À memória de Orlando Dantas As páginas dos jornais estão repletas de informações e de opiniões que atestam interesses difusos, pendulando entre a formação de uma opinião pública de adesão e outra destinada a ajudar na compreensão dos fatos. A opinião pública de adesão decorre do uso político do jornalismo, para fins de conquista ou manutenção do Poder. Muitos exemplos, deploráveis, fizeram dos jornais armas de grosso calibre, mortais em seus textos, marcantes para a vida de pessoas, alvejadas pela vileza de uns, que tal e qual o humor dos príncipes, visam apenas demarcar território de domínio. Os políticos, ou aqueles que lhes estão próximos, são os alvos preferenciais, como temos, em Sergipe, bons exemplos. No convívio social três situações são deploráveis e afetam, moralmente, a imagem de cada vítima: a traição conjugal, o homossexualismo, e a ladroagem. É comum achar-se, na história da imprensa, exemplos de tais situações, ou suspeitas, envolvendo desafetos, notadamente entre políticos, justamente aqueles que circulam no meio das comunidades, em busca de votos para os seus projetos eleitorais. Graccho Cardoso, Augusto Maynard, Manoel Dantas, Luiz Garcia, dentre muitos outros, sofreram a pecha da suspeita e mesmo que nada pudesse passar de suposições, ficaram marcados. Via de regra os atingidos provém de famílias pobres, que superaram a realidade familiar e projetaram seus nomes na história. Quem era Graccho Cardoso, nascido e criado numa família de professores pobres, para merecer os ataques de alguns jornais, enquanto estava no Governo do Estado (1922-1926)? E o Major Augusto Maynard Gomes, revolucionário de 1924 e 1926, filho de uma família comum, sem engenhos ou usinas, em Rosário do Catete? E Luiz Garcia, nascido também em Rosário, filho de um pequeno comerciante de produtos farmacêuticos e funcionário público? E Manoel Correia Dantas, que embora nascesse respirando o cheiro da cana moída nos engenhos dos seus familiares, entre Divina Pastora e Capela, era um cidadão de classe média, que atingido em sua honra preferiu viver e morrer fora de Sergipe, desde que foi retirado do Poder pelos revolucionários de 1930. Não por mera coincidência, a classe dominante, endinheirada, sobreviveu acima de qualquer suspeita, como se fossem parâmetros de dignidade. E muitos eram. O equilíbrio está no jornalismo que forma opinião no sentido de cada leitor ter possibilidade de compreender e assimilar os fatos. Cresce de importância, tanto no século XIX, quanto no século XX, os jornais destinados ao serviço de causas justas, inovadoras, progressistas, como aquelas que podem ser encontradas em jornais como o Correio Sergipense, Luz Matinal, O Libertador, O Republicano, todos do século XIX, que souberam abraçar temas novos e palpitantes. Nas páginas do Correio Sergipense estão as primeiras produções literárias locais, artigos tratando da organização da vida econômica da Província emancipada, e tudo o mais que estava destinado a fazer de Sergipe um objeto de permanente reflexão. Luz Matinal e O Libertador, reunindo Francisco José Alves, Etelvina Amália de Siqueira, Prado Sampaio e outros abolicionistas, agitaram a idéia da liberdade dos escravos. O Republicano, publicado em Laranjeiras, era porta-voz dos jovens republicanos, e contava com o talento de Felisbelo Freire, Silvio Romero, Baltazar de Góes e outros cabeças da propaganda republicana em Sergipe. No século XX foram muitos os jornais editados em Aracaju, alguns dos quais de excelente feição redacional e gráfica, contando com ícones da intelectualidade local em suas páginas. É sempre bom lembrar que Gumercindo Bessa, Prado Sampaio, Manoel dos Passos de Oliveira Teles, Clodomir Silva, Passos Cabral, Artur Fortes, Carlos Garcia, Carvalho Neto, que souberam ser jornalistas e intelectuais, conciliando a ética e a estética, como valores inseparáveis ao jornalismo e à literatura. É também de boa lembrança que poetas como José Maria Fontes, José Sampaio, Santo Souza, freqüentaram as páginas dos jornais, antes que os suplementos ganhassem importância como veículo diferenciado. A criação de órgãos de cultura, como ao Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, em 1912, a Academia Sergipana de Letras, em 1929, a Sociedade de Cultura Artística de Sergipe, em 1951; as tragédias, como a da Gripe Espanhola, em 1918, a dos torpedeamentos dos navios na costa sergipana, pelo submarino alemão U-507, em 1942, os crimes do menino Carlos Werneck, do médico Carlos Firpo, e muitos outros eventos que chocaram e comoveram Aracaju, ao lado de datas sociais, festas, diversões que alegraram a vida local, ocuparam as páginas dos jornais, em registros definitivos. A Gazeta Socialista, depois convertida em Gazeta de Sergipe, que funcionou por mais de 50 anos, difundindo um pensamento político novo, fazendo a defesa do Estado e dos mais legítimos interesses da população, num claro uso de formação de uma opinião pública de compreensão da realidade; lutando em favor da exploração das reservas minerais e de um modelo de desenvolvimento diverso daquele que vigorou, desde a conquista do território, em 1590; pode ser, sem favor e ainda que sem esconder seus pecados, um exemplo e um símbolo, uma casa e uma escola do jornalismo sergipano. (continua)
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