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Em uma das cachoeiras da Serra. |
Primeiro esqueça tudo o que você sabe sobre corrida de rua. O ritmo, a velocidade e intensidade são totalmente diferentes. Quando o assunto é corrida em trilha (trail run, montanha, cross country ou qualquer outra denominação do gênero) o mais importante é mudar a mentalidade e fazer o psicológico suportar os desafios. Foi assim no último domingo, 5 de julho, na K-21 Series Aracaju, que foi realizada entre os limites do munícipio de Areia Branca e Itabaiana.
A prova, não tenho dúvida, entrou para a história. Não só pela dificuldade técnica, mas também pela qualidade e nível internacional. A corrida aconteceu na região da Serra de Itabaiana, considerada uma das principais belezas naturais do Estado de Sergipe, que até poucos anos atrás foi transformada em parque nacional e guarda tesouros como o Parque dos Falcões.
O percurso da K-21 Series foi muito difícil. Para quem participou dos 21km foi preciso enfrentar um ganho e perda de elevação de 1153 metros com inclinação máxima de 35%. Qualquer número, no entanto, será incapaz de revelar o quanto foi difícil. O terreno bastante acidentado, com pedras soltas e escorregadias, lama, córregos e matos, além de outras adversidades que não encontramos no dia a dia das corridas de rua, foram os ingredientes necessários para a qualidade da prova.
Pessoalmente, se eu pudesse voltava no tempo e faria a inscrição da prova nos 5km ou 10km. Não que esses dois trechos tenham sido fáceis, mas passar 5 horas subindo e descendo foi dolorido. As pernas pediram para desistir. A mente mandava continuar. Entre essa peleja encontrei uma maneira de me divertir: tomar banho de cachoeira, sentar no meio do caminho e contemplar a paisagem, brincar com os amigos, fazer fotos e mais fotos e ainda por cima beber um energético geladinho bem no alto da serra com a neblina pairando no cume.
Teve quem reclamou das dificuldades e desistiu, assim como sobraram elogios e admiração pela imponência da Serra de Itabaiana. Os desistentes, no entanto, foram bravos porque resolveram encarar. Tenho certeza que esses estarão de volta em uma próxima oportunidade. E falando nisso, quando será a próxima? Aposto que muita gente ficou empolgada.
A prova
A animação começou logo cedo quando um trio pé de serra deu a primeira sacodida nos participantes. Os corredores alagoanos e pernambucanos fizeram uma grande festa, com direito a quadrilha e comidas típicas. Tudo isso porque a prova atrasou por pelo menos uma hora. O motivo: um forte temporal caiu na região derrubando árvores e interrompendo o percurso. A corrida só foi liberada com o aval da equipe de bombeiros. Isso foi suficiente para aumentar a ansiedade de quem estava louco para subir e descer a Serra.
A largada foi uma festa. O forródromo da cidade de Areia Branca foi palco da concentração. Mais de 500 corredores partiram em direção aos 5, 10 e 21km. A primeira aventura começou após alguns metros batendo perna nos paralelepípedos. A descida de barro e pedra, apesar do perigo, foi pura animação. Mas foi a partir desse ponto que a coisa começou a ficar quente.
Já dentro da Serra de Itabaiana os corredores de 10km e 21km foram para destinos diferentes. Quem ousou correr uma “meia maratona” precisou ir até o topo por meio de uma subida sinuosa com grandes pedras e quedas d´água. Em alguns locais, os bombeiros estavam auxiliando a passagem dos corredores. Chegar no cume parecia ser a glória. Do alto, em meio à neblina, doses de energéticos e muita água mineral recalibraram o corpo.
E descemos. Tão dura quanto a subida foi a descida. Os corredores colocaram a musculatura à prova. Cada um seguiu seu ritmo entre lamas e pedras. Uma corda precisou ser colocada em um ponto para auxiliar a descida, de tão íngreme que era. Descer foi um alívio. Não foi tanto porque teríamos que subir novamente. Sim, essa subida foi casca grossa. Foi exatamente entre o quilômetro 12 e 14 que pensei em desistir. Encontrei forças ao lado dos amigos Clayton e Marcinho.
Mais uma vez estávamos no topo da Serra tomando aquele energético geladinho. Só faltou o carrinho de cachorro quente, a pipoca, o pastel e o caldo de cana. Como não tinha nada disso iniciamos a descida. Dessa vez foi um caminho mais aberto e descampado, porém não menos tenso. Foi nesse ponto que Clayton resolveu colocar uma música em seu celular (NOFX) para animar o clima de cansaço.
Entre tantas dificuldades encontramos uma brecha para rir, contar histórias e passar o tempo. Faltavam poucos quilômetros. No entanto, a mesma descida dos primeiros metros estava nos aguardando para a subida. De volta ao paralelepípedo, colocamos a última reserva de energia para correr. Não foram as pernas que chegaram, mas sim o coração!
Nota: É preciso estar muito bem preparado para completar uma prova dessa natureza. O percurso é complexo e exige muito do corpo e da mente. Se desejar participar de eventos assim faça treinos específicos e procure orientação profissional. Quero deixar aqui meus elogios para Flávia e sua equipe da Conceito Soluções Esportivas, que com todo o empenho conseguiu realizar o evento com sucesso. Detalhes da prova podem ser acessadas no site oficial.