A Homofobia do Mestre – Araripe Coutinho

O MESTRE EM DIREITO

E A HOMOFOBIA DO MESTRE

 

 

 

Araripe Coutinho

 

 

Imagine um mestre em direito, professor da Universidade Federal de Sergipe, contra o Projeto de Lei 122/2006 que considera crime práticas homofóbicas. Pois bem, ele existe. Chama-se Uziel Santana e discorreu em seu artigo, que ele chama de artigo jurídico, pérolas que dentre outras coisas chama o homossexual de “anormal”, “ditadura da minoria”, “colocando o aparato policial à serviço de um grupo restrito”(sic). E prossegue: “valores que vão de encontro ao que pensa a esmagadora maioria da sociedade brasileira que é, eminentemente, cristã e heterossexual”.

 

Isto, apesar de eu defender  com Voltaire, “o direito dele dizer o que pensa até a morte”, não é incitação ao crime e à intolerância? E vai mais longe o senhor mestre em direito “…e se o diretor da escola, sabendo disso, demite o professor homossexual, nesse caso, segundo estabelece o projeto, os dois(o pai da criança e o diretor podem ser presos e condenados.”

E não é para serem presos e condenados, não? Por acaso, o mestre em direito, professor de uma Universidade Pública, pago com nosso dinheiro, ao fazer parte de uma mesa examinadora para contratar um professor, ao ver que um dos concorrentes é homossexual, vai votar nele ou vai discriminá-lo, mesmo ele sendo o melhor, o mais bem preparado?

 

O que mais chama a atenção no artigo do senhor Uziel Santana, é como ele desconhece o estado de direito do próximo, avilta a Constituição Federal, mesmo a citando, de forma a pensar que todos nós somos idiotas. Não seria melhor, tirando os seus preâmbulos, citações de Abrahan Lyncoln e ressaltando: “que o Direito(sic), uma vez institucionalizado deve representar o padrão moral da maioria da sociedade’. Onde este senhor aprendeu Direito?

Qual o “leitmotiv”, para usar uma expressão sua, o leva a conduzir a sua homofobia, usando a filosofia, o direito e até a Constituição, para expor, na verdade, sua intolerância, seu fanatismo religioso, sua interna falta de visão do mundo.

 

Não seria mais honesto dizer: “viva os skinheads, vamos matar o veado do parque, bicha não é gente, o padre e o pastor estão certos em condenar a homossexualidade, meu filho não toma aula com bicha, pra que esse aparato policial, pra defender uns transviados? Será que não trocaríamos todo o seu texto só por este parágrafo?

 

Será que ainda temos que repetir com Chico Buarque “joga pedra na Geni, ela é boa de apanhar, ela é boa de cuspir. Maldita Geni.” Que concepção infantil, levou o mestre em direito a ter tanto ódio, a defender sua heterossexualidade desse jeito escamoteando,com tantos arrodeios, como se gays fossem contra projetos que proíbam homens de espancar as mulheres, pelo simples fato de não desejarem dormir com mulheres. Gays defendem a Lei Maria da Penha, contra os pulhas que espancam e amedrontam mulheres, gays são a favor do projeto-Lei que chamam de negro, negrinho as pessoas de cor negra. E o mestre em direito, não é contra esses projetos? Só é contra o que pune os agressores de gays?

 

Uziel Santana ainda chama a atenção em seu artigo para que o projeto que defende os homossexuais do preconceito e da violência, seja discutido com a sociedade. Mais? Como está mal informado o mestre em direito. Até chegar ao Senado Federal o projeto ultrapassou cérebros como o seu, pastores, padres, celibatários e uma prole de heterossexuais como o mestre. O mestre em direito é tão  (im)pertinente que chega a dizer que o que existe é uma heterofobia. Francamente, surtou. Por acaso o senhor mestre em direito, professor da UFS, tem algum parente gay, já teve algum irmão assassinado por ser homossexual, já teve algum conhecido que apanhou na cara, foi cortado, amarrado, demitido, como o mesmo cita em comparativo esdrúxulo?  O que pensa uma Universidade que tem um mestre com uma mentalidade dessas? E vai mais além na conclusão do seu texto: “onde vamos parar? Pois, nos termos que estamos, o normal virou anormal  e o anormal virou o normal.”

 

Estes termos ‘normal e anormal” não são usados desde década de 70, quando em 1973, a Associação Psiquiátrica Norte Americana (APA) confirmou a importância de nova pesquisa, retirando o termo homossexualismo do manual oficial que lista todas as doenças mentais e emocionais. Em 1975, a Associação de Psicologia Americana aprovou uma resolução apoiando esta decisão. As duas associações estimulam todos os profissionais de saúde mental a ajudarem a banir o estigma de doença mental que alguns profissionais e pessoas ainda associam à orientação sexual.

 

Paralelamente ao crime e violência que o Brasil está entregue, onde negros, homossexuais, mulheres, desempregados e discriminados de toda sorte vivem à margem, corre um pensamento nazista disfarçado, que está espalhado por Instituições públicas e privadas, em busca da beleza americana ideal, fruto do nosso neo-colonialismo onde negros não tinham nome, nem alma, e que ainda hoje vivem no sub-emprego e na escravidão oficializada, avalizando a pedofilia de padres em nome de Jesus e a morte de Judeus em nome de Alá. Preocupa-nos pensamentos hitlerianos camuflados de “modus operandi,”, forjados em alguma guerrilha íntima da alma, onde “Deus um dia, vomitará os mornos.”

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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