A guerra do REUNI.

De Brasília, onde estou curtindo o meu otium cum dignitati, estou a ler com um misto de tristeza, revolta e desencanto, o relato do Professor Josué Modesto dos Passos Subrinho, Magnífico Reitor da UFS, sobre a Guerra do Reuni, pelo site do Jornal da Cidade.

 

Estou a ver também no site do Jornal do Commércio de Pernambuco, e mais precisamente no blog http://ocupaufpe.blogspot.com, mantido pelos estudantes da Universidade Federal de Pernambuco, onde se pode contemplar ao vivo e em cores, cenas agressivas da ocupação por parte dos estudantes do prédio da Reitoria daquela Universidade, tolhendo o livre ir e vir de funcionários e professores.

 

Pelo relato público do Professor Josué no JC e pelo que se vê na cena filmada e divulgada, como supremo exercício da liberdade e da democracia, por pouco o Prof. Tadeu da UFPE e os professores da nossa UFS que estavam na reunião do CONEP, não apanharam dos estudantes enfurecidos.

 

Sim! Foi por pouco! Talvez na próxima manifestação, os alunos deixarão de lado as latas, os tambores, os megafones e os apitos e apliquem uma surra de manguar nos professores, por corretivo.

 

Sim, porque alguns professores de há muito estão a requerer tal corretivo.

 

Desde quando se emascularam num sindicalismo inconseqüente e irresponsável, e largaram a docência para se acomodar numa pusilânime trincheira paredista de medíocres “trabalhadores da educação”.

 

Medíocres porque não trabalham nem educam, e só chafurdam na lama e no excremento, como em toda trincheira obscura e mal cheirosa.

 

E o resultado está aí. Por que respeitar um “trabalhador de educação” que se quer simples obreiro e sem mérito, e não se faz docente?

 

E o filminho da invasão da UFPE mostra um professor sendo debochado como um simples “Seu Tadeu”, isto num ambiente universitário.

 

Mas o Professor Tadeu da UFPE, longe de outros daqui e de lá em ofídia e vilania, mostrou coragem, mostrou repulsa, sozinho e franzino, diante da desordem e da anarquia. Justamente quando muitos aviltam sua história e se apequenam em cota mais miúda que a própria estatura temendo bagunceiros e desordeiros.

 

E isto aconteceu também na reunião do nosso Conep. Sim, porque todas as manifestações ruidosas com muitos gritos, palavras de ordem e quebra-quebra, como foi o caso da nossa UFS e da UFPE, suscitam os interesses dos miúdos e dos pusilânimes que correm, batem palmas e se negam à corja repelir. Haja vista que 1/3 dos membros do Conep, botou o rabo de breu entre as pernas, fugiu da raia e da vaia, e se escafedeu, miudamente, bem menor, repito, que a dimensão da própria cota.

 

Talvez, em batalhas de zombarias como estas, alguém pudesse escrever, inspirado no Dezoito Brumário de Marx, ou em Victor Hugo gritando no pátio dos milagres da nossa UFS, que ali  havia uma invasão de excrescência e excremência, como houve no passado um Roberspierre le Grand, não houve ainda a história de um Roberspierre le petit, mas está querendo ali vingar por velhaca esperteza, um Roberspierre le pou; miúdo, muito miúdo, tanto quanto.

 

Mas deixemos os miúdos como o pou, voltemos à guerra do REUNI. Que é o REUNI? Um plano do governo federal para desenvolver as universidades públicas.

 

Esquecidas há quase três décadas por governos insensíveis à Universidade Pública, eis que o Governo Lula resolveu ampliá-la, aumentando os cursos e as vagas. O Ministério de Educação deu uma guinada de 180°, porque antes só se falava em reduzir as contratações docentes e a própria privatização das instituições. Agora, foram ampliados os cursos e inaugurados novos campi.

Mas, quando se fala em melhorar a Universidade Pública, surgem logo, contra tudo e contra todos, as notícias de que se trata de algum interesse obscuro americano ou da banca mundial.

 

E assim a canalha é convocada para em apitaço, repelir com estardalhaço e narizes de palhaço, todos os que querem, com seriedade e liberdade debater o plano proposto.

 

Enquanto isso, houve também a Guerra da rua de Itabaiana. Só porque outros estudantes, bagunceiros também, fecharam um trecho da rua de Itabaiana! Uma artéria de pouca importância para o tráfego de veículos, é verdade! Tanto que é de maior estima para desfiles, carreatas e procissões. Mas uma rua afeita a este tipo de manifestação recebeu exemplar repressão policial, como se fosse a linha vermelha no Rio de Janeiro, a Praça Celestial da China ou a Zeller Strasse em Frankfurt. Justamente a polícia do governador tirado a bacana, ledor de Habermas, Adorno, Marcuse, Horkheimer, Lukács e toda Escola de Frankfurt, líder crescido e nutrido na mesma bagunça, antes escolhida e hoje repelida. E hoje exímio empunhador de spray de pimenta.

 

Talvez, aplicando já o pensamento de Adorno segundo o qual “o humano estabelece-se na imitação: um homem torna-se um homem apenas imitando outros homens” a polícia de hoje imitando a do arbítrio deu o seu tom em afinação com a violência.

 

Pois bem! A polícia “frankfurtiana” rumou o cacete a torto e a direito, com direito a molho de pimenta nos olhos daquela mocidade, mais do que ruidosa e nada estudiosa. Só para abusar, com rima politicamente incorreta, em descrição mais-que-correta, da tal manifestação.

 

Quanto à bagunça da UFS, e enquanto os docentes permanecerem miúdos como piolhos escondidos em faixas negras, rotineiramente estendidas, campus à fora, pouco valerá ler Adorno, Jürgen Habermas, Hokeheimer, toda escola de Frankfurt, aí incluído Santo Inácio, o veneno que matou Sócrates, o racionalismo cartesiano, a pura des-razão Kantiana, o porco chovinismo de Shopenhauer e o dasein de Heidegger.

 

Porque o docente que não se respeita só merece isso mesmo; vaia, sobretudo, aquele que a tudo isso apóia, por covardia sendo exemplo.

 

Como não dizia Weber porque não viu, mas que estou a dizer porque estou a ver. E neste particular prefiro Theodor Adorno a Herbert Marcuse. Só para lembrar que estes dois sábios ficaram inimigos porque o primeiro resistira bravamente à invasão de sua sala de aula pelos estudantes belicosos de 1968 na Europa, enquanto Marcuse alisava e estimulava tal rebeldia. Uma rebeldia que sabemos hoje, quase quarenta anos depois, não levou a nada. Isto é: levou a muita cacetada, aqui e lá fora.

Friedrich Nietzsche em 1899, já doente, perto do fim.

Utilizando agora por final, a título de exemplo carroçal. De carroça, de carroceiro, de chicote e de abuso asnal; um exemplo para os que não se querem exemplo em boa estirpe.

 

Conta-se que a doença terminal de Friedrich Nietzsche, (outro filósofo alemão, este interessado nas angústias do ser e no além do homem) tornou-se irreversível quando este viu um carroceiro surrar um animal que caíra no meio da rua sem forças para arrastar a sua carga. O fílósofo despencara em pranto convulsivo abraçado ao animal, compadecido como se fora um seu irmão indefeso e as angústias do viver. Começava aí a sua decadência física e mental, em mal irreversível.

 

Mutatis mutanti, quando esta estudantada mal educada começa a querer chicotear os seus professores como o asno chorado por Nietsche, vêm em mim e em outros, lágrimas em réquiem pela desumanidade com que tratam a nossa Universidade.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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