou a manhã de ontem no alto sertão sergipano, distribuindo 350 cestas de alimentos nas cidades de Porto da Folha, Poço Redondo e Monte Alegre, provenientes do que fora recolhido no Pré-Caju. Em Aracaju, também foram distribuídas 350 cestas de alimentos. Déda entrou de férias ontem e hoje viaja ao Rio de Janeiro, onde passa o carnaval e assiste o desfile das Escolas de Samba do camarote da Petrobras. O prefeito pode desfilar em uma das alas da Mangueira.

Virgílio
O candidato independente a presidente da Câmara Federal, deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), chega a Aracaju amanhã para conversar com os seus colegas de Sergipe a fim de tentar convencê-los de que ele é o melhor nome para exercer o cargo. Não contará com a presença de Marcelo Déda, que estará viajando. Pelo menos seis deputados federais devem se reunir com Virgílio Guimarães e discutir a questão da Mesa da Câmara. Em Sergipe, ele tem pelo menos dois votos, porque tem mais aproximação com os parlamentares.

 

É FOGO

O governador João Alves Filho pediu ontem os jornais para ler. Segundo um dos seus médicos, o governador está bem.


O deputado federal João Fontes (PDT) disse ontem que passou alguns dias mergulhando: “é no fundo do mar que a gente pega os melhores peixes”, brincou.
Muitos comentários infundados sobre o internamento repentino do governador João Alves, na sexta-feira à noite.


Apesar da mudança no Comando da Polícia Militar, não ocorreu nenhuma melhora na questão dos assaltos. Continuam freqüentes…


O secretário de Articulação Política, José Alves Neto, conversou ontem com alguns deputados sobre a composição da Mesa Diretora.


A conversa sobre a eleição da mesa vai se prolongar até o último minuto do pleito. Até lá, muita coisa vai rolar.


O professor Luiz Alberto, uma das figuras mais ilustres do PT de Sergipe, é o novo secretário da Educação da Barra dos Coqueiros.


Luiz Alberto é competente e, se tiver condições plenas de trabalho, vai revolucionar o ensino público em Barra dos Coqueiros.


A maioria dos deputados da oposição está satisfeita com a Mesa Diretora e diz que vai votar na reeleição de seus componentes.


A divulgação do resultado da balança comercial na quarta e última semana de janeiro, prevista para ontem, foi adiada para hoje.


O coordenador de pesquisa de preços da Fipe, Paulo Piechetti, elevou mais uma vez a previsão de inflação para janeiro, de 0,62% para 0,66%.


A Vasp informou que reembolsará todos os passageiros que compraram passagens da companhia.
Basta que os passageiros procurem as lojas da Vasp.

 

brayner@infonet.com.br

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais