A função cultural dos jornais não pode ser medida apenas pela força comercial da circulação de cada uma das folhas noticiosas, editadas duas ou três vezes por semana, até tornarem-se diárias, cumprindo um processo comum à imprensa brasileira. Há um acervo de pequenos jornais estudantis, engajados ideologicamente, tanto sob o ponto de vista político, como sob a ótica cultural, que pode ser acoplado à história, alargando o Catálogo do venerando Armindo Guaraná, de 1908, o complemento feito por Clodomir Silva no seu monumental Álbum de Sergipe, de 1920, e, ainda, pelas notas de Gonçalo Rollemberg Leite e de Magalhães Carneiro, que registram, ainda que sem detalhes, o surgimento de novos jornais sergipanos, elevando para quase três centenas o número deles, desde que circulou o primeiro de todos, em 1832. A imprensa tem sido a mais sensível das instituições da sociedade, pelo envolvimento com causas abraçadas ao estímulo do momento, como se ela tivesse a responsabilidade ética de monitorar a história. E tem, na prática, ainda que muitas vezes prefira servir a poucos, em detrimento do interesse de muitos. Cada jornal, com seu perfil, permite avaliar o grau de participação no debate público, abrindo espaço para demandas que provém das comunidades, ou dos grupos organizados, ou pautando temas que ganham a atenção do leitorado, e ainda correm soltos na oralidade, com a força das opiniões, muitas vezes apaixonadas, como se viu, recentemente, em São Paulo, quando a notícia da morte de uma criança comoveu a população, agitando manifestações de rua, cobrando justiça. Os jornais sergipanos guardam, invariavelmente, um repertório esclarecido de colaborações, assinadas ou não, de grande valor estético, que não fica a dever nada quando comparado com a imprensa do eixo dominante do centro, notadamente o Rio de Janeiro e São Paulo, nem mesmo ao gigantesco Diário de Pernambuco, que desde 1826 faz do Recife uma “cabocla civilizada”, para usar palavras de Tobias Barreto, sergipano genial pernambucanizado de 1862 a 1889, freqüentador assíduo das páginas dos jornais recifenses, e ele próprio editor de pequenas folhas, como Um sinal dos tempos, O Desabuso, Contra a hipocrisia, O Martelo, O Escadense, dentre outras, de circulação restrita, para escapar dos rigores da lei que regulava a imprensa, e sem faltar um pequeno periódico em língua alemã – Deutscher Kaempfer, editado pela primeira vez em 2 de agosto de 1875. Para exemplificar todo o século XIX se pode tomar o Correio Sergipense, de 1838 a 1866, nas fases de São Cristóvão, de 1838 a 1855, e na de Aracaju, de 1855 a 1866, quando deixou de circular. Além de marcar a história da imprensa como divulgador do noticiário público, oficial, do Governo e da Assembléia, o Correio Sergipense era produzido na Tipografia Provincial, criada para este fim,em 1838, causando surpresa ao Imperador Pedro II que não sabia que os jornalistas eram pagos com dinheiro público. Evidentemente que existem outros jornais e muito bons jornalistas e colaboradores em jornais editados no século XIX, tanto no interior, como é o caso dos republicanos de Laranjeiras, como na capital, onde penas brilhantes surgiram e alimentaram o hábito saudável e fundamental da leitura e trataram de questões essenciais, fundantes de uma nova sociedade. É depois da República, contudo, que cresce o número de articulistas, fazendo e deixando nomes e perfis, com os quais será possível escrever uma boa história da imprensa em Sergipe. Prado Sampaio, Manoel dos Passos de Oliveira Teles, Clodomir Silva, Ávila Lima, Gumercindo Bessa, Artur Fortes, Carvalho Lima Júnior, Ítala de Oliveira, João Passos Cabral, Omer Mont´Alegre, Mário Cabral, Paulo Costa, José Maria Fontes, Carlos Garcia, Nunes Mendonça, Orlando Dantas, desembocando numa geração mais nova, atualizada, que tem sabido manter em alta a cotação do texto jornalístico, ornado pelo talento e erudição, como Luiz Eduardo Costa, neto e filho de jornalista (Costa filho e Paulo Costa), Ivan Valença, outro decano, que além de tudo é exímio crítico de cinema, Célio Nunes, que é também ficcionista, Ezequiel Monteiro, que voltou, há pouco tempo, a ocupar, com a velha empolgação dos tempos da Gazeta de Sergipe e do Suplemento do Jornal do Brasil, uma parte do Jornal da Cidade, onde Marcos Cardoso pontifica, e onde Clóvis Barbosa de Melo revela um eloqüente discurso semanal. Jorge Carvalho, Luciano Correia, Diógenes Brayner, Gilvam Manoel, Jozailto Lima, são vultos estrelares no jornalismo sergipano, que mantém a tradição de inteligência da colaboração midiática. E estão aí, nas redações, os novíssimos, e um deles chama a atenção pelo texto traçado como um ponto de bordado, trabalhado na linguagem como uma jóia de ourives, que assina Rian Santos. Foram muitos, também, os jornais estudantis, do Ateneu, do Tobias Barreto, do Jackson de Figueiredo, da Escola de Comércio Conselheiro Orlando, que revelaram figuras como Joel Silveira, Armindo Pereira, Paulo Carvalho-Neto, e Arivaldo Fontes, falecido há poucos dias, no Rio de Janeiro, depois de construir uma rica biografia de militar, professor e escritor, sempre ligado, pela intimidade, com Sergipe e sabia, como poucos, acompanhar a vida intelectual sergipana. Os jornais estudantis, desde os tempos de Péricles Muniz Barreto e do Século XX, fizeram furor e deixaram uma lição pedagógica, que é um legado a ser tomado exemplarmente pelas gerações atuais que estão nas salas de aulas. De certo modo professores e alunos souberam, por muitas décadas, contribuir com a cultura nesta pequena terra de homens ilustres. (continua)
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