A ESCOLA AMERICANA

A Universidade Federal de Sergipe, através do Núcleo de Pós Graduação em Educação e do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação, e a FAP – Fundação de Apoio à Pesquisa de Estado de Sergipe, lançam mais um volume da Coleção Educação é História, o nº 4, desta vez o livro A Escola Americana – Origens da Educação Protestante em Sergipe (1886-1913), de autoria de Ester Fraga Vilas – Boas Carvalho do Nascimento (Aracaju: UFS/FAP, 2004). O lançamento, dentro da VII Semana de História, dá continuidade a um esforço que ganha corpo e visibilidade, projetando estudantes, professores, pesquisadores e a instituição onde atuam. Na conferência que fez em homenagem a Maria Thétis Nunes o professor e intelectual paraibano José Octávio de Arruda Melo, do Grupo José Honório Rodrigues, observou a tendência sergipana pelos estudos da educação, especialmente no sentido renovador dos movimentos pedagógicos. É uma verdade, que tem permanecido encoberta, ainda que os livros de José Calasans, Nunes Mendonça e principalmente a História da Educação em Sergipe, de Maria Thétis Nunes sejam básicos e venham, há anos, despertando o interesse dos estudiosos. Mas é, sem qualquer dúvida, o Mestrado em Educação que dinamiza o esforço intelectual para compreender o processo educacional, que desde a criação do Liceu Sancristovense, do Ateneu, do Seminário Diocesano, da Escola Técnica de Comércio, das Faculdades de Direito e de Farmácia e Odontologia, no Governo Graccho Cardoso, das Faculdades de Economia e de Química, de Direito e de Filosofia, todas no Governo José Rollemberg Leite até a instituição, em 1967, da Universidade Federal de Sergipe, ocorre em Sergipe. A história da educação tem tido vários olhares, convergentes para o centro irradiador das práticas pedagógicas e dos sistemas de ensino, a partir da presença das ordens religiosas – os Jesuítas, com seu Colégio no Tejupeba, os Carmelitas, Beneditinos, Franciscanos, Oratorianos – donatários do saber de conversão que marca a vida sergipana, Nem mesmo a expulsão dos inacianos, em 1759, retirou do controle religioso a formação dos sergipanos. As Cadeiras de Latin e de Retórica serviam para atrair e preparar os jovens para a carreira eclesiástica. O Império alargou o ensino, mas o manteve com cheiro forte de incenso. Vários episódios em pontos distintos do Brasil ecoaram em Sergipe, mediados pela presença de estudantes sergipanos nos centros metropolitanos do País, como Recife que foi sede da propagação de novas idéias que sacudiam o mundo, dentre elas as científicas, que corriam livres, ou enfeixadas em sistemas filosóficos, propondo novos conceitos para o lastro cultural até então vigente. Estudantes de Direito, da Faculdade do Recife, faziam dos corredores uma vitrine de novidades, revisando o saber estabelecido, maçons das diversas lojas, defendiam as liberdades do século das luzes, e participavam da campanha abolicionista e da propaganda republicana, missionários norte americanos chegavam com a fé reformada. A discussão entre membros da hierarquia católica e seus partidários, com os protestantes, tendo como pomo da discórdia as edições da Bíblia, ganharam destaque no Diário de Pernambuco e noutros jornais pernambucanos e nordestinos. A polêmica entre o general Abreu e Lima, que usava o pseudônimo de Cristão Velho, e o cônego Joaquim Pinto de Campos foi ruidosa e repercutiu tanto que ao morrer o velho revolucionário socialista não teve sepultura, sendo enterrado no Cemitério dos Ingleses, do Recife. Dom Vital proibiu que os católicos fossem maçons e patrocinou o que ficou conhecido como “Questão Religiosa”. Tão combatido quanto a ciência de Darwin e de Haeckel, o Protestantismo tomou corpo nos embates da segunda metade do século XIX. A ação intelectual de Tobias Barreto repercutia entre os estudantes de Direito, em Pernambuco, e de Medicina, na Bahia. Um deles, Domingos Guedes Cabral, reprovado na tese sobre as Funções do Cérebro, mudou-se para Sergipe, para clinar em Laranjeiras, onde assumiu sua condição de livre pensador, evolucionista, como Silvio Romero, Felisbelo Freire, Fausto Cardoso, que transitavam pela cidade sergipana agitando o povo em favor da República. Dois missionários dos Estados Unidos pregaram em Sergipe e encontraram em Laranjeiras as condições ideais para a fundação do primeiro templo protestante, em 1884, e do segundo, no povoado Lavandeiras, que hoje pertence a Nossa Senhora do Socorro. É neste cenário que é instalada a Escola Americana, objeto das pesquisas e dos estudos de Ester Fraga Vilas – Boas Carvalho do Nascimento, no recorte temporal que vai de 1886 até 1913, tempo bastante para fixar uma presença que tem contexto rico, precedentes e desdobramentos, que permitem ampliar o foco para um amplo capítulo da história religiosa, cultural e educacional do Brasil, com ênfase no Nordeste e especificamente em Sergipe. O livro aborda, exaustivamente, a presença protestante, os confrontos, preconceitos, dificuldades, êxitos e historia, particularmente, o ensino tendo a Escola Americana como exemplo. São três capítulos, em mais de 200 páginas de textos bem elaborados, concatenados, ricos de informações e bem abonados, com Notas oriundas da documentação que a autora localizou, em suas pesquisas, além das fontes bibliográficas, depoimentos, que completam a obra: l. O Protestantismo no Brasil – Primeiras incursões, Os condicionamentos, Instalação do protestantismo no Brasil e Os presbiterianos; 2 – Roteiros Traçados – Laranjeiras, lócus inicial da presença protestante em Sergipe, Os presbiterianos em Sergipe; 3 – Fincando Raízes: A Escola Americana de Sergipe, Educação como estratégia missionária, Educação presbiteriana em Sergipe. O livro de Ester Fraga Vilas – Boas Carvalho do Nascimento, resultante da sua Dissertação de Mestrado, é uma contribuição singular, que dilata a bibliografia da história da educação em Sergipe e recompõe parte da própria história cultural de Sergipe, sempre surpreendente. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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