Diego Leonardo Santana Silva
Doutorando em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/UFRJ), com bolsa Capes.
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
E-mail: diego@getempo.org
O campeonato europeu de futebol de 2020 que está sendo realizado em 2021 vem apresentando uma série de partidas emocionantes, com público nos estádios e grande audiência. Porém, as disputas no período dessa competição não se limitam às quatro linhas como foi o caso do jogo entre Alemanha X Hungria que acabou empatado por 2×2 e marcou a eliminação dos húngaros da competição.
Para entendermos a importância simbólica dessa partida, devemos levar em consideração que a Hungria atualmente é governada pela extrema-direita. Sendo seu líder, Viktor Orbán, um entusiasta das partidas de futebol, o governo húngaro acabou permitindo público total nos estádios. Quem assistiu aos jogos dos húngaros pode ter observado a presença de torcedores com camisetas pretas. Muitos deles são pertencentes a um grupo de torcedores ultras chamado Brigada Cárpata, que, entre outras coisas, são contrários ao ato de ajoelhar antes dos partidas em protesto contra o racismo e ostentando cartazes contra a comunidade LGBTQIA+.
Recentemente, a Hungria aprovou uma polêmica legislação que afirma ter como objetivo proibir conteúdo LGBTQIA+ em propagandas e nas escolas de uma série de conteúdos que supostamente estariam influenciando a pornografia e questões de sexualidade e gênero. O fato de essa legislação ter sido aprovada em junho, mês do orgulho LGBTQIA+, foi interpretado por organizações em defesa dos direitos humanos como uma provocação e o entusiasmo dado pelo governo húngaro ao futebol seria uma forma de mobilizar a extrema-direita no país visando às eleições em 2022.
Tal polêmica se insere na série de medidas ultraconservadoras adotadas pelo governo húngaro nos últimos anos e causou reações fora, mas também dentro, do mundo do futebol. Uma das mais simbólicas até aqui aconteceu na partida contra Portugal ocorrida na Allianz Arena, em Munique no último sábado, dia 19 de junho, o capitão da seleção alemã, o goleiro Manuel Neuer, ostentou uma braçadeira com um arco-íris. Enquanto isso, o conselho legislativo de Munique pediu que o belo estádio do Bayern de Munique ficasse iluminado com as cores do arco-íris em homenagem à comunidade LGBTQIA+ húngara. Sugestão que não foi acatada pela UEFA, entidade máxima do futebol europeu.
O uso do futebol como veículo de propaganda nacionalista não é uma novidade; o que faz do apelo da extrema-direita húngara ao esporte como instrumento de mobilização algo que não surpreende. Porém o futebol também pode transmitir outras mensagens como a da empatia e a da resistência àqueles que assombram os tempos difíceis em que vivemos. A Eurocopa continuará sendo jogada por mais alguns dias, porém a luta contra a intolerância, o ódio e o preconceito é algo a ser feito a todo momento.