Almocei nesta quinta-feira (26/03) com Jouberto Uchoa (foto), Reitor da Universidade Os fatos estavam a demonstrar que abrir uma escola de medicina neste país apenas atendia a interesses mercantis e ao desejo de lideranças políticas, em detrimento da necessidade social. Quando na década de 60 os médicos começaram a se mobilizar contra a exploração do seu trabalho pelos intermediadores mercantis, certo ministro de Estado disse: “Providenciaremos a formação rápida e efetiva de tantos deles que, logo, todos virão de joelhos procurar trabalhar a qualquer preço.” Dito e feito, a história revelou que de 1961 a 1970, ou seja, em apenas 9 anos, foram criadas 45 novas escolas, ou seja, cinco faculdades a cada ano, uma verdadeira “explosão” de cursos médicos, para atender a interesses políticos regionais. Para que o leitor tenha uma idéia comparativa do que isso representa, de 1808 ( quando surgiu a primeira faculdade de medicina criada no Brasil, em Salvador ) a 1960, portanto, em 152 anos, foram criadas 22 escolas médicas, isso é, abria-se uma nova faculdade a cada 7 anos. Em 2007, tínhamos 167 escolas. Hoje ( até o fechamento dessa matéria, às 23h31m de 26 de março de 2009), apenas dois anos depois, temos 176 escolas de medicina, oferecendo um pouco mais de 17 mil vagas. Sabemos que a proliferação desordenada de faculdades dificulta o controle adequado do ensino médico e compromete a qualidade de seu produto: o médico. Por isso, as entidades nacionais passaram, a partir de determinado momento, a denunciar e procurar impedir a abertura de novas escolas. Lembro-me que em 1989, Antonio Celso Nunes Nassif, à época Presidente da Associação Médica Brasileira trouxe para Aracaju o 1º Fórum Nacional do Ensino Médico, cuja conferência de abertura foi feita pelo ilustre professor Clementino Fraga Filho, formado pela Bahia, mas que se destacou na medicina nacional. Do fórum, saiu consistente documento que foi entregue ao Ministro da Educação. Depois a coisa parou e os dirigentes seguintes das entidades médicas pecaram na generalização e não tiveram força política, apesar da coesão, para evitar o desastre. O quadro hoje mostra que as entidades falharam ao adotar estratégias inadequadas e infelizmente, a posição sectária delas trouxe prejuízos somente para Sergipe. Enquanto influências políticas possibilitaram a abertura indiscriminada de novas escolas por todo o país, o estado não teve a mesma sorte e tratamento, mesmo possuindo uma universidade privada com ampla e total condição de absorver um curso dessa magnitude. O jurista Saulo Ramos, em parecer abalizado, mostrou a sua preocupação com o problema quando disse que a educação não podia ser transformada, sobretudo nos cursos superiores, em simulacro diplomado. “ A sociedade deseja médico que saiba medicina, que se tenha preparado cientificamente para cuidar da saúde do povo e que não seja, pela precariedade do ensino improvisado na industrialização de diplomas, uma ameaça à vida do paciente; assim como o advogado mal formado é ameaça ao patrimônio e à liberdade individual; e o engenheiro, sem curso sério, é candidato a construir obras que desabarão.” Com apenas uma faculdade pública de medicina, fundada há 48 anos ( aliás, nem é mais Faculdade mas sim um simples Departamento), Sergipe é o estado da federação com menor número de escolas médicas ( Veja o quadro ). Seu processo seletivo chega a ser cruel e pela enorme dificuldade que têm no acesso à Universidade, os nossos jovens são obrigados a cursar faculdades privadas em outras e longínquas plagas desse país, com enormes sacrifícios financeiros e sócio afetivos às famílias. A UNIT já recebeu parecer favorável de funcionamento concedido pelo Conselho Nacional de Saúde, que percebeu o cumprimento das exigências, entre elas a relevância com base na demanda social e sua relação com a ampliação do acesso à educação superior, observados os parâmetros de qualidade, sua plena integração com o SUS, a disponibilidade de hospitais de ensino conveniados e a plena capacitação de seu corpo docente. Por tudo isso, a autorização do MEC para o funcionamento da Faculdade de Medicina da Universidade Tiradentes se impõe de imediato, para que cesse por definitivo a tremenda injustiça que se comete em nome da moralidade e da decência. Faço por fim um apelo. Que a nova escola médica que de descortina em Sergipe receba o tratamento elegante e apropriado de “Faculdade”, como por sinal é hoje a Faculdade de Medicina de Bahia, fundada há 201 anos e não uma simples e humilhante denominação de departamento. Para mais informações sobre os números das escolas médicas no Brasil, consulte o site www.escolasmedicas.com.br, criado e atualizado pelo meu fraterno e estimado amigo Antonio Celso Nunes Nassif, de quem fui fiel e dedicado colaborador e a quem a medicina brasileira tanto deve. Escolas Médicas no Brasil Estado Total de Escolas Vagas 1º ano São Paulo 31 3176 Minas Gerais 27 2797 Rio de Janeiro 17 2462 Rio Grande do Sul 11 1092 Santa Catarina 10 584 Paraná 9 812 Ceará 7 642 Paraíba 6 580 Bahia 6 460 Espírito Santo 5 500 Pernambuco 5 550 Rondônia 4 290 Tocantins 4 400 Distrito Federal 4 312 Pará 4 390 Piauí 4 362 Goiás 3 270 Amazonas 3 332 Mato Grosso do Sul 3 190 Rio Grande do Norte 3 262 Maranhão 3 250 Alagoas 2 130 Mato Grosso 2 208 Roraima 1 20 Acre 1 40 Sergipe 1 100 Total Geral 176 17211 Fonte: site Escolas Médicas no Brasil
Tiradentes, na tradicional reunião da Somese. Não descobri ainda que interesses estão obstaculizando a autorização para o início de funcionamento da Faculdade de Medicina da Unit. Existe a necessidade social, como está demonstrada, a entidade possui uma infra-estrutura modelar visível e constatável e acata pacientemente as exigências, mas a danada da autorização não sai. Quando tudo está se encaminhando, chegando a termo, de repente, não mais que de repente, mudam-se as regras do jogo, novas exigências são cobradas e a tal da autorização mais uma vez não sai. No entanto, outras instituições, sem condições estruturais e instaladas em regiões desprovidas de necessidade social são autorizadas a funcionar, em todas as partes do país, do Maranhão ao Piauí, de Minas a Tocantins, de São Paulo ao Rio Grande do Sul, no Brasil todo. Prof. Joubert Uchoa
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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